Impasse sobre MPs aumenta dificuldade para fechar contas de 2024, diz Haddad

Ministro acredita que impasse causa constrangimento e deve afetar meta de déficit zero

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Bernardo Caram Lisandra Paraguassu Marcela Ayres
Brasília | Reuters

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que o impasse sobre a tramitação de MPs (medidas provisórias) no Congresso não se resolveu e gera constrangimento ao governo, que decidiu transformar em projeto de lei uma crucial iniciativa de ajuste fiscal a ser votada neste ano.

Em entrevista à Reuters, Haddad também traçou um cenário menos otimista para o ambiente econômico e "um terceiro trimestre muito ruim".

O ministro afirmou que o governo vai substituir por um projeto de lei a MP que barra a concessão de incentivo tributário federal sobre subvenções estaduais para custeio de empresas. Ao contrário da MP, o texto não terá efeito imediato.

Fernando Haddad concede entrevista em Brasília
Haddad diz que MP que revê tributação de benefício do ICMS deve virar projeto de lei - Adriano Machado/Reuters

Uma disputa política entre Câmara e Senado na distribuição de poderes para análise de MPs já havia travado outras iniciativas do governo. A medida que trata das subvenções foi editada no fim de agosto e não avançou desde então.

"Esse impasse não se resolveu. Na minha opinião, é uma infelicidade, porque em alguns temas a MP realmente tinha que ser considerada pela importância, pela urgência. Não se conseguiu encontrar um entendimento a esse respeito, nós estamos com esse constrangimento, mas vamos superar com o encaminhamento do projeto de lei com urgência constitucional", disse.

Na avaliação de Haddad, sem uma aprovação dessa medida, será "muito difícil" o relator do Orçamento de 2024 fechar as contas do projeto, que prevê déficit primário zero.

"Onde é que ele vai encontrar espaço para cortar as despesas para fechar o Orçamento se ele não tiver as novas receitas aprovadas? São receitas razoáveis", disse.

Embora Haddad tenha conseguido aprovar um novo arcabouço fiscal que busca conter o crescimento da dívida pública, agentes de mercado ainda resistem a acreditar no plano fiscal do governo, prevendo que o déficit zero não será alcançado em 2024. O mais recente boletim Prisma Fiscal do ministério, que capta avaliações de analistas, estima que o rombo ficará em R$ 84,3 bilhões no próximo ano.

Em meio a questionamentos de parte dos membros do governo nos bastidores sobre a necessidade de uma meta de déficit zero já em 2024, Haddad disse que essa não é uma discussão, defendendo que o plano da Fazenda é consistente e, "dependendo do que acontecer, vai exigir novos esforços".

"É óbvio que, a depender da decisão do Congresso, decisões terão que ser tomadas (pelo governo). Mas eu diria para você que mesmo que o Congresso legitime, valide todas as decisões até aqui tomadas pelo Executivo, ainda assim, nós vamos ter trabalho pela frente", afirmou.

O ministro reafirmou que o governo tem ferramentas para buscar seu objetivo fiscal, mencionando que a equipe econômica deve apoiar proposta que tramita no Legislativo que estabelece a securitização da dívida ativa -- negociação de créditos tributários com o setor privado, prevendo um deságio para que o governo receba os recursos de forma antecipada.

Haddad ainda afirmou que o governo vai trabalhar pela aprovação de um projeto que abre nova rodada de repatriação de recursos de brasileiros no exterior, ponderando que não vê grande potencial de arrecadação com a iniciativa, já adotada em gestões anteriores.

Por enquanto, os esforços do governo estão concentrados em medidas já submetidas ao Congresso, incluindo a tributação de fundos exclusivos e offshore, bem como uma medida para alterar o benefício fiscal sobre pagamentos de juros sobre capital próprio (JCP).

O ministro observou ainda que a reforma do Imposto de Renda só será apresentada pelo governo depois de o Congresso ter concluído a reforma dos tributos sobre o consumo, que ainda tramita no Senado e deverá retornar à Câmara. Isso poderá empurrar a apresentação da reforma sobre a renda para 2024.

Depois de reconhecer o cenário externo mais difícil, com taxas de juro de longo prazo mais elevadas nos Estados Unidos e os recentes conflitos entre Israel e a Palestina, o ministro sublinhou a necessidade de compensar estes desafios com uma agenda de reformas internas mais ambiciosa.

"Eu já vinha dizendo que a economia brasileira no terceiro trimestre estava parada, nós tivemos agora um terceiro trimestre muito ruim. Isso já vinha sendo sinalizado, inclusive nas conversas com o Banco Central", afirmou.

"Se o desafio externo é maior, a premência da agenda interna também é maior."

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