Campos Neto alerta para possível ruptura nos mercados e defende esforço fiscal global

Presidente do BC fala sobre impacto de cenário internacional desafiador no processo de desinflação

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Brasília

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, defendeu nesta terça-feira (10) uma atuação coordenada entre os países no aspecto fiscal e alertou para o risco de ruptura nos mercados antes do fim do processo de desinflação global.

O chefe da instituição também elencou diversas pressões que afetam a trajetória da inflação pelo mundo e levantou questões sobre como o cenário internacional desafiador pode impactar as economias emergentes.

Presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, em sessão no Senado - Gabriela Biló - 10.ago.2023/Folhapress

"A mensagem é que os governos precisam começar a endereçar o aspecto fiscal. Acho que somos muito coordenados no aspecto da política monetária, mas não somos muito coordenados na política fiscal", afirmou.

"Se não formos capazes de endereçar isso de uma forma que as pessoas olhem para frente em termos de preços de mercado e vejam que teremos equilíbrio, pelo menos no médio prazo, nós poderemos ter uma ruptura nos mercados antes de atingirmos o [fim do] processo de desinflação", complementou.

Campos Neto participou de um painel sobre o estado da economia global e suas implicações para as economias de mercados emergentes no evento 2023 Global Meeting, organizado pelo Emerging Markets Forum, em Marrakech, no Marrocos.

De acordo com o presidente do BC, sua observação não teve o Brasil como foco. Na visão dele, o país está indo melhor do que outras nações no aspecto fiscal.

"Deveríamos começar [a endereçar a questão fiscal] globalmente e especialmente em países avançados, porque acho que o Brasil neste front está melhor. O Brasil teve revisões positivas para o crescimento [da economia] e o arcabouço fiscal que foi desenhado recentemente, mas meu ponto é que, para nós, o custo do funding é importante", disse.

Para este ano, a autoridade monetária brasileira revisou para cima sua projeção para o PIB (Produto Interno Bruto) e agora espera um avanço de 2,9%. A última estimativa, divulgada em junho, era de alta de 2%.

"Estamos vendo que o mais provável é que os juros fiquem altos por mais tempo, isso significa um custo de dívida mais alto. [...] Isso pode ser disfuncional para mercados emergentes", continuou Campos Neto, que ponderou sobre a capacidade do setor privado de honrar com os pagamentos de suas dívidas nesse cenário.

O presidente do BC fez ainda um histórico dos desafios enfrentados pelos países desde a eclosão da pandemia de Covid-19 até os choques mais recentes, como a elevação do preço do petróleo em meio ao conflito entre Israel e o grupo terrorista palestino Hamas.

Em sua fala, Campos Neto também destacou o alto custo de transição energética, maior incerteza no mercado de energia com as questões geopolíticas, além dos efeitos das mudanças climáticas sobre os preços dos alimentos, citando o impacto das chuvas na produção de arroz na região Sul.

"Daqui para frente, de onde vai vir a desinflação? O petróleo vai ficar mais caro, a transição verde custa dinheiro, a produtividade não está aumentando, acho que está diminuindo", disse.

"Quando olhamos para esses fatores, a única coisa que se destaca é que as pessoas pensam que teremos um alívio no [mercado de] trabalho e que isso contribuirá para reduzir a inflação, mas isso está longe de ser garantido", acrescentou.

O chefe da autoridade monetária disse não ver muitos sinais positivos, com mercado de trabalho resiliente, crescimento econômico acima do potencial, expectativas de inflação distantes das metas em diversos países, núcleos de inflação resistentes –embora veja o Brasil melhor nesse aspecto– e algum processo de indexação.

No Brasil, a inflação acumulada atingiu 4,61% no acumulado em 12 meses até agosto, segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Na prévia de setembro, houve aceleração puxada pela alta da gasolina, apesar da queda nos preços dos alimentos. Nesta quarta-feira (11), será divulgado o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) mais recente.

"O processo de desinflação pode parar em níveis mais altos globalmente? Se for verdade, o que vai acontecer? Viveremos com altas taxas de juros por mais tempo? O que isso vai significar para as economias emergentes?", questionou.

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