Descrição de chapéu Bradesco Santander Itaú

Bancos lucram R$ 25 bilhões no 3º trimestre e sinalizam que o pior já passou

Bradesco puxa freio de mão, enquanto BB, Santander e Itaú aumentam concessão de crédito

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São Paulo

Os quatro grandes bancos brasileiros listados na Bolsa de Valores reportaram lucros que somam R$ 25 bilhões no terceiro trimestre de 2023. O número é ligeiramente maior do que o resultado do segundo trimestre, de R$ 24,3 bilhões, e semelhante ao mesmo período de 2022.

Entre eles, porém, os momentos são distintos. Enquanto Banco do Brasil, Itaú Unibanco e Santander concederam mais crédito, o Bradesco puxou o freio de mão nos empréstimos para melhorar a qualidade da carteira.

Segundo analistas, os números do período indicam que a crise de crédito do setor, descarrilhada pela alta na Selic em 2021 e 2022 e exacerbada pelo escândalo contábil da Americanas, ficou para trás.

Fachadas de agências do Itaú, Bradesco, Santander e Banco do Brasil
Fachadas de agências do Itaú, Bradesco, Santander e Banco do Brasil; o lucro dos quatro bancos no terceiro trimestre de 2023 soma R$ 25 bilhões - Eduardo Anizelli/Folhapress; Rubens Cavallari/Folhapress; Divulgação; Fernando Bizerra/Agência Senado

"BB e Itaú seguem com margens bem elevadas e devem continuar assim. Já Santander e Bradesco, que têm uma carteira mais focada em consumo, com bastante concessão de empréstimos sem garantia, ainda não recuperaram a rentabilidade", diz José Eduardo Daronco, analista da Suno Research.

Os esforços dos bancos iniciados já no segundo trimestre para recuperar a rentabilidade parecem estar dando certo. As carteiras de crédito aumentaram, mesmo que ligeiramente, enquanto a PDD (Provisão para Devedores Duvidosos) e a inadimplência caíram na maioria dos casos.

Além disso, os efeitos da Americanas ficaram concentrados no primeiro semestre, quando os bancos registraram a maior parte das dívidas da varejista como perdas contábeis.

Neste terceiro trimestre, o maior impacto da recuperação judicial da empresa foi no Banco do Brasil, que aumentou a cobertura contra o calote da Americanas de 70% do que a varejista devia, no segundo trimestre, para 100%, o que elevou sua taxa de inadimplência acima de 90 dias. Sem esse efeito, o índice teria recuado de 2,65% em junho para 2,63% em setembro.

SANTANDER

O lucro do Santander Brasil foi de R$ 2,729 bilhões no terceiro trimestre deste ano, uma queda de 12,60% se comparado ao mesmo período de 2022. Em relação ao segundo trimestre, o valor representa uma melhora de 18,20%.

O ROE (retorno sobre o patrimônio líquido, que mede a rentabilidade da operação) foi de 13,10% de julho a setembro, o melhor do ano até então, mas menor do que os 15,6% do terceiro trimestre passado.

O presidente do banco, Mario Leão, disse que a pior parte do ciclo de crédito teria ficado para trás e que a instituição caminha para ampliar o ROE para a faixa entre 15% e 20%.

De julho a setembro, a carteira de crédito do Santander cresceu 7,9% na comparação anual, para R$ 625,5 bilhões.

Já a inadimplência caiu para o melhor patamar desde o primeiro trimestre de 2022, indo a 3%. No trimestre passado, ela estava a 3,3%.

Segundo analistas da Genial Investimentos, essa é a primeira melhora expressiva na inadimplência desde o terceiro trimestre de 2020.

Com isso, o banco reduziu a PDD em 6%, para R$ 5,618 bilhões.

Para o BB Investimentos, esse resultado marca um "ponto de inflexão no quesito qualidade de crédito, que deve ser um gatilho para melhorias sequenciais, apesar de diversas linhas ainda evidenciarem momento desafiador."

ITAÚ UNIBANCO

Mesmo com o prejuízo de R$ 1,2 bilhão do fim da operação na Argentina, o Itaú Unibanco teve um lucro acima do esperado, de R$ 9,04 bilhões no terceiro trimestre de 2023. O número representa um crescimento de 11,9% na comparação com o mesmo período do ano anterior. Já na comparação com o segundo trimestre de 2023, o resultado é 3,4% maior.

O ROE manteve o ritmo de melhora dos trimestres anteriores e foi de 21% para 21,1%. Segundo Daronco, da Suno, o resultado do Itaú foi impulsionado pela exposição do banco a clientes de alta renda, que têm inadimplência menor.

A carteira de crédito total cresceu 4,7% ante o terceiro trimestre de 2022, atingindo R$ 1,16 trilhão, em linha com a inflação do período. Já em relação ao segundo trimestre de 2023, que teve aumento de 6,2%, houve uma desaceleração. "Esta descida pode ser vista como um sinal de alerta, uma vez que o ritmo atual está ligeiramente abaixo do limite inferior da orientação do banco", afirmam analistas da XP.

A PDD totalizou R$ 9,212 bilhões no terceiro trimestre de 2023, alta trimestral de 11,3%. Mas, na comparação anual, o número é 4,1% menor. "O custo de crédito apresentou a primeira melhora desde a escalada de piora em meados de 2021", diz a Genial.

Já a inadimplência do banco no Brasil se manteve em 3,5%.

BANCO DO BRASIL

O Banco do Brasil teve um lucro de R$ 8,785 bilhões no terceiro trimestre. O resultado é 4,5% superior ao mesmo período do ano passado e exatamente o mesmo registrado no segundo trimestre de 2023.

O ROE também permaneceu estável, em 21,3% —o maior entre os pares.

A carteira de crédito ampliada totalizou R$ 1,07 trilhão em setembro, alta anual de 10%, impulsionada pelo crescimento de 17% nas linhas para o agronegócio.

A PDD, por sua vez, somou R$ 7,516 bilhões, um aumento de 4,5% ante o segundo trimestre e um salto de 66,4% em relação a 2023.

A área de pesquisas de ações do Santander avalia que o balanço é sólido e espera um crescimento de dois dígitos para o BB em 2024. "Reiteramos o BB como nossa principal escolha [de investimento no setor]", dizem os analistas.

Na mesma linha, o Goldman Sachs espera um crescimento de 10% na carteira no ano que vem, acima do que o banco americano prevê para os concorrentes privados do BB.

BRADESCO

O Bradesco lucrou R$ 4,6 bilhões no terceiro trimestre deste ano, 11,5% a menos do que no mesmo período de 2022. Na comparação com o segundo trimestre de 2023, o resultado é 2,3% maior.

Mais da metade do desempenho é fruto das operações de seguros, que renderam R$ 2,35 bilhões.

Já o ROE caiu de 13% em 2022 para 11,3%. Em relação ao trimestre passado, a queda foi menor, de 0,2 ponto percentual.

"O Bradesco tem um público com uma renda menor do que o Itaú, o que traz mais inadimplência no cartão de crédito. Como esperado, ele teve o pior resultado do setor, e não vejo uma rápida recuperação na rentabilidade", diz Daronco, da Suno.

O presidente-executivo do banco, Octavio de Lazari Junior, disse nesta sexta-feira (10) que o ROE atual está abaixo do que considera adequado.

A carteira de crédito expandida ficou estável em relação ao terceiro trimestre 2022, em R$ 877,5 bilhões, sem acompanhar a inflação. A maioria dos novos empréstimos foi para o agronegócio, representando um aumento anual de 34%.

"Ainda vemos o banco adotando uma abordagem cautelosa em relação aos empréstimos (particularmente a pequenas e médias empresas), o que deve melhorar a qualidade dos ativos, mas reduzir a expansão de primeira linha", escreveram analistas do Goldman Sachs, que veem uma lenta recuperação pela frente.

A PDD caiu de R$ 10,3 bilhões no segundo trimestre para R$ 9,2 bilhões. Mas, em relação ao terceiro trimestre de 2022, a provisão cresceu 26,4%.

O indicador de inadimplência acima de 90 dias, por sua vez, teve leve melhora em relação ao trimestre passado: caiu 1,1 ponto percentual, para 5,6%. Em relação a setembro de 2022, porém, aumentou 1,7 ponto percentual.

Segundo Lazari, o ápice do índice de inadimplência passou. "Agora, o que temos que trabalhar é na melhoria na margem com clientes", disse em entrevista a jornalistas.

O executivo afirmou ainda que outubro já teve uma melhora nas contas em atraso e que espera uma redução no custo do crédito no quarto trimestre de 2023.

"Apesar de pairar no imaginário dos investidores a recuperação plena e completa do Bradesco à velha forma, incluindo um ROE na casa dos 20%, neste momento vemos poucos indícios não apenas da velocidade mas da possibilidade deste cenário, ainda que a inadimplência comece a dar sinais de melhora", diz Rafael Reis, analista da BB Investimentos.

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