Apple e Disney suspendem anúncios no X após Musk endossar postagem antissemita

Bilionário concordou com mensagem que diz que judeus usam contra os brancos a mesma lógica de ódio de que reclamam

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Ryan Mac Brooks Barnes Tiffany Hsu
The New York Times

A repercussão do endosso de Elon Musk a uma teoria da conspiração antissemita no X, ex-Twitter, ganhou força nesta sexta-feira (17) quando grandes anunciantes interromperam seus gastos com publicidade na rede social.

A Walt Disney, a Lionsgate e a Paramount disseram que pausaram seus gastos no X. A Apple, que gasta dezenas de milhões de dólares por ano na plataforma, também suspendeu a publicidade, segundo uma pessoa familiarizada com o assunto.

As empresas deram sequência à decisão da IBM, que anunciou redução de gastos com publicidade no X na quinta-feira (16).

Elon Musk, CEO da SpaceX e da Tesla e dono do X, ex-Twitter - Mandel Ngan - 13.set.2023/AFP

Musk, que comprou o Twitter no ano passado e o renomeou como X, tem sido alvo de polêmicas há meses por permitir e até incentivar comentários antissemitas no site.

A situação se intensificou na quarta-feira (15), quando o bilionário da tecnologia concordou com uma postagem no X que acusava pessoas judias alvo de antissemitismo durante a guerra Israel-Hamas de tentarem "impor contra os brancos a mesma lógica de 'nós contra eles' de que eles reclamam" e apoiarem a imigração de "hordas de minorias".

"Está aí uma verdade", respondeu Musk.

Grupos judaicos compararam a declaração na postagem original a uma crença conhecida como teoria da substituição, uma teoria da conspiração que postula que imigrantes não brancos, organizados por judeus, pretendem substituir a raça branca. Essa ideia alimentou Robert Bowers, que expressou ódio contra pessoas judias online antes de matar 11 fiéis na sinagoga Tree of Life em Pittsburgh em 2018.

Nesta sexta-feira (17), a Casa Branca condenou Musk, 52, por impulsionar a teoria da conspiração antissemita. Andrew Bates, porta-voz da Casa Branca, disse em um comunicado que era "inaceitável repetir a mentira repugnante por trás do ato mais fatal de antissemitismo na história americana a qualquer momento, muito menos um mês após o dia mais mortal para o povo judeu desde o Holocausto".

Um porta-voz do X se recusou a comentar sobre as pausas na publicidade, e a Apple não respondeu. A decisão da Apple foi revelada inicialmente pelo portal Axios, e a da Lionsgate, pela Bloomberg.

Linda Yaccarino, CEO do X, postou no site na quinta-feira (16) que a empresa havia sido "extremamente clara sobre nossos esforços para combater o antissemitismo e a discriminação". Mas, nesta sexta-feira (17), Musk concordou com uma postagem no X que sugeriu que anunciantes como a IBM estavam se afastando da plataforma para salvar a reputação.

Ele posteriormente disse que contas que fizessem "chamadas claras para violência extrema" seriam suspensas, destacando duas frases associadas a apoiadores palestinos que não seriam toleradas no site.

Os anunciantes têm sido cautelosos em relação ao X desde que Musk comprou a rede social em outubro passado e disse que queria mais liberdade de expressão e relaxaria as regras de moderação de conteúdo. Isso significava que a plataforma teoricamente poderia exibir anúncios de marcas ao lado de postagens com discurso ofensivo ou odioso.

Muitas empresas, incluindo General Motors e Volkswagen, hesitaram em vários momentos ao longo do último ano em ter seus anúncios aparecendo ao lado de um aumento documentado de discurso de ódio, desinformação e propaganda estrangeira no X.

Em abril, Musk disse que quase todos os anunciantes haviam retornado, sem indicar se estavam gastando nos mesmos níveis; ele posteriormente observou que a receita publicitária havia caído 50%.

Musk também oscilou entre ameaçar qualquer anunciante que ousasse interromper seus gastos e cortejá-los escolhendo Yaccarino, ex-executiva de alto escalão da NBCUniversal, para substituí-lo como CEO.

Ele brigou publicamente com grandes anunciantes como a Apple e teve uma rotatividade de executivos de vendas encarregados de manter relacionamentos na indústria publicitária. As principais empresas de publicidade, como a IPG, instaram seus clientes a se afastarem do X.

A publicidade representava cerca de 90% da receita do Twitter antes de Musk comprar a empresa. No mês passado, o X informou aos funcionários que a empresa estava avaliada em US$ 19 bilhões. Isso foi reduzido em relação aos US$ 44 bilhões que Musk pagou.

A sensibilidade aumentada em relação ao antissemitismo, a propensão de Musk a brigas públicas e o cansaço geral após meses de polêmica em torno do X deixaram muitos profissionais de publicidade hesitantes em se manifestar nesta sexta-feira.

"Os clientes sempre tiveram que tomar decisões sobre o conteúdo com o qual desejam ou não ser associados", disse Renee Miller, fundadora da agência de publicidade Miller Group em Los Angeles, em um email. "Geralmente aconselhamos nossos clientes a não tomar uma posição política abertamente pública".

A IBM, que cortou cerca de US$ 1 milhão em gastos com publicidade que havia se comprometido com o X pelo resto do ano, disse na quinta-feira que tem "tolerância zero para discurso de ódio e discriminação".

A empresa de tecnologia tomou a decisão após um relatório nesta semana do Media Matters for America, um grupo de esquerda, que disse que anúncios de empresas, incluindo Apple e IBM, estavam aparecendo no X ao lado de postagens que apoiam o nacionalismo branco e o nazismo. Musk postou na quinta-feira à noite que "o Media Matters é uma organização maligna".

Angelo Carusone, presidente e CEO do Media Matters, disse que o "nos chamar de malignos" por apontar o que estava no X não é "diferente de qualquer conta de direita que destacamos". Ele acrescentou que o X "não apenas perderá dinheiro com a Apple, mas também a pedra fundamental de sua estratégia para reconquistar anunciantes".

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