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Bolsa tem forte alta e dólar cai com PIB melhor que o esperado no segundo trimestre

Otimismo no exterior também impulsiona negócios locais

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São Paulo

A Bolsa brasileira teve forte alta de 1,85% nesta sexta-feira (1°), terminando o dia aos 117.892 pontos após a divulgação do PIB (Produto Interno Bruto) do segundo trimestre de 2023, que superou as expectativas do mercado, e com o exterior favorável a ativos de risco. Com o resultado, o índice acumulou alta semanal de 1,77%.

Já o dólar registrou queda moderada, pressionado principalmente por dados de mercado de trabalho nos Estados Unidos que corroboraram apostas de uma pausa nos juros no país. A moeda fechou cotada a R$ 4,939, com desvalorização de 0,21%, mas alta acumulada de 1,32% na semana.

Nesta manhã, o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) divulgou que o PIB do Brasil cresceu 0,9% no segundo trimestre deste ano em relação aos três meses anteriores.

O número representa uma desaceleração em relação ao crescimento registrado nos três primeiros meses do ano, quando o resultado foi puxado por um desempenho do agronegócio acima das projeções.

Mesmo assim, o desempenho foi melhor que o esperado pelo mercado. Segundo a agência Bloomberg, analistas de instituições financeiras e consultorias estimavam avanço de 0,4% na comparação com o primeiro trimestre e de 2,7% em relação ao mesmo período do ano passado.

Ricardo Faria, sócio da Legend Investimentos, destaca o resultado do consumo das famílias no PIB do segundo trimestre pela ótica da demanda. O item subiu 0,9% de abril a junho frente ao período imediatamente anterior.

"Apesar da política contracionista, o crescimento da economia tem sido sustentado pela renda, não apenas pelos programas de transferência do governo, como também pelo mercado de trabalho, que tem surpreendido favoravelmente", afirma Faria.

Notas de dólar - Dado Ruvic - 17-Jul-2022/Reuters

O operador de renda variável Gabriel Mota, da Manchester Investimentos, afirma que o resultado do PIB surpreendeu positivamente o mercado. Ele alerta, porém, que o crescimento maior que o esperado pode diminuir chances de um corte maior na Selic (taxa básica de juros) neste ano, que já vem sendo alvo de apostas entre investidores.

"A inflação mais controlada e uma atividade econômica um pouco mais fraca sugeriam uma possível redução mais forte [na Selic], e já previa-se que um corte de 0,75 ponto poderia ser feito. Com o PIB mais forte, dificilmente vamos ver essa aceleração na queda da taxa de juros. É fato que ela vai continuar caindo, mas muito provavelmente ao ritmo de 0,50 ponto", diz Mota.

Os contratos de juros futuros, que embutem as expectativas do mercado sobre os próximos passos da política de juros, tiveram alta após a divulgação do indicador. A curva para 2025 saiu de 10,52% para 10,58%, enquanto as para 2027 foram de 10,34% para 10,36%.

Já Dierson Richetti, sócio da GT Capital, afirma que a desaceleração no crescimento da economia pode aumentar a pressão no governo para cortes de gastos.

"Com essa queda no crescimento do PIB, que já era esperada, o mercado ficará atento ao debate fiscal, principalmente aos gastos públicos. O governo não propôs nada sobre cortes na máquina pública, e isso deixa o mercado insatisfeito. Acredito que teremos uma pressão maior nessa linha", diz Richetti.

O resultado do PIB do segundo trimestre desencadeou uma série de revisões para cima das projeções para o indicador neste ano. O Goldman Sachs, por exemplo, passou de 2,65% para 3,25% sua previsão para o crescimento do PIB em 2023.

"Esperamos que a atividade seja beneficiada por estímulos fiscais [transferência de renda] e expansão da massa salarial. No entanto, elevados níveis de endividamento das famílias e a incipiente reviravolta no ciclo de crédito podem gerar ventos contrários para a atividade nos próximos trimestres", afirma Alberto Ramos, diretor de pesquisa macroeconômica do Goldman para a América Latina.

Outros bancos e casas de análise, como Guide Investimentos, XP Investimentos, Órama e Banco Master, alteraram ou sinalizaram que devem aumentar suas projeções para em torno de 3% de crescimento.

Sobre o resultado divulgado nesta sexta, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que o número foi uma surpresa positiva e que espera que a economia brasileira cresça 3% neste ano.

Alívio nos EUA e na China beneficia ativos de risco

No exterior, o clima também foi de otimismo, o que impulsionou os ativos locais.

O Departamento do Trabalho dos Estados Unidos divulgou que a taxa de desemprego aumentou em agosto, e os salários tiveram crescimento moderado, o que aponta desaceleração do mercado de trabalho americano e reforça expectativas de que o Fed não deve aumentar as taxas de juros do país em sua próxima reunião.

"Os sinais de que a atividade está finalmente respondendo ao aperto na política monetária têm sido celebrados, e os movimentos nos mercados estão se ajustando nessa direção. O enfraquecimento da economia, que em outros contextos seria recebido negativamente, tornou-se algo positivo na esperança de que os juros possam parar de crescer", diz Danilo Igliori, economista-chefe da Nomad.

Igliori afirma, porém, que a próxima decisão do Fed sobre juros ainda está em aberto, citando que o mercado de trabalho americano ainda está bastante forte e a atividade econômica, robusta.

"Entendo as posições majoritárias dos analistas, mas tenho insistido que ainda acredito que a decisão do Fomc [comitê de política monetária dos EUA] em setembro ainda não está dada", diz o economista.

Na China, o governo intensificou medidas para estimular a economia do país, com os principais bancos do país abrindo caminho para novos cortes de juros e expectativas sobre novas ações, o que diminuiu temores do mercado sobre a desaceleração da China.

Como parte das medidas de apoio, as autoridades chinesas também reduziram o montante de fundos que as instituições precisam manter em reservas cambiais. As medidas animaram os investidores, e analistas disseram que elas devem evitar uma nova desaceleração no setor imobiliário.

Nesse cenário, o Ibovespa operou em forte alta ao longo do dia impulsionado pela Vale, que subiu 5,71% com as notícias positivas sobre a China e a alta do minério de ferro no exterior. A empresa também foi beneficiada por uma elevação da recomendação de compra de suas ações pelo JPMorgan.

A Petrobras também foi uma das principais altas, registrando ganho de 2,12% em suas ações preferenciais e de 3,35% nas ordinárias em dia de alta do petróleo no exterior.

No câmbio, o desempenho do dólar ante o real foi afetado pelo resultado do PIB.

"Esse resultado é favorável ao fortalecimento do real, porque mostra um dinamismo melhor do que o esperado na economia brasileira, fortalece a confiança dos investidores num bom desempenho dos ativos brasileiros e contribui para a atração de investimentos", disse Leonel Mattos, analista de inteligência de mercado da Stonex.

Os dados de emprego dos EUA, porém, fizeram a moeda americana cair em ritmo mais forte, além de um movimento de correção após disparada registrada na quinta (31).

Além disso, os índices americanos registraram alta com o otimismo sobre a política monetária no país. O S&P 500 e o Dow Jones subiram 0,18% e 0,33%, respectivamente, enquanto o Nasdaq permaneceu estável.

Com Reuters

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