Cultura Inglesa fecha mais de 30% das unidades no Rio e professores relatam apreensão

Em meio à competição no setor de idiomas, justificativa é de ganho de eficiência operacional

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São Paulo

A Cultura Inglesa, tradicional escola de inglês presente em sete estados e no Distrito Federal, decidiu que irá fechar 13 unidades em 20 de dezembro, segundo circular interna da empresa, de novembro, à qual a Folha teve acesso.

De acordo com o documento, as operações serão encerradas em dez unidades do município do Rio de Janeiro, duas de Niterói e uma de São Paulo, sob a justificativa de reestruturação e ganho de eficiência operacional.

Na capital do Rio, significa o fechamento de mais de 30% das escolas operantes, indo de 27 para 17 ao final do semestre letivo. No estado, o número vai de 59 para 47. No país, de 121 para 108.

A empresa informou, em nota oficial, que haverá o fechamento de unidades, sem detalhar os números e os locais, e que a decisão faz parte de um plano estratégico de reestruturação da instituição.

"O movimento ainda ocorre em linha com seu propósito institucional de atualizar as ofertas, em sintonia com as demandas de mercado, para a promoção de uma experiência moderna e dinâmica de aprendizado para seus estudantes."

Área interna do prédio da unidade da Cultura Inglesa, em Pinheiros. (Foto: Keiny Andrade/Folhapress.

Ainda de acordo com o comunicado, serão encerradas as filiais: Méier 1 - Pedro de Carvalho, Cosme Velho, Grajaú, Tijuca 1 - Almirante Cochrane, Vista Alegre, Madureira, Barra Parque Olímpico, Copacabana, Recreio e Quintino. Em Niterói, São Francisco e Icaraí 2 - Roberto Silveira. Em São Paulo, a escola no Jardim Marajoara, região centro-sul da capital.

O movimento ocorre em meio à dificuldade de reaver o número de alunos matriculados durante o período o pré-pandemia, segundo informou uma fonte interna. A Cultura não teria conseguido recuperar as perdas e estaria fazendo ajustes para minimizar o impacto nas contas.

Exemplo disso é o fechamento da Tijuca 1 - Almirante Cochrane, com capacidade de abrigar até mil alunos. A notícia surpreendeu a equipe de funcionários: a unidade seria a "queridinha" da empresa, mas a baixa demanda teria inviabilizado a continuidade das operações.

Uma das causas possíveis para o baixo retorno seria o acirramento do mercado de escolas de idiomas. "É uma retração de toda a operação, fruto da perda de espaço no mercado. Há uma oferta maciça de cursos de inglês de qualidade na modalidade 100% virtual, aliada ao preço menor por parte dos cursos concorrentes presenciais", diz Gabriel de Britto Silva, advogado especializado em direito empresarial e do consumidor.

Isso impactaria diretamente a geração de receita. "E a locação de imóveis representa uma parte substancial das despesas da empresa", diz ele.

A empresa vem passando por reformulações desde março de 2021, quando a Cultura Inglesa Rio, antes administrada por uma holding de Jorge Paulo Lemann, foi comprada pela irmã paulista, a Acisp (Associação Cultura Inglesa de São Paulo).

De lá para cá, funcionários têm relatado mudanças na cultura organizacional da companhia e no próprio quadro interno. Por exemplo, as equipes de portaria, limpeza e serviços auxiliares no Rio foram terceirizadas, a exemplo do que acontece em São Paulo.

"De fato, boa parte dos problemas das fusões recai na cultura das empresas. São Paulo e Rio têm formas diferentes de enxergar o mercado, e isso se reflete na forma com que a Cultura Inglesa se direciona", diz Roberto Kanter, professor de MBAs da FGV (Fundação Getulio Vargas).

Em relação aos alunos, funcionários esperam que haja uma redução abrupta no número de matrículas no ano que vem, mesmo com a expectativa de desconto na matrícula do próximo semestre para os estudantes afetados. Boa parte deles frequentava filiais mais próximas de casa, da escola ou do trabalho, e o deslocamento pode ser um empecilho.

Tensão no ar

Entre os professores das unidades afetadas, o clima é de apreensão. Ainda que nenhum deles tenha sido demitido oficialmente, já existiria, segundo relatos internos, um PDV (Plano de Demissão Voluntária) para aqueles que não querem tentar a mudança para outras unidades.

Eles só saberão se terão espaço em outra filial ao final do semestre letivo, em dezembro.

O corte segue a esteira de outro processo de desligamento de funcionários, classificados pelo SinproRio (Sindicato dos Professores do Município do Rio de Janeiro) como demissões em massa.

Ao final do mês de junho, 41 professores da instituição foram demitidos no município do Rio de Janeiro –o equivalente a mais de 20% do total de docentes da Cultura Inglesa no estado. No país, a estimativa do sindicato é que as demissões tenham atingido cerca de 300 profissionais, entre professores e outros funcionários.

"Muitos dos professores demitidos no final de junho tinham 20, 30 anos de casa, e dependiam do plano de saúde oferecido pela Cultura Inglesa", relata Afonso Celso, secretário-geral do SinproRio, à Folha. "Nossa briga foi para que pelo menos o plano de saúde fosse restabelecido, já que muitos dos demitidos eram de mais idade."

Segundo o SinproRio, a negociação não deu certo e a entidade realizou atos de repúdio. Isso, somado a uma briga para reajustar salários de docentes com base na inflação, teria desgastado o relacionamento do sindicato com a Cultura Inglesa.

"Quando ouvimos rumores de que filiais iriam fechar, fizemos um novo contato para tentar uma negociação. Eles disseram que só falam com a gente agora na Justiça", afirmou Celso.

Sindicato e profissionais ouvidos pela reportagem temem que a forma de contratação de docentes mude, o que a Cultura nega que vá acontecer. Hoje admitidos como professores, no Rio, os funcionários temem que seja feita a troca para a categoria de instrutores, o que flexibilizaria direitos e diminuiria a base salarial.

Questionada sobre isso, a Cultura Inglesa disse: "O atual movimento de fechamento de suas unidades e realocação de profissionais se orienta por razões de otimização de sua estrutura e ganho de eficiência operacional. A instituição esclarece que não há plano voltado para alterações no regime de contratação e modelo de trabalho vigentes em suas unidades, vinculados à CLT, e reitera seu compromisso com o respeito, o zelo e a transparência na condução de todo o processo."

A empresa ainda enviou uma nota oficial sobre o encerramento das unidades. Confira a íntegra abaixo.


Nota oficial:

A Cultura Inglesa esclarece que o fechamento de algumas unidades decorre de um plano estratégico de reestruturação e inovação da instituição, visando à otimização e o ganho de eficiência operacional, além da evolução contínua de suas ofertas educacionais.

O movimento ainda ocorre em linha com seu propósito institucional de atualizar as ofertas, em sintonia com as demandas de mercado, para a promoção de uma experiência moderna e dinâmica de aprendizado para seus estudantes.

Nesse contexto, foi necessário e estratégico o encerramento de algumas unidades. A instituição tem conduzido o processo de forma transparente, respeitosa e zelosa, oferecendo todo o suporte necessário na tentativa de realocar alunos e colaboradores em outras unidades ou modalidades de ensino, garantindo que continuem evoluindo em seu aprendizado.

A Cultura Inglesa prioriza a qualidade e as boas práticas, com o aperfeiçoamento constante de suas condutas, reforçando seu compromisso com o ensino de inglês, a educação e a transformação social.

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