Preço do petróleo já está alto e guerra pode virar 'tempestade perfeita', diz presidente da Petrobras

Estatal opera com defasagem no diesel há semanas, mas ainda não sinaliza repasses ao mercado interno

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Brasília e Rio de Janeiro

O presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, disse nesta quarta-feira (18) que a combinação entre preço do petróleo alto e eventual alastramento da guerra no Oriente Médio pode criar uma "tempestade perfeita" no mercado.

A estatal vem operando com elevadas defasagens no preço do diesel há semanas e começa a ser cobrada internamente por reajustes, mas ainda não há sinais de que fará repasse neste momento. No caso da gasolina, os preços estão alinhados ao mercado externo.

O presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, durante uma coletiva de imprensa na sede da empresa no Rio de Janeiro. - Mauro Pimentel-15.08.2023/AFP

Prates disse nesta quarta não haver ainda indícios de que países produtores se envolvam diretamente na disputa entre Israel e o grupo terrorista Hamas, que se arrasta desde o dia 7 de outubro, mas países árabes têm se alinhado em defesa dos palestinos.

"Das conversas que a gente tem tido, não há intenção de se meter ali nesse momento e tentar procurar solução pacifica, de contorno da situação toda, de réplica daquele ataque terrorista, mas ainda sem alastrar para o resto do Oriente Médio", afirmou.

Ele alertou, porém, que uma eventual escalada do conflito pode pressionar ainda mais os preços, gerando uma "tempestade perfeita".

"A gente já está com preço alto, a gente está administrando a crise anterior a essa. E o preço subiu porque várias circunstâncias que se coordenaram para isso. Esse espasmo final com a questão de Israel deu-se durante dois, três dias. Depois voltou à estrutura de antes, mas ainda é estrutura de preço alto."

No fim de setembro, ainda antes da guerra, a cotação do petróleo Brent chegou a superar a casa dos US$ 95 por barril, atingindo os maiores patamares do ano, mas depois recuaram para abaixo de US$ 90 até voltarem a ser pressionados pelo início da guerra.

Nesta quarta (18), o petróleo Brent, contrato de referência global, fechou a US$ 91,50 (cerca de R$ 462) por barril, em alta de 1,78%, enquanto o risco de escalada do conflito no Oriente Médio ameaçava interromper o fornecimento de petróleo na região, após o Irã pedir a imposição de um embargo petrolífero a Israel.

Durante a tarde, em cerimônia no Congresso, Prates também classificou a alta como espasmos característicos de outros conflitos que já ocorreram no passado. "Normalmente você tem dois dias, três dias de espasmo de preço e depois ele volta", disse.

"Do ponto de vista da indústria do petróleo por enquanto não houve alastramento. Eventual ascensão do preço que está acontecendo é uma ascensão já estrutural, de demanda, de oferta", continuou.

O presidente da Petrobras também foi questionado sobre um eventual reajuste no preço do diesel e da gasolina até o fim do ano. Ele disse que, "se tiver de ser feito o reajuste, ele será feito" e que a empresa está "avaliando o momento".

"É um processo de discussão interna, severo, baseado em nosso modelo de logística e abastecimento. E ele vai indicando os momentos em que podemos fazer isso", afirmou.

"Temos de calcular pensando no momento presente, no que a gente acumulou no passado recente e no que estamos por enfrentar no futuro. Então com tudo isso a gente vai trabalhar. E vai anunciar na hora que tiver de anunciar, sem resistências."

A demora em repassar a alta das cotações internacionais do petróleo desagrada membros independentes do conselho de administração da companhia, que já veem o Brent em um patamar diferente dos últimos reajustes, promovidos em 16 de agosto.

Na abertura do mercado desta quarta, o preço médio do diesel nas refinarias da Petrobras estava R$ 0,65 por litro abaixo da paridade de importação calculada pela Abicom (Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis). Na gasolina, a diferença era de apenas R$ 0,05 por litro.

A Petrobras não segue mais o conceito de paridade de importação, mas vem afirmando que não deixará de acompanhar as cotações internacionais.

No Congresso, Prates comentou a decisão de extinguir o PPI (preço de paridade de importação) e disse que no Brasil "há preços acessíveis, apesar de estarmos numa fase de preços mais aguda em função do mercado internacional".

Apesar da falta de repasses pela estatal, o preço do diesel sofreu um repique em setembro com o término da isenção de impostos federais (PIS/Cofins). O último reajuste nas refinarias da estatal ocorreu no dia 16 de agosto.

As alíquotas, porém, foram novamente zeradas no início do mês, com o fim da vigência da MP (medida provisória) que dava descontos na compra de veículos, programa financiado com os impostos sobre o diesel.

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