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Fundos derivativos aumentam apostas contra títulos do governo argentino

Investidores esperam mais fraqueza antes das eleições no próximo mês

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Mary McDougall
Londres | Financial Times

Os fundos de hedge aumentaram as apostas contra os títulos da Argentina, à medida que a ascensão do candidato radical de direita, Javier Milei, provocou temores nos investidores de que o país eleja um líder que terá dificuldades para governar no meio de uma crise econômica.

O valor total dos títulos argentinos emprestados pelos investidores para apostar na queda dos preços aumentou 65% desde que Milei, um autodenominado "anarcocapitalista", venceu as eleições primárias no mês passado, antes das eleições presidenciais em outubro.

Parlamentar e presidenciável argentino pela La Libertad Avanza Alliance, Javier Milei, fala durante evento sobre cidades em Buenos Aires em 24 de Agosto. Milei é um homem branco de cabelos desgrenhados. Veste terno preto, camisa cinza e gravata azul.
Parlamentar e presidenciável argentino pela La Libertad Avanza Alliance, Javier Milei, fala durante evento sobre cidades em Buenos Aires em 24 de Agosto - Luis Robayo/AFP

Seus planos de cortar radicalmente os gastos públicos e dolarizar a economia em dificuldades abalaram os mercados cambiais e de renda fixa do país. O valor das posições a descoberto contra obrigações argentinas emprestadas por bancos de custódia internacionais é atualmente de US$ 41 milhões (R$ 201,6 milhões), um aumento acentuado em relação aos US$ 25 milhões (R$ 122,9 milhões) antes da votação, em meados de agosto, conforme dados da S&P Global Market Intelligence.

Embora os números sejam pequenos em comparação com o valor global da dívida argentina, o aumento ocorre apesar do fato de os títulos já serem negociados num ambiente de profundas dificuldades.

A cautela dos investidores internacionais surge após um período de turbulência para a instável economia da Argentina. A inflação está acima dos 113%, as reservas cambiais atingiram níveis perigosamente baixos e o peso perdeu mais de metade de seu valor face ao dólar nos últimos 12 meses.

"Dada a terrível situação macroeconômica da Argentina, não há espaço para erros", disse Alejandro Arevalo, chefe de dívida de mercados emergentes da Jupiter Asset Management.

Ele acrescentou que os investidores estão preocupados com a dificuldade que Milei teria na implementação de políticas de reforma tão necessárias sem uma maioria no Congresso ou o apoio dos poderosos sindicatos argentinos, bem como com os riscos de execução com Milei, um líder inexperiente e radical.

"A questão não é tanto se as reduções propostas nos gastos públicos irão desencadear protestos sociais, mas sim como Milei reagirá a esses protestos", disse Arevalo.

Os investidores dizem que a candidata mais favorável ao mercado é a direitista mais moderada Patricia Bullrich, que também propõe um programa de consolidação fiscal. Embora Milei tenha dito que cortaria drasticamente os gastos do governo, sua posição levantou preocupações sobre a viabilidade das propostas.

"O plano de dolarização do principal candidato, Javier Milei, é radical e problemático, e não está claro se é alcançável ou vale a pena", disse Paul Greer, gestor de dívida de mercados emergentes e carteira cambial da Fidelity International. "O mercado terá grande dificuldade em lidar com isso, se ele tentar."

O resultado das eleições primárias também prolongou um período de paralisia política. Com o eleitorado dividido aproximadamente em três entre os eleitores de Milei, o principal partido de centro-direita e os peronistas populistas em exercício, as eleições de outubro estão por um fio, e analistas dizem que um segundo turno em novembro é quase certo.

Os investidores estão preocupados com o que poderá acontecer na Argentina até novembro, uma vez que a desvalorização da taxa de câmbio coloca ainda mais pressão sobre o problema da inflação crescente do país.

"Uma situação terrível em curto prazo provavelmente irá se tornar ainda mais terrível", disse Peter West, consultor econômico da EM Funding. "Não estou prevendo que isso aconteça, mas há uma chance de a Argentina cair na hiperinflação –a inflação mensal provavelmente estará na casa dos dois dígitos nos próximos meses."

O preço dos títulos argentinos em dólar caiu até 15% imediatamente depois de Milei ter obtido mais de 30% dos votos em 13 de agosto, e o valor do peso nas taxas de câmbio paralelas diminuiu. O banco central respondeu rapidamente, desvalorizando sua taxa de câmbio oficial em até 18%, para 350 pesos por dólar, o que ajudou os títulos a recuperar parte das perdas.

A taxa de swap blue-chip, uma taxa de câmbio flutuante para investidores internacionais que compram ações e títulos, continuou a enfraquecer, chegando a mais de 780 pesos por dólar na sexta-feira (1).

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

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