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FMI alerta para 'risco crescente' no mercado de títulos dos EUA

Exposição dos bancos a taxas de juros 'mais altas por mais tempo' é motivo de preocupação

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Colby Smith Sam Fleming
Marrakech (Marrocos) | Financial Times

O FMI (Fundo Monetário Internacional) pediu que reguladores intensifiquem a vigilância sobre ameaças decorrentes do aumento dos rendimentos dos títulos de dívida, à medida que uma alta contínua nos juros globais desencadeia um "risco aumentado" nos mercados financeiros.

"Quando você vê grandes movimentos que são muito rápidos, há mais potencial para desencadear instabilidade, porque os participantes do mercado têm que se reposicionar e aceleradores no sistema podem entrar em ação", disse Tobias Adrian, diretor do departamento de mercados monetários e de capitais do Fundo, ao Financial Times. "Esperamos que a calma prevaleça em algum momento, mas certamente há um risco aumentado [agora]."

As observações ocorrem em meio a semanas de volatilidade no preço dos títulos do governo dos EUA.

O diretor do departamento monetário e de mercados de capitais do FMI, Tobias Adrian - Andrew Caballero-Reynolds - 11.anr.2023/AFP

Os rendimentos dos títulos da dívida dos EUA de 30 anos atingiram uma máxima de 16 anos, a mais de 5%, na semana passada, após dados fortes sobre o mercado de trabalho aumentaram as apostas de que as taxas de juros do Fed (Federal Reserve, o banco central americano) permanecerem altas por um período prolongado.

Adrian estava particularmente preocupado com a exposição dos bancos, especialmente aqueles afetados pelo colapso do Silicon Valley Bank no início deste ano.

Embora a recente venda ainda não tenha se traduzido em spreads de crédito [diferença entre juros pagos e juros cobrados por bancos] significativamente mais amplos, isso "poderia, é claro, ser desencadeado em algum momento".

"Haverá cada vez mais pressões sobre os bancos", disse ele.

Em março, os bancos regionais nos EUA enfrentaram uma crise que mais tarde se espalhou para instituições maiores —inclusive envolvendo um dos maiores bancos da Europa, o Credit Suisse.

Os bancos que falharam sofreram falhas específicas de gestão, incluindo a falta de proteção adequada contra o aumento das taxas de juros. Mas o episódio expôs como as instituições podem ser suscetíveis a corridas repentinas.

"Ação de supervisão enérgica pode realmente fazer a diferença", disse ele.

As observações de Adrian ao FT ecoam os avisos delineados no último relatório de Estabilidade Financeira Global do FMI, publicado nesta terça, no início das reuniões anuais do Fundo com o Banco Mundial, que estão ocorrendo em Marrakech este ano.

No relatório, o FMI alertou sobre "ciclos de feedback adversos" desencadeados por um aperto abrupto das condições financeiras que poderiam "testar novamente a resiliência do sistema financeiro global".

Ele também realizou testes de estresse em quase 900 credores globalmente.

A maioria dos credores poderia lidar com o chamado "cenário-base" de crescimento global modesto e inflação em queda —embora 55 deles, incluindo um grupo de bancos regionais dos EUA, estariam expostos a perdas de capital "significativas".

No entanto, uma recessão global dolorosa e uma inflação ressurgente que leva os bancos centrais a aumentar ainda mais as taxas colocariam em risco 215 instituições, que juntas representam 42% dos ativos bancários globais. Várias instituições sistemicamente importantes na China, Europa e EUA seriam afetadas, disse o FMI.

Apesar dessas vulnerabilidades, Adrian instou os bancos centrais a "seguirem o curso para levar a inflação de volta à meta de forma duradoura".

Ele observou que as autoridades monetárias estão bem equipadas para lidar com episódios de instabilidade financeira com outras ferramentas. Em março, o Fed correu para conter as consequências do estresse bancário com um empréstimo de emergência. Ainda conseguiu elevar as taxas em mais 0,25 ponto na semana seguinte.

"É realmente apenas em situações muito extremas, como a crise de 2008, onde há uma forte interação entre política monetária e estabilidade financeira", disse Adrian. "Estamos bastante distantes disso."

Ainda assim, ele disse que a lição de março foi que as falhas de algumas instituições podem ter um impacto significativo de forma mais ampla e que é melhor para os reguladores "cuidarem dessas coisas de forma preventiva".

Questionado sobre questões iminentes no mercado imobiliário comercial, Adrian descreveu isso como um problema "lento", improvável de se manifestar por mais um ano ou dois até uma onda de refinanciamentos.

"O pessimismo já impactou os mercados, mas será doloroso assistir [isso se desenrolar]."

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