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Bolsa cai 1,29% e dólar sobe a R$ 5,06 com persistência de temores sobre juros mais altos nos EUA

Rendimentos de títulos americanos sobem e pressionam ativos de risco

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São Paulo

A Bolsa brasileira registrou forte queda e o dólar subiu nesta segunda-feira (2), ainda sob temores do mercado sobre juros mais altos por mais tempo nos Estados Unidos. Os rendimentos dos títulos americanos tiveram alta significativa, o que impulsionou a divisa e pressionou ativos de risco globalmente.

No Brasil, a queda do Ibovespa foi puxada principalmente por baixas de Vale e Petrobras, num dia sem referência para o minério de ferro, devido a um feriado na China, e de declínio forte do petróleo no exterior.

Foram as "small caps", no entanto, que lideram as quedas do dia. As companhias menores e mais ligadas à economia doméstica da Bolsa brasileira foram especialmente penalizadas com a alta dos juros futuros no país, que acompanharam os títulos americanos, e registraram os maiores tombos da sessão.

Nesse cenário, o Ibovespa caiu 1,29%, aos 115.056 pontos, enquanto o dólar subiu 0,78%, terminando o dia cotado a R$ 5,066.

Desde que o Fed sinalizou que pode realizar um novo aumento de juros ainda neste ano, o dólar vem registrando alta em todo o mundo, na esteira da subida dos rendimentos de títulos americanos. Isso porque um maior retorno da renda fixa dos EUA tende a atrair recursos para o país, valorizando a divisa e, consequentemente, penalizando mercados emergentes e de maior risco.

O pessimismo foi endossado por dados do setor industrial dos EUA divulgados nesta tarde, que vieram acima do esperado e reforçaram que a economia americana ainda apresenta resiliência.

Notas de dólar em banco em Westminster, Colorado, nos EUA - Rick Wilking - 3.nov.2009/Reuters

Com isso, os rendimentos dos títulos americanos, os chamados "treasuries", que já vinham escalando nas últimas semanas, tiveram firme alta nesta segunda, subindo 0,12 pontos percentuais, a 4,69%.

"Os rendimentos dos treasuries tiveram forte avanço em meio ao PMI industrial dos EUA acima do esperado, o que aumentou as probabilidades de alta dos juros na reunião do Fomc em novembro, mesmo que ainda seja uma aposta minoritária", afirma Alexsandro Nishimura, economista e sócio da Nomos.

O mercado também acompanhou no fim de semana o risco de paralisação da máquina pública dos EUA. No sábado, o Congresso americano aprovou um projeto de lei para permitir o funcionamento do governo por 45 dias até que uma solução definitiva seja encontrada.

Na Europa, dados fracos sobre a produção industrial da zona do euro endossavam o tom pessimista, e as Bolsas da região fecharam em queda.

Agora, o mercado aguarda novos dados sobre a economia americana para calibrar as apostas sobre futuro da política de juros americana.

Nesta semana, estão previstos dados de serviços e mercado de trabalho nos EUA, com destaque para o relatório de abertura de vagas fora do setor agrícola, agendado para sexta-feira, que será acompanhado de perto pelo Fed.

"É uma semana bem movimentada, principalmente porque se refere à divulgação de dados nos Estados Unidos, e, querendo ou não, o que nos puxa para tentar traçar uma estratégia é se vai haver ou não um aumento de juros próximo ou mais para o final do ano", disse Thiago Avallone, especialista em câmbio da Manchester Investimentos.

Nesse cenário, os principais índices de ações americanos tiveram desempenhos mistos. Enquanto o S&P 500 permaneceu estável, o Dow Jones caiu 0,22%. Já o Nasdaq teve alta de 0,67%, favorecido pelo desempenho das big techs.

No Brasil, o boletim Focus, do Banco Central, mostrou que as projeções de inflação no país permaneceram praticamente inalteradas. Enquanto a estimativa para este ano foi mantida em 4,86%, a previsão para o fim de 2023 aumentou 0,01 ponto percentual desde a última semana, para 3,87%.

Pressionado pelo exterior e sem indicadores relevantes no mercado local, o Ibovespa registrou forte queda pressionado principalmente por Vale e Petrobras, as maiores empresas da Bolsa brasileira, que recuaram 0,87% e 1,50%, respectivamente. Todos os papéis mais negociados da sessão terminaram o dia em baixa.

As maiores quedas, no entanto, foram das "small caps", empresas menores e mais ligadas à economia local, em dia de alta dos juros futuros no Brasil. Vamos, MRV e Azul recuaram 8,31%, 6,19% e 5,80%, respectivamente, e lideraram os tombos do dia. O índice que reúne essas companhias caiu 1,85%.

O movimento de alta das curvas de juros futuros, em especial das mais longas, seguia os títulos americanos. Os contratos com vencimento em 2025 saíam de 10,83% para 11,01%, enquanto os para 2027 subiam de 10,80% para 11,03%.

Além das perspectivas de taxas mais altas por mais tempo nos EUA, sinalizações recentes do Copom (Comitê de Política Monetária) de que o ritmo de cortes da Selic (taxa básica de juros) deve permanecer em 0,50 ponto percentual por reunião frustraram expectativas de uma aceleração no ciclo de redução de juros no país.

"A Bolsa brasileira está respondendo ao mercado de juros lá fora, com todas as empresas mais ligadas à economia doméstica caindo. O mercado está preocupado com a ideia de que o BC não vai conseguir baixar os juros com mais força, já que a curva americana está subindo mais rápido. O real também está perdendo espaço com o dólar ganhando força nos mercados", afirma João Piccioni, analista da Empiricus Research.

Nesta segunda, o índice DXY, que mede o desempenho do dólar ante outras moedas fortes, subiu 0,78%.

Investidores locais repercutiram, ainda, a divulgação de dados sobre o mercado de trabalho brasileiro. Segundo o Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), o Brasil abriu 220.844 vagas formais em agosto, superando a expectativa em pesquisa da Reuters de criação líquida de 178 mil empregos.

"Os dados refletem a recuperação gradual da economia, e a expectativa é de continuidade dessa melhora, em especial com a expectativa de redução da taxa de juros", afirma Cristiane Quartaroli, economista do Banco Ourinvest.

Com Reuters

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