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'Bilionária do ferro', mais rica da Austrália investe no lítio e enfrenta processos de familiares

Australiana Gina Rinehart busca expandir seus negócios de olho na energia verde

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Harry Dempsey Nic Fildes
Londres e Sydney (Austrália) | Financial Times

Gina Rinehart passou três décadas transformando a empresa problemática que herdou de seu pai em um império empresarial em expansão, com o minério de ferro como sua força motriz, enfrentando controvérsias sobre as mudanças climáticas ao longo do caminho.

Agora, a pessoa mais rica da Austrália mira o lítio, um metal crucial nas baterias de carros elétricos que será fundamental na corrida para reduzir as emissões globais.

A empresa americana Albemarle desistiu neste mês de concluir a compra da Liontown Resources, produtora australiana de lítio, por US$ 4,2 bilhões, citando "complexidades crescentes" na transação, depois que a bilionária de 69 anos adquiriu uma participação de 19,9% na Liontown.

Gina Rinehart posa com camisa azul e chapéu vermelho; ela é a pessoa mais rica da Austrália
Dona da Hancok, Gina Rinehart é a pessoa mais rica da Austrália - Divulgação

A importância de Rinehart no fracasso da negociação marca a mais recente batalha de aquisição para a "dama de ferro" da Austrália, cuja ascensão foi notabilizada por negociações implacáveis, disputas familiares e litígios.

Quando assumiu a Hancock Prospecting em 1992 de seu pai Lang Hancock, o negócio endividado voltado ao minério de ferro valia apenas uma fração de sua estimativa atual. Favorecida pela demanda chinesa pela matéria-prima, a Hancock aproveitou a oportunidade e Rinehart liderou a reviravolta, transformando a empresa que movimentava royalties em concessões de minério de ferro em uma que possui e opera suas próprias minas.

Seu império se expandiu do minério de ferro para fazendas de gado, ativos de energia e investimentos em startups que vão desde terras raras até neurotecnologia e cannabis medicinal. O grupo acumulou 20 bilhões de dólares australianos (cerca de R$ 64,2 bilhões) de lucro líquido nos últimos quatro anos, e o patrimônio líquido de Rinehart cresceu para US$ 26 bilhões (R$ 131,5 bilhões).

Mas ela também se tornou uma das empresárias mais polêmicas da Austrália, devido a disputas familiares acirradas, seus apelos para que o governo reduza a burocracia na mineração e seu apoio a líderes de direita e céticos em relação à mudança climática.

Rinehart é avessa à publicidade, raramente concede entrevistas ou mesmo dá declarações, apesar de seus investimentos frenéticos e de seu papel desproporcional na vida corporativa australiana. No entanto, ela se destacou por lutar por seus interesses, especialmente ao ter participado de protestos de rua em Perth em 2010 para se opor ao imposto sobre mineração.

Embora seja uma das vozes mais altas em defesa da mineração na Austrália, ela adotou uma abordagem diferente das gigantes BHP e Rio Tinto, que enfatizam que sua indústria será crucial para a transição energética mundial.

Gina Rinehart discursa contra governo da Austrália em 2010
Gina Rinehart discursa contra governo da Austrália em 2010 - AFP - 09.jun.2010

Em maio, Rinehart pediu a expansão de minas no país, argumentando que o setor era responsável pelo superávit orçamentário e pelo boom de empregos do país, e criticou as restrições em nome do meio ambiente.

"É muito popular agora restringir a mineração em nome do meio ambiente, até mesmo para cobras perigosas, ratos e ervas daninhas", disse Rinehart na ocasião.

Jason Morrison, ex-assessor de Rinehart, acredita que a bilionária tem sido injustamente demonizada pela imprensa e por alguns políticos.

"Ela ama a Austrália, mas não recebe nenhum crédito", afirmou Morrison, acrescentando que ela esteve "à frente da curva" em investimentos que beneficiaram sua economia, inclusive por meio de seu patrocínio à equipe olímpica da Austrália. "Você pode ver o impacto dela neste país até de Marte."

Mas nem tudo correu como ela esperava. Em 2015, a bilionária vendeu uma participação que havia adquirido na Fairfax, editora do jornal The Sydney Morning Herald, após fracassar em seus esforços para obter assentos no conselho, bem como o direito de contratar e demitir editores.

O sucesso profissional trouxe uma atenção indesejada da mídia para uma série de disputas legais com sua família. Rinehart está envolvida em um processo judicial com seu filho John Hancock, que a acusou de "fraude calculada e deliberada" ao retirar ativos do fundo familiar para aumentar sua riqueza pessoal. Rinehart nega as acusações.

Outro caso judicial familiar envolve Rinehart e a viúva de seu pai, Rose Porteous, sobre a herança dele. A bilionária também enfrenta na Justiça os familiares de Peter Wright, que foi parceiro de negócios de Lang Hancock, sobre acordos de royalties no complexo de minério de ferro de Hope Downs.

Para Morrison, há uma "fila de pessoas" querendo tirar uma fatia do império de Rinehart. "A empresa quase faliu. Ela teve que lutar para sair de um buraco. Gina assumiu todos os riscos", avaliou.

Executivos da indústria de mineração ouvidos pelo Financial Times são unânimes em dizer que Rinehart não é alguém para se enfrentar. Ela conhece qualquer acordo "de dentro para fora", disse um deles, acrescentando que ela estava entre a "Realeza de Perth" de executivos altamente conectados na Austrália.

Suas conexões políticas se estendem para o exterior. Conhecida como apoiadora de Donald Trump, Rinehart figurou no círculo próximo do ex-presidente dos EUA em eventos em seu resort em Mar a Lago, na Flórida. Ela teve uma reunião privada com o primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, a quem Rinehart destacou por reduzir a burocracia e impulsionar o crescimento econômico.

O que a bilionária planeja fazer com lítio?

Os planos exatos de Rinehart para Liontown e lítio ainda não estão claros. A Hancock Prospecting tem histórico de parcerias em projetos, muitas vezes com outros membros da elite de mineração de Perth, como o diretor executivo da Mineral Resources, Chris Ellison.

Provavelmente, ela precisa de conhecimento em processamento de lítio, algo que a Austrália está lutando para desenvolver e que a Albemarle possui. A Liontown anunciou em 19 de outubro um financiamento de dívida de 1,1 bilhão de dólares australianos (cerca de R$ 3,4 bilhões) e aumento de capital para colocar seu crucial desenvolvimento de lítio em Kathleen Valley em produção.

Rinehart está alimentando um sentimento crescente entre os principais grupos de lítio da Austrália de que grupos dos EUA, China e Chile estão aproveitando o valor de suas enormes reservas e que já passou da hora de os magnatas do país assumirem um papel mais ativo.

Mas uma pessoa envolvida na saga de aquisição da Liontown é cética. "Ela já explorou esse tema nacionalista no passado, mas no final das contas, age para seus próprios interesses comerciais."

Julian Malnic, presidente do Sydney Mining Club, afirmou que Rinehart sempre tem uma estratégia clara e será implacável em tirar vantagem. "Quando ela toma uma decisão... é definitiva", disse.

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