Em julgamento, Google diz que funcionários inteligentes explicam sucesso

Empresa alega que a inovação e o esforço dos funcionários levaram ao sucesso, e não contratos restritivos com pagamentos bilionários

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Steve Lohr
Washington | The New York Times

Em seu confronto na Justiça com o governo americano, o Google adotou como principal tática afirmar que a inovação —e não contratos restritivos, apoiados por bilhões de dólares em pagamentos a parceiros do setor— explica seu sucesso como o gigante de busca na internet.

Sua vantagem competitiva, diz a big tech, são pessoas brilhantes, trabalhando incansavelmente para melhorar seus produtos.

Pandu Nayak, primeira testemunha do Google no julgamento antitruste que começou no mês passado, é uma representação dessa estratégia.

Logo do Google
Julgamento do Google já dura mais de um mês e deve demorar ao menos mais cinco semanas - Arnd Wiegmann - 19.jul.2018/Reuters

Vice-presidente de busca do Google, Nayak cresceu na Índia e era um dos melhores da sua turma em uma das escolas técnicas de elite do país. Ele foi para os EUA, fez o doutorado em ciência da computação na Universidade de Stanford e passou sete anos como cientista de pesquisa em projetos de inteligência artificial no Centro de Pesquisa Ames da Nasa, no Vale do Silício.

Dezenove anos atrás, Nayak ingressou no Google e encontrou um ambiente de trabalho acolhedor, cheio de amigos. "No final do dia, o Google é uma empresa de tecnologia que realmente valoriza as habilidades que eu tenho", disse Nayak em seu depoimento na quarta-feira (18).

O depoimento do cientista da computação é uma tentativa de refutar o ponto central apresentado contra o Google pelo Departamento de Justiça e 38 Estados e territórios. A ação afirma que a escala é essencial para a concorrência na busca.

Ou seja, quanto mais dados das consultas dos usuários em um mecanismo de busca são coletados, mais o Google aprende a melhorar seu serviço, o que atrai ainda mais usuários, anunciantes e receita publicitária. Esse ciclo virtuoso, diz a ação, é alimentado por volumes cada vez maiores de dados do usuário.

O governo e os Estados afirmam que o Google garante uma enorme vantagem de dados por meio de contratos exclusivos e pagamentos de mais de US$ 10 bilhões por ano para a Apple, Samsung e outros para ser o mecanismo de busca padrão em smartphones e navegadores de computadores.

Um homem magro de cabelos grisalhos ralos, que falava inglês com sotaque ligeiramente cortado, Nayak tem uma atitude professoral e já ministrou cursos de pós-graduação em Stanford. Grande parte de seu depoimento foi essencialmente um tutorial sobre tecnologia de busca e sua evolução, guiado por Kenneth Smurzynski, advogado do Google.

Nayak passou por uma série de aprimoramentos em pesquisa no Google que melhoraram a qualidade da busca, incluindo desenvolvimentos no sistema e modelos de linguagem grandes —a tecnologia por trás de chatbots impulsionados por IA, como o ChatGPT da OpenAI e o Bard do Google.

A evolução que Nayak traçou foi aquela em que as inovações na compreensão da linguagem se tornaram cada vez mais importantes para os ganhos na qualidade da busca, enquanto o volume de consultas de busca em si se tornou menos importante.

Em determinado momento, Nayak citou uma mudança em que o uso de um terço a menos de dados não trouxe "nenhuma queda significativa na qualidade da busca". O software inteligente, sugeriu ele, importa mais do que mais dados.

Em seu depoimento no início desta semana, Michael Whinston, especialista econômico do Departamento de Justiça, estimou que os acordos exclusivos do Google bloquearam concorrentes entre um terço e metade de todas as consultas de busca nos Estados Unidos.

"O poder dos padrões é muito significativo", afirmou Whinston, economista do Instituto de Tecnologia de Massachusetts.

Whinston baseou sua análise em documentos internos fornecidos pelo Google, Microsoft, DuckDuckGo e outros serviços de busca para determinar sua estimativa de "taxa de exclusão" como resultado dos contratos do Google.

Advogado principal da empresa no caso, John Schmidtlein observou que contratos exclusivos eram prática comum no negócio de busca. Mas Whinston disse que o tamanho dos acordos do Google era impressionante.

"Quando você vê o Google pagando bilhões e bilhões e bilhões, deve haver um motivo", disse ele. "Isso é a primeira coisa que, como economista, me chama a atenção".

Sundar Pichai, CEO do Google, chega para acompanhar julgamento contra a empresa
Sundar Pichai, CEO do Google, chega para acompanhar julgamento contra a empresa - Mandel Ngan / AFP

Em seu depoimento, Nayak discutiu os investimentos que o Google fez em busca, incluindo o acúmulo e a atualização constante de um vasto índice da web, que inclui centenas de bilhões de documentos, e o emprego de um exército de 16 mil avaliadores humanos em todo o mundo, que avaliam a relevância e confiabilidade dos resultados da busca.

Kenneth Dintzer, advogado principal do Departamento de Justiça, pressionou Nayak a admitir que as melhorias do Google na busca dependem de enormes quantidades de dados do usuário— muito mais do que seu concorrente mais próximo, o Bing da Microsoft.

Nayak reconheceu que os dados eram cruciais, mas ele se manteve na linha de defesa do Google. "Maior nem sempre é melhor", disse ele.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.