Descrição de chapéu Previdência inss BNDES

Mercadante defende reduzir repasse à Previdência para financiar BNDES

Segundo presidente do banco de fomento, FAT foi criado para amparar desempregado e financiar emprego

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Amanda Pessoa
Paris

O presidente do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), Aloizio Mercadante, defendeu acabar com a possibilidade de o FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador) financiar gastos da Previdência.

Na sua avaliação, a medida evita a inviabilização da instituição pública de fomento. A declaração foi dada após o 1º Fórum Internacional da Esfera Brasil, em Paris, encerrado neste sábado (14).

"O FAT foi criado como um fundo de amparo ao trabalhador, com parcela do PIS e Pasep, para financiar o emprego, gerando investimento, e o desempregado no momento do desemprego", afirmou Mercadante.

Aloizio Mercadante gesticula durante discurso em evento do BNDES, no Rio de Janeiro
Mercadante defende acabar com repasse do FAT para cobrir gastos da Previdência Social - Mauro Pimentel - 08.fev.2023 / AFP

O PIS e Pasep, que passarão por mudanças com a Reforma Tributária, atualmente em discussão no Senado, abastecem o FAT, que, por sua vez, financia o seguro-desemprego, o abono salarial e o BNDES.

O fundo é visto uma fonte de financiamento barata para as linhas de crédito da instituição.

Como a Folha mostrou, o Ministério do Trabalho reivindica a devolução de R$ 80 bilhões ao FAT até 2032. Para levar a medida adiante, a pasta propõe as mudanças via Reforma Tributária. A iniciativa turbinará o BNDES.

Após a reforma da Previdência do governo Jair Bolsonaro (PL), parte dos recursos passou a cobrir o rombo da Previdência. O fundo destinou à Previdência R$ 11 bilhões em 2021, R$ 18,6 bilhões em 2022 e deve repassar R$ 22,7 bilhões neste ano.

"O ministro do Trabalho [Luiz Marinho] já verbalizou [a proposta de mudança da destinação do FAT], todas as centrais sindicais fizeram uma carta pedindo para manter [recursos do] FAT na Reforma Tributária, e impedir que ele siga esse caminho de autoinviabilização do BNDES e do seguro-desemprego", disse Mercadante.

O presidente do banco público criticou a gestão Bolsonaro. "O governo anterior, por três vezes, tentou tirar o BNDES da Constituição. E o projeto era esvaziar o banco", afirmou.

"Você não pode pegar um fundo que foi criado com essa destinação, historicamente, para um banco que tem 71 anos de história, e dizer o seguinte: 'Não, agora eu vou financiar o déficit da Previdência'."

Ele lembrou que o déficit, apesar da reforma, é persistente. "Nós vamos envelhecer muito rápido. Você não pode pegar e destruir um instrumento [banco de fomento] que o mundo inteiro dispõe, que é indispensável", disse. "O FAT é necessário ao desenvolvimento do BNDES e do Brasil."

O pesquisador associado do Insper e colunista da Folha Marcos Mendes criticou a iniciativa do Ministério do Trabalho, que tem o apoio do BNDES. "O que se está se propondo é um retrocesso, que é vedar o uso dos recursos do PIS/Pasep para pagar despesas da Previdência. Uma verdadeira contrarreforma da Previdência", disse.

Em Paris, Mercadante negou se tratar de uma contrarreforma.

À Folha, Marinho afirmou que o FAT deve financiar seguro-desemprego, abono salarial e o BNDES, não a Previdência.

"Na hora que ele [o fundo] financia a Previdência, perde a capacidade de financiar projetos que provoquem aumento da receita da Previdência. Porque a receita da Previdência provém da quantidade de trabalhadores que estão trabalhando", disse o ministro do Trabalho.

Representante dos trabalhadores no Codefat (Conselho Deliberativo do FAT), Sérgio Leite, vice-presidente da Força Sindical, afirma que a reversão da mudança feita em 2019 é essencial para a sobrevivência do fundo. "Com essa atitude [de financiar a Previdência], o FAT perde sua capacidade de promover política pública de emprego", afirmou.

Leite diz ainda ter ouvido do próprio BNDES uma preocupação sobre o financiamento futuro do banco. "O BNDES trabalha com políticas de médio e longo prazo, você pode desacreditar o banco como um banco de fomento", afirma. "O BNDES e o Ministério do Trabalho são nossos aliados neste debate", disse.

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