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Parcelado sem juros pode estar inibindo crescimento do crédito direto ao consumidor, diz Campos Neto

Presidente do BC diz que tema ainda está em estudo pela autoridade monetária

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Brasília

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse nesta quarta-feira (22) que vê possibilidade de o parcelamento de compras sem juros estar inibindo o crescimento do CDC (crédito direto ao consumidor) com juros mais baixos.

Apesar de ter dito em evento da Frente Parlamentar pelo Livre Mercado, em Brasília, que esse cenário é seu "grande temor", Campos Neto ponderou que não tem certeza quanto a esse diagnóstico e que o tema ainda está sendo estudado pelo BC.

Presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, em evento nos Estados Unidos - Brendan McDermid - 9.nov.2023/Reuters

"Pode ser que o parcelado sem juros crescendo muito esteja inibindo o crescimento do CDC. Ele tem juros mais altos do que deveria porque está pagando juro de um produto que não tem [juro]. Se isso for verdade, a gente poderia ter uma situação até contrária, de menos parcelado sem juros e muito mais crédito direto ao consumidor com juros mais baixos", afirmou.

O crédito direto ao consumidor é uma modalidade de financiamento que serve para compra de bens, como carros, equipamentos e eletrodomésticos. Para Campos Neto, esse tipo de crédito poderia ser "o grande viabilizador do consumo", mas está "parado há muitos anos" e os bancos transferem custos entre produtos.

Segundo ele, houve um salto de 5% para 15% na fatia correspondente ao uso do parcelado sem juros, que é um produto ligado a cartão de crédito, em todo o crédito do Brasil, enquanto a modalidade do crédito direto ao consumidor ficou praticamente estável, passando de 5% para 6%.

Campos Neto também disse que a inadimplência não é baixa no parcelamento de compras sem juros, embora tenha defendido que essa modalidade não é a única causa do superendividamento da população brasileira.

O presidente do BC também mencionou como causas a liberação de um grande volume de cartões aos cidadãos e o aumento excessivo dos limites de crédito oferecidos pelas instituições financeiras.

"Grande parte da inadimplência é explicada por um número maior de cartões, a gente vê que quanto mais cartões a pessoa tem, mais inadimplência ela tem, independente da renda", disse.

"Outro fator é limite. Nesse processo competitivo, os bancos aumentaram muito os limites, isso também gerou inadimplência. São três fatores com sinal de correlação positiva, ou seja, todos explicam a inadimplência: o número de cartões, o limite [de crédito] e o parcelado sem juros", acrescentou.

O redesenho do parcelamento de compras sem juros tem sido debatido no âmbito das negociações do setor para reduzir as altas taxas cobradas no rotativo do cartão de crédito. No entanto, há um impasse nas negociações.

De um lado, os bancos querem a limitação do número de parcelas sem juros —defendem um escalonamento até chegar a três parcelas. De outro, empresas independentes de maquininhas refutam a necessidade de mudança da modalidade, alegando que o parcelamento não é causa dos altos juros.

Na terça-feira (21), um grupo de 11 entidades de varejo e serviços lançou um movimento nacional em defesa do pagamento parcelado sem juros. A iniciativa, chamada de "Parcelo Sim!", se diz apartidária.

Na semana passada, Campos Neto afirmou que a discussão sobre os juros do rotativo do cartão de crédito é o mais complexo dos problemas que já enfrentou no comando do BC.

O setor tem até o fim de dezembro para resolver o impasse e chegar a uma autorregulação em relação ao juro do rotativo. A lei não faz nenhuma menção a compras parceladas.

Se as entidades não chegarem a um acordo com aval do CMN (Conselho Monetário Nacional) nesse prazo, será aplicável o teto que limita a dívida ao dobro do montante original.

A iniciativa do Congresso buscou dar uma resposta à escalada da taxa de juros cobrada no rotativo, acionado automaticamente quando o cliente deixa de pagar a fatura integral dentro do vencimento.

Em setembro, conforme os últimos dados divulgados pelo BC, a taxa média de juros cobrada pelos bancos de pessoas físicas no rotativo ficou em 441,1% ao ano, a linha de crédito mais cara do mercado. Já a inadimplência na modalidade foi de 49,2%.

Entidades que representam bancos, diversos segmentos de cartões e varejistas se reuniram no dia 7 de novembro em mais uma rodada de negociações envolvendo os juros do rotativo. Desde então, o BC analisa as propostas apresentadas no encontro e prepara um estudo próprio sobre o tema.

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