União de sindicatos e 120 operários desafiam a Tesla na Suécia

Legislação sueca e a ação conjunta de sindicatos viraram uma ameaça às operações da montadora de Elon Musk

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Melissa Eddy
The New York Times

A Tesla não fabrica carros na Suécia, e o país é um mercado relativamente pequeno para a montadora. Mas uma greve iniciada pelos mecânicos há uma semana está tomando proporções maiores que a expectativa.

A paralisação tem como objetivo fazer com que a Tesla aceite um acordo coletivo de trabalho. A previsão é que representantes do sindicato e da empresa se reúnam nesta semana. A Tesla não respondeu a um pedido de comentário.

Representante do sindicato IF Metall protesta em frente à sede da Tesla, na Suécia
Representante do sindicato IF Metall protesta em frente à sede da Tesla, na Suécia - Jessica Gow/TT News Agency via Reuters

O sindicato IF Metall tem pedido há anos para que a montadora entre em negociações sobre a adoção de um acordo coletivo que estabeleceria as bases para salários e benefícios para os cerca de 120 mecânicos empregados pela Tesla para trabalhar em suas instalações de serviço na Suécia. Cerca de 90% de todos os trabalhadores no país são cobertos por tais acordos.

Desde que o sindicato convocou a greve em 27 de outubro, dezenas dos mecânicos sindicalizados têm ficado em casa, interrompendo os agendamentos de serviço para usuários dos carros da Tesla.

A greve teve o envolvimento também dos trabalhadores dos quatro maiores portos do país que prometem deixar de descarregar navios com suprimentos para a Tesla nesta terça-feira (7) em apoio aos grevistas.

O porta-voz do IF Metall, Jesper Pettersson, explicou que o movimento não teve a adesão total e parte dos setores da Tesla não foi atingida pela paralisação. "Não é fácil estar em greve", afirmou Pettersson.

Mas a ação, combinada com a ameaça de outros sindicatos se envolverem, parece ter sido suficiente para forçar a Tesla a negociar. Uma reunião entre o sindicato e representantes da empresa estava agendada para esta segunda-feira (6), disse Pettersson.

Apesar de não ser um dos países mais populosos do mundo, a Suécia tem a terceira maior participação mundial nas vendas de veículos elétricos, com 32%, atrás apenas de Noruega e Islândia, segundo o instituto de pesquisas World Resources Institute.

A Tesla está com uma base de compradores em expansão e e seu modelo Y, um SUV fabricado na Alemanha, tem sido o veículo elétrico mais vendido na Suécia este ano.

O proprietário da Tesla, Elon Musk, tem resistido há anos aos esforços de sindicalização dos trabalhadores da empresa. Em 2018, ele ameaçou reduzir os salários de funcionários nos EUA que buscavam se juntar em um sindicato. Posteriormente, a situação foi considerada uma violação às leis trabalhistas.

German Bender, analista do mercado de trabalho da Arena (uma empresa baseada em Estocolmo), disse que a Tesla pode "ver esse pequeno conflito na Suécia como um risco de contágio para outros mercados".

Na Alemanha, o IG Metall, um sindicato afiliado ao IF Metall da Suécia, tem buscado organizar a fábrica da Tesla em Grunheide, nos arredores de Berlim.

Nos Estados Unidos, a Tesla desponta como o próximo alvo após os ganhos significativos em salários e benefícios conquistados pela UAW (sindicato dos metalúrgicos, na sigla em inglês) com a greve que durou seis semanas nas três grandes montadoras de Detroit: Ford, GM e Stellantis.

Loja de brinquedos é antecedente

O poder do trabalho organizado na Suécia é considerável. Cerca de 70% da força de trabalho do país está filiada a um sindicato, e a legislação sueca permite greves de solidariedade em apoio aos esforços de outros sindicatos.

Foi o que aconteceu em 1995, quando outra empresa americana conhecida começou a fazer negócios na Suécia. A loja de brinquedos Toys R Us não estava disposta a aceitar um acordo coletivo de trabalho, e seus funcionários na Suécia entraram em greve.

Embora a empresa empregasse apenas 80 pessoas no país, outros sindicatos se uniram à causa, incluindo trabalhadores dos correios, transporte e serviços municipais, que interromperam a entrega de correspondências e a coleta de lixo. Após três meses, a empresa assinou um acordo.

Em apoio ao IF Metall, o Sindicato dos Trabalhadores de Transporte da Suécia disse que, a partir das 12h (horário local) desta terça-feira, os trabalhadores portuários não descarregarão mais carros da Tesla.

"Quando o IF Metall pede o apoio do Transporte, é importante e óbvio que ajudemos, para defender o acordo coletivo e o modelo de mercado de trabalho sueco", comunicou o sindicato dos trabalhadores de transporte.

O IF Metall não solicitou apoio de outros sindicatos, aguardando o resultado das negociações desta segunda-feira, disse Pettersson.

A Suécia depende de acordos coletivos negociados entre empregadores e sindicatos em cada setor industrial para estabelecer os termos básicos do emprego.

No acordo que o IF Metall está negociando, os trabalhadores da Tesla teriam um pacote de seguro mais amplo, treinamento garantido para fazer a transição para um emprego diferente caso o deles seja cortado e aumentos salariais anuais, disse o sindicato. Mesmo os trabalhadores que não são membros de um sindicato são cobertos por acordos coletivos.

As empresas estrangeiras não são as únicas que relutam em apoiar o modelo sueco de acordos coletivos de negociação. Algumas empresas nacionais —como a Klarna, uma gigante que atua na área de pagamentos no modelo "compra agora e pague depois", e a provedora de streaming Spotify— têm resistido aos acordos coletivos, citando a necessidade de permanecerem flexíveis e ágeis na indústria de tecnologia em rápida mudança.

Após oito meses de negociações, dois dos sindicatos que representam os funcionários da Klarna haviam ameaçado parar de trabalhar na próxima semana. A paralisação foi evitada após um acordo obtido na última sexta-feira (3), segundo a empresa.

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