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Bolsa cai e dólar sobe com investidores ainda em cautela à espera do Fed

Mercado acredita em manutenção de patamar de juros americanos nesta quarta (20), mas ainda há dúvidas sobre próximas decisões

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São Paulo

Numa sessão volátil, a Bolsa brasileira registrou mais um dia de queda e perdeu os 118 mil pontos nesta terça-feira (19), acompanhando o exterior, enquanto o dólar subiu, com investidores negociando em cautela antes da decisão sobre juros nos Estados Unidos desta semana.

A queda na Bolsa foi liderada pelas "small caps", empresas menores e mais ligadas à economia doméstica, num cenário de alta dos juros futuros no Brasil. O setor financeiro também pressionou os negócios, e o Ibovespa fechou em baixa de 0,37%, aos 117.845 pontos.

As curvas de juros brasileiras acompanharam a subida dos rendimentos dos títulos americanos, que, por sua vez, foram impactados pela expectativa sobre a reunião do Fed (Federal Reserve, o banco central americano).

Nesse cenário, o dólar também ganhou força e subiu 0,36%, terminando o dia cotado a R$ 4,873.

Segundo a ferramenta FedWatch, do CME Group, o mercado americano vê 99% de chance de manutenção da taxa de juros americana em 5,50% nesta quarta. Mais do que isso, sustentando um ambiente benigno no mercado internacional, as probabilidades de outra pausa em novembro e dezembro são de cerca de 60%.

Caso esse cenário se confirme, a tendência é o dólar se desvalorizar globalmente, uma vez que os rendimentos dos títulos americanos ficariam menos atraentes quando comparados aos retornos financeiros oferecidos em países de juros mais altos, elevando a demanda por moedas mais arriscadas, como o real.

Nota de dólar
Nota de dólar - Dado Ruvic/Reuters

Apesar disso, ainda há dúvidas no mercado sobre o futuro da política de juros dos Estados Unidos, especialmente num cenário de riscos de alta da inflação à vista, como aponta Leandro Petrokas, sócio da Quantzed.

"Parte do mercado ainda acha que o Fed vai ter que subir juros em breve, principalmente por conta da alta recente do petróleo e dados de atividade econômica em níveis elevados, que geram emprego e renda e, consequentemente, mais demanda por produtos e serviços", afirma Petrokas.

Cristiane Quartaroli, economista do Banco Ourinvest, diz que o sentimento de cautela do mercado foi o principal motivador para a alta do dólar nesta terça.

"O mercado ficou de lado, mas sem nenhum motivo expressivo, até porque a agenda de indicadores estava esvaziada. Foi um comportamento de cautela, pois ainda há dúvidas sobre o que o Fed vai fazer [com os juros americanos]", explica a economista.

No mercado local, investidores também aguardam o desfecho da reunião do Copom (Comitê de Política Monetária), que deve anunciar na quarta (20) uma redução de 0,50 ponto percentual na Selic (taxa básica de juros do Brasil).

Embora juros mais baixos no Brasil tendam a prejudicar o real, muitos especialistas em câmbio têm dito que a política monetária seguirá em patamar restritivo o suficiente para sustentar a moeda local mesmo com o início do afrouxamento pelo BC.

"Apesar do IPCA menor do que o esperado [em agosto], o Copom provavelmente não acelerará os cortes de juros esta semana, uma vez que as expectativas de inflação de longo prazo continuam acima da meta e o crescimento continuou a surpreender positivamente", avaliou o Citi em nota.

"Além disso, os termos de troca brasileiros continuam a sua trajetória positiva à medida que os preços das commodities saltam, dando mais apoio ao real."

Investidores também repercutiram nesta terça a divulgação do IBC-Br, índice de atividade econômica do Banco Central, que veio melhor que o esperado pelo mercado e apontou ganho de força da economia.

Em julho, o índice subiu 0,44% em julho, uma aceleração em relação ao índice de junho, que sofreu uma brusca revisão para um crescimento de 0,22%, de uma alta de 0,63% informada antes.

João Savignon, chefe de pesquisa macroeconômica da Kínitro Capital, aponta que a alta do IBC-Br se deu principalmente alta do comércio varejista e dos serviços, enquanto a produção industrial mostrou recuo no período.

"O número segue compatível com a leitura de uma atividade econômica resiliente no início do terceiro trimestre, a despeito do nível de aperto monetário e da dissipação dos efeitos da supersafra desse ano", afirma Savignon.

Apesar da alta, o economista afirma que ainda espera uma desaceleração gradual da atividade econômica ao longo do segundo semestre, mas em ritmo mais lento que o esperado pelo mercado.

Já Denis Medina, economista e professor da FAC-SP, destaca que o resultado divulgado hoje mostra que a atividade econômica está num ritmo acima das expectativas e pode surpreender positivamente.

"O índice de hoje é uma notícia positiva, mostrando que a atividade econômica está um pouco acima das expectativas, o que pode surpreender no final do ano. A expectativa de crescimento do PIB para 2023 começou bem baixa e hoje já passa de 2,5%. Temos boas perspectivas para este ano", diz Medina.

Após a divulgação do IBC-Br, as curvas de juros futuros, que embutem as expectativas sobre a Selic, registraram alta, acompanhando os títulos americanos. Os contratos com vencimento em janeiro de 2025 iam de 10,43% para 10,49%, enquanto os para 2027 saíam de 10,34% para 10,44%.

Dois profissionais ouvidos pela Reuters afirmaram que os números do IBC-Br acabaram por não influenciar a curva de juros brasileira. Segundo um deles, a revisão para baixo do dado de junho acabou anulando eventual efeito da alta de julho.

Com isso, os rendimentos dos títulos dos EUA foram o principal catalisador para a alta dos juros futuros no Brasil, motivados justamente pelas dúvidas sobre as próximas decisões do Fed e pela alta do petróleo, que é um dos maiores riscos para a inflação americana neste ano.

Nesse cenário, as "small caps", empresas menores e mais ligada à economia doméstica, lideraram as perdas do dia. O maior tombo da sessão foi do GPA (7,35%), também impactada por um corte de preço-alvo feito pelo Bank of America, enquanto Gol e Yduqs também apareciam entre as principais baixas. Já o índice da B3 que reúne essas companhias caiu 0,95%.

"São ativos sensíveis ao comportamento da curva de juros, sendo que GPA e Gol são relacionados ao consumo interno, e Totvs é uma tech, que historicamente negocia a múltiplos altos. Com a alta dos juros futuros, essas ações acabaram sendo penalizadas", afirma Petrokas, da Quantzed.

O setor financeiro também fez pressão no Ibovespa, tendo como principal baixa o Itaú, que caiu 0,84% e ficou entre os papéis mais negociados da sessão. Outros bancos, como Bradesco e BTG Pactual, acompanharam o movimento de queda, e o índice financeiro da Bolsa recuou 0,84% nesta terça.

Já as empresas ligadas ao petróleo, que teve alta no exterior, foram o principal ponto de sustentação do índice. A Petrobras e a PetroRio, por exemplo, subiram 0,41% e 0,99%, respectivamente, e figuraram entre as mais negociadas da sessão.

A Vale, por sua vez, terminou o dia em leve alta de 0,11%.

Nos EUA, os principais índices de ações caíram também impactados pelas especulações sobre juros no país. O S&P 500, o Dow Jones e o Nasdaq recuaram 0,22%, 0,31% e 0,23%, respectivamente.

Nesta terça, o pregão americano foi marcado pelo IPO (oferta pública inicial de ações) da Instacart, que estreou na Nasdaq com valorização de 12%, numa sinalização positiva para empresas menores de tecnologia dos EUA.

A Maplebear Inc., controladora da Instacart, foi avaliada em US$ 9,9 bilhões na segunda-feira (18) depois que seu IPO foi precificado em US$ 30 por ação, no topo de sua faixa de preço indicada.

Com Reuters

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