Descrição de chapéu inflação juros

Inflação de setembro surpreende e sobe menos do que o esperado

IPCA avança 0,26% no mês e registra alta de 5,19% no acumulado, diz IBGE

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Rio de Janeiro

A inflação oficial do Brasil, medida pelo IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), subiu 0,26% em setembro, após avanço de 0,23% em agosto, apontam dados divulgados nesta quarta-feira (11) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

Apesar da leve aceleração, o novo resultado ficou abaixo das projeções do mercado financeiro. A mediana das expectativas de analistas consultados pela agência Bloomberg era de variação de 0,33% em setembro.

Em 12 meses, o IPCA passou a acumular inflação de 5,19%. Nesse recorte, a projeção do mercado era de 5,25%. Até agosto, a alta acumulada pelo índice estava em 4,61%.

Frentista abastece carro em posto na zona oeste de São Paulo; gasolina pressiona IPCA em setembro - Danilo Verpa - 1º.mar.2023/Folhapress

Economistas consideram que os dados de setembro mostram uma leitura positiva para a inflação brasileira. Após a divulgação do IBGE, instituições financeiras passaram a projetar um IPCA mais baixo no acumulado até dezembro de 2023.

Agora, analistas apostam em uma inflação mais próxima ou até dentro do teto da meta deste ano (4,75%). A agência de classificação de risco Austin Rating, por exemplo, reduziu sua previsão de 4,83% para 4,75%.

O Itaú Unibanco, por sua vez, enxerga um viés de baixa para sua estimativa de 4,9%, que deve ser revisada em breve, conforme a economista Luciana Rabelo.

Ela diz que a tendência é de que o IPCA acumulado desacelere após tocar em 5,19% em setembro. "É uma leitura benigna", afirma.

GASOLINA SOBE, ALIMENTOS CAEM DE NOVO

Dos 9 grupos de bens e serviços pesquisados, 6 tiveram alta de preços no IPCA de setembro. O principal impacto para o avanço do índice (0,29 ponto percentual) e a maior variação (1,40%) vieram do segmento de transportes, seguido por habitação (0,07 ponto percentual e 0,47%).

A alta de transportes teve influência do aumento da gasolina (2,80%). O combustível foi o subitem com a maior contribuição individual para o IPCA de setembro (0,14 ponto percentual).

A carestia da gasolina era aguardada por analistas em razão do reajuste aplicado pela Petrobras nas refinarias em meados de agosto.

Óleo diesel (10,11%) e gás veicular (0,66%) também subiram, enquanto o etanol caiu (-0,62%). Ainda em transportes, as passagens aéreas avançaram 13,47% em setembro, após recuo de 11,69% em agosto.

Do lado das três quedas entre os grupos, o destaque ficou novamente com alimentação e bebidas (-0,15 ponto percentual e -0,71%). Os preços desse ramo recuaram pelo quarto mês consecutivo.

A redução está associada principalmente à queda do subgrupo alimentação no domicílio (-1,02%). Houve baixa nos preços da batata-inglesa (-10,41%), da cebola (-8,08%), do ovo de galinha (-4,96%), do leite longa vida (-4,06%) e das carnes (-2,10%). O arroz (3,20%) e o tomate (2,89%), por outro lado, ficaram mais caros.

Em linhas gerais, os preços da alimentação estão caindo devido a uma ampliação da oferta de mercadorias no mercado interno, disse André Almeida, gerente da pesquisa do IPCA.

A redução de custos produtivos também pode ter influenciado o quadro, conforme o pesquisador do IBGE.

"A gente tem um ano de safra grande, e isso tem contribuído para a maior oferta, para a maior disponibilidade de alimentos no mercado."

No grupo habitação (0,47%), a principal pressão veio do aumento da energia elétrica residencial (0,99%). A luz ficou mais cara, segundo o IBGE, com reajustes aplicados em três áreas pesquisadas: São Luís, Belém e Vitória.

Outro destaque da apresentação ficou por conta da redução do índice de difusão. Esse indicador mede o percentual de subitens do IPCA que registraram alta de preços, considerando a amostra com 377 bens e serviços.

O índice de difusão diminuiu para 43% –estava em 53% no mês anterior. Ou seja, em setembro, os preços subiram em menos da metade dos subitens pesquisados. O percentual de 43% é o menor desde julho de 2017 (42%), informou o IBGE.

META DE INFLAÇÃO E JUROS

O IPCA serve como referência para o regime de metas de inflação do BC (Banco Central). No acumulado de 2023, o centro da medida perseguida pela autoridade monetária é de 3,25%.

A tolerância é de 1,5 ponto percentual para mais (4,75%) ou para menos (1,75%). A meta será cumprida se o IPCA ficar dentro desse intervalo nos 12 meses até dezembro.

Na mediana do boletim Focus, divulgado na segunda (9) pelo BC, as projeções do mercado indicavam alta de 4,86% em 2023. A variação prevista estava acima do teto da meta.

Luciana Rabelo, economista do Itaú Unibanco, avalia que um dos riscos para a inflação vem do fenômeno climático El Niño, responsável por alterar o regime de chuvas.

Porém, de acordo com ela, a ameaça ficaria mais concentrada no final deste ano sobre os preços dos alimentos in natura, que costumam ser impactados pelo clima de maneira mais rápida.

Rabelo ainda afirma que os efeitos inflacionários da guerra entre Israel e o grupo terrorista Hamas são incertos.

Segundo a economista, o principal risco do conflito é a pressão nas cotações do petróleo. Contudo, ela enxerga até uma possibilidade de corte dos preços da gasolina pela Petrobras neste momento.

O IPCA fechou o acumulado de 2022 em 5,79%, desacelerando no início deste ano, até atingir 3,16% em junho. Em um movimento aguardado por economistas, a inflação acelerou no começo do segundo semestre, até 5,19% em setembro.

Essa situação está associada à base de comparação, já que o efeito das três deflações (quedas) do segundo semestre de 2022 está saindo da base de cálculo do índice em 12 meses.

O IPCA havia perdido força na segunda metade de 2022 com a redução artificial dos preços de itens como os combustíveis. A baixa ocorreu em meio ao corte de tributos promovido pelo governo Jair Bolsonaro (PL) às vésperas das eleições.

Com a trégua da inflação no primeiro semestre, o Copom (Comitê de Política Monetária do BC) passou a reduzir a taxa básica de juros, a Selic. Em setembro, o colegiado cortou a taxa em 0,5 ponto percentual, de 13,25% para 12,75% ao ano.

Essa foi a segunda redução consecutiva da Selic com a mesma magnitude. O Copom volta a se reunir nos dias 31 de outubro e 1º de novembro.

O diretor de Política Monetária do BC, Gabriel Galípolo, sinalizou nesta semana que o comitê deve manter o ritmo de cortes em 0,5 ponto percentual. Depois, ele ponderou que a decisão será tomada com base em dados.

A inflação de serviços, que é considerada um desafio para a política monetária, acelerou de 0,08% em agosto para 0,50% em setembro, conforme o IPCA.

O ganho de ritmo, contudo, ficou muito associado à carestia das passagens aéreas, ponderou Alex Agostini, economista-chefe da Austin Rating.

A alimentação fora do domicílio, outro serviço pesquisado, desacelerou de 0,22% em agosto para 0,12% em setembro.

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