Descrição de chapéu The New York Times

Crise entre fundadores e divórcio atormentam um dos maiores fundos de hedge do mundo

Two Sigma, fundo com US$ 60 bilhões em ativos, tem sido atormentada por problemas que podem prejudicar seu futuro

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Maureen Farrell
The New York Times

A Two Sigma, um dos maiores fundos de hedge (fundos de proteção) do mundo, sempre se orgulhou de duas coisas —dos algoritmos sofisticados internos que impulsionam suas negociações e de seu compromisso com o sigilo. Mas problemas internos recentes obrigaram a Two Sigma a expor seus problemas.

Em março, a empresa de Nova York com US$ 60 bilhões em ativos tomou a medida incomum de informar a seus investidores em um documento que a relação entre David M. Siegel e John A. Overdeck, os bilionários que cofundaram e comandam a empresa, havia se tornado tão tóxica que poderia prejudicar o futuro da Two Sigma.

Em outubro, houve mais más notícias —um funcionário havia alterado alguns modelos de negociação sem o conhecimento da empresa, afetando seus retornos e deixando-a na mira dos reguladores.

E no final de outubro, a vida pessoal de Overdeck foi exposta depois que sua esposa alegou em um processo relacionado ao iminente divórcio que, sem o conhecimento dela, ele e os advogados do casal haviam transferido bilhões de dólares de seus ativos conjuntos para fundos que os protegeriam dela, dos três filhos do casal e do IRS [a Receita Federal dos EUA].

É o tipo de confusão que qualquer empresa de investimento quer evitar por medo de perder clientes e talentos —e especialmente uma que evitou os holofotes durante grande parte de seus 22 anos de existência.

Investidores na Bolsa de Valores de Nova York (NYSE), nos Estados Unidos
Investidores na Bolsa de Valores de Nova York (NYSE), nos Estados Unidos - Brendan McDermid - 7.jul.2023/Reuters

Em um perfil de 2015 da Two Sigma, a revista Forbes disse que os dois fundadores eram "obcecados por evitar publicidade e manter os segredos da empresa em sigilo".

As divulgações levantaram questões de investidores e reguladores sobre os controles internos da Two Sigma. As funções de conformidade e governança da empresa tiveram dificuldades para acompanhar o rápido crescimento no número de funcionários e nos fundos sob sua gestão, disseram alguns ex-funcionários.

Jeff Sonnenfeld, professor da Escola de Administração de Yale, disse que os problemas na Two Sigma podem fazer com que os investidores fiquem cautelosos em investir seu dinheiro na empresa ou mantê-lo lá. "Há muitos outros lugares para investir", disse Sonnenfeld. "Não há motivo para colocar dinheiro lá".

Fundada em 2001 por Siegel, Overdeck e Mark Pickard, que desde então se aposentou, a Two Sigma é uma das poucas empresas "quant", que aplicam uma abordagem quantitativa —o uso de modelos matemáticos em vez de tomada de decisão humana para encontrar padrões em dados históricos e outras informações financeiras— para negociar ações, títulos e ativos mais esotéricos.

Siegel, 62, tem doutorado em ciência da computação pelo MIT, e Overdeck, 53, é um gênio da matemática que se formou na Universidade de Stanford aos 19 anos e foi o principal tenente de Jeff Bezos nos primeiros dias da Amazon.

A Two Sigma rapidamente acumulou dezenas de bilhões de dólares em ativos, alcançando retornos consistentes e acima da média para os clientes.

Seu sucesso permitiu que recrutassem os melhores matemáticos e engenheiros para construir seus modelos de negociação proprietários.

Constantemente classificada entre os 10 maiores fundos de hedge do mundo, a Two Sigma tem mais de 2.200 funcionários, em comparação com cerca de 500 no meio da década de 2010. A empresa tem 12 escritórios divididos entre Estados Unidos, Europa e Ásia.

Além de seu principal fundo de hedge, a Two Sigma também administra fundos imobiliários, de capital de risco e outros negócios.

Com sede no elegante bairro de SoHo, em Nova York, em vez do distrito comercial de Midtown, a Two Sigma construiu uma cultura que buscava imitar alguns dos elementos das empresas de tecnologia do Vale do Silício, incluindo torneios de xadrez e pingue-pongue.

Siegel e Overdeck têm cada um patrimônio líquido estimado em mais de US$ 7 bilhões, de acordo com a Forbes.

Mas, ao longo da última década, a parceria azedou. Embora as origens da disputa sejam incertas, alguns observadores atribuíram isso à natureza competitiva dos dois. A rivalidade piorou a ponto de mal se falarem. Por não conseguirem ficar na mesma sala, até mesmo decisões simples de processos e de pessoal se tornam complicadas, de acordo com funcionários e ex-funcionários.

Ex-funcionários descreveram ter que ir e voltar entre os dois homens para chegar a uma decisão. A Two Sigma não realiza reuniões gerais porque os fundadores se recusam a se dirigir a funcionários ou investidores juntos em eventos, disseram duas pessoas com conhecimento do funcionamento interno da empresa.

A disputa prejudicou tanto a gestão básica que a Two Sigma a divulgou pela primeira vez em um documento da CVM dos Estados Unidos em março como um risco "material", observando que as discordâncias entre os cofundadores afetaram a definição dos papéis dos executivos seniores, o planejamento de sucessão e a estrutura de gestão das várias equipes da empresa.

A disputa pode afetar a "capacidade da Two Sigma de reter ou atrair funcionários", incluindo os mais experientes, afirmou o documento, e dificultar o cumprimento de aspectos-chave de seus trabalhos, como pesquisa, engenharia e negócios corporativos.

Caso as discordâncias continuem, a Two Sigma acrescentou que sua "capacidade de cumprir as demandas dos clientes pode ser afetada ao longo do tempo".

"É um lembrete de que você não deve depositar sua confiança em algoritmos e inteligência artificial", disse Sonnenfeld. "Eles ainda estão sujeitos às fraquezas humanas."

No início de outubro, a empresa enviou duas cartas aos investidores revelando que um de seus funcionários, que construiu modelos de pesquisa usados em determinadas carteiras de negociação, fez alterações neles sem permissão da empresa.

Em uma das cartas, a Two Sigma afirmou que essas alterações resultaram em impactos positivos de US$ 450 milhões e impactos negativos de US$ 170 milhões em vários fundos, tornando difícil para os investidores avaliarem os retornos reais fornecidos pela empresa. A empresa informou aos investidores que manteria os ganhos inesperados, mas compensaria as perdas inesperadas.

A SEC está investigando esses eventos na Two Sigma, de acordo com uma pessoa com conhecimento da situação. O Wall Street Journal relatou anteriormente a investigação regulatória.

Pelo menos um cliente da Two Sigma está tentando determinar se os retornos apresentados até agora pelo fundo de hedge para 2023 são legítimos, de acordo com alguém que trabalha para o cliente.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.