Chuvas no Sul e seca na Amazônia preocupam indústria do cimento

Produtores mantiveram a expectativa de vendas menores em 2023 após a queda maior que a esperada

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Alberto Alerigi Jr.
São Paulo | Reuters

Os produtores de cimento do Brasil mantiveram nesta segunda-feira (9) a expectativa de vendas menores em 2023 após a queda maior que a esperada na comercialização no ano anterior, ainda sentido um cenário de juros elevados, fraqueza na atividade econômica e impacto do clima.

O setor, que em 2022 teve queda de 2,8% nas vendas, espera recuo de cerca de 1% na comercialização este ano, para cerca de 62,2 milhões de toneladas, segundo dados divulgados nesta segunda-feira pela entidade que representa os fabricantes do insumo, Snic.

"O problema da seca na Amazônia e as chuvas no Sul têm nos preocupado muito", disse o presidente do Snic, Paulo Camillo Penna. "As mudanças climáticas viraram realidade para a construção civil e para a demanda por cimento", disse o executivo.

Barco no lago Puraquequara, que foi impactado pela seca na Amazônia
Barco no lago Puraquequara, que foi impactado pela seca na Amazônia - Bruno Kelly - 6.out.2023/Reuters

Segundo ele, se por um lado a seca na Amazônia dificulta a logística de distribuição do cimento, as chuvas fortes que estão atingindo o Sul do país neste semestre têm dificultado o andamento de obras e, por consequência, a demanda pelo insumo.

O prognóstico de Penna no início do ano, de um segundo semestre mais aquecido por conta de um clima que costumava ser mais seco, efeito de queda de juros e expectativas em torno dos programas Minha Casa Minha Vida e PAC, por enquanto não tem se confirmado.

A comercialização de cimento em setembro, por exemplo, caiu 5,1% sobre um ano antes, para 5,24 milhões de toneladas, com todas as regiões do país mostrando números negativos, em especial os estados do Sul, que sofreram queda de 8,1%, segundo os números do Snic.

Por dia útil, as vendas de setembro também recuaram na relação anual, caindo 2,5%, a cerca de 232 mil toneladas.

O desempenho de setembro veio depois de um agosto de avanço de apenas 1,4% e de queda de 0,7% em julho.

No ano, as vendas acumulam queda de 2%, a 46,85 milhões de toneladas, de acordo com o Snic, com o Norte do país sofrendo a maior queda, de 4,1%, seguida por recuos de 3,9% no Centro-Oeste, 3,8% no Sul e 0,9% no Sudeste. Apenas o Nordeste tem alta de vendas de cimento no ano até setembro, de discreto 0,3%.

"O tombo foi muito forte em setembro. Há ainda uma competição desigual entre ativos financeiros e imobiliários", disse Penna sobre o nível ainda elevado dos juros, apesar do início do ciclo de redução pelo Banco Central.

Os números do setor de cimento encontram eco em outros segmentos da economia, como o de siderurgia, que registra um consumo aparente de aço declinante, agravado por fortes importações. Já a indústria da construção civil têm expectativa de crescimento de 1,5%, forte desaceleração ante os quase 7% de 2022.

Mas diferente de outros segmentos, a indústria do cimento depende quase exclusivamente da demanda interna, que hoje está 70% dependente de projetos imobiliários, diferente de anos anteriores quando a balança pendia para grandes obras de infraestrutura.

"Enquanto não decola (o MCMV reformulado), a gente fica privado de um desenvolvimento significativo", disse Penna, citando que apenas o programa habitacional relançado pelo governo de Luiz Inácio Lula da Silva seria capaz de gerar consumo de 2 milhões a 3 milhões de toneladas de cimento por ano.

Enquanto isso não acontece, a indústria de cimento convive com um nível de ociosidade de cerca de 34% de sua capacidade de 94 milhões de toneladas, segundo os dados do Snic. "Isso preocupa o setor", disse Penna. Ele citou a programação da indústria do cimento de investir cerca de R$ 3 bilhões até 2030 para adaptar fábricas para uso de coprocessamento de rejeitos, uma forma de reduzir emissões de CO2 por meio da queima de material —como pneus descartados— nos fornos de produção de cimento.

"Perdemos no ano passado 1,8 milhão de toneladas de vendas. E este ano até setembro foram 800 mil toneladas de perda. Mas com a expectativa de maturação do MCMV e o avanço do processo de concessões...poderemos ter uma perda menos impactante este ano para voltarmos a crescer em 2024. Isso parece bastante factível", disse Penna.

O executivo citou ainda entre os fatores para o otimismo sobre o próximo ano o andamento do programa de renegociação de dívidas Desenrola. "Poderemos ter uma melhoria da massa assalariada."

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.