Uma empresa lançou capuccinos sem adição de açúcares e zero lactose. Outra aposta na venda de um energético gaseificado contendo café, enquanto há negócios também envolvendo o grão e suco de laranja ou chocolate.
O café tem ampliado nos últimos anos sua forma de consumo com o objetivo de atrair o público jovem, fatia de consumidor considerada essencial para manter o alto consumo da bebida no país.
Pesquisa da Euromonitor International sobre tendências de consumo da bebida entre 2014 e 2019, encomendada pela Abic (Associação Brasileira da Indústria de Café), mostrou que a faixa etária entre 16 e 25 anos é a que mais se interessa pelo café, principalmente em grandes cidades.
Mesmo com a bienalidade negativa neste ano –o café produz mais num ano e menos no outro–, a produção de café do país deve atingir 54,36 milhões de sacas de 60 kg, 6,8% mais que a safra passada.
Ainda que em 2022, ano de bienalidade positiva, as lavouras tenham sofrido com pouca chuva, estiagens longas e temperaturas acima da média, o total da produção deste ano é visto como muito positivo e importante num cenário global que deve registrar estagnação ou ligeira retração nas exportações do Vietnã e redução na Indonésia.
A produção brasileira –o país é o maior produtor– representa mais de 31% da safra mundial, estimada pela Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) em 174,3 milhões de sacas.
Na Café Raiz, de São Sebastião do Anta, na região das Matas de Minas, o produtor rural Inacio Soares representa a quarta geração de cafeicultores da família, que agora fez uma parceria para investir num cold brew, energético tendo o café como base, nos sabores tangerina, limão e laranja.
A bebida, vendida por R$ 14,99 (garrafa de 300 ml), é obtida a partir de um processo de extração do café a frio, numa infusão de grãos por um período que pode chegar a 12 horas. A diferença dela para outra bebida com café, o iced coffee, é que esta é feita com água quente e, depois, resfriada, enquanto o cold brew já é produzido com água fria.
Soares conta que a sua participação no café é recente, iniciada há cerca de cinco anos após a morte de seu pai –prometeu a ele que manteria a família na atividade e que avançaria no que fosse possível.
"Investir em outras áreas ligadas ao café é um caminho importante", disse.
Tio de Soares, Wesley Silva é diretor comercial da marca e disse que a bebida energética integra uma sequência de outros produtos lançados nos últimos anos. Em 2020, a empresa apresentou seu café gourmet e, no ano seguinte, o tipo especial, que hoje é exportado para 48 países.
"Estamos fazendo parcerias com várias empresas, uma delas é para a comercialização de drágeas de café com chocolate." O próximo passo é colocar o café em geleias, conta ele.
Já a Três Corações, gigante do setor, tem atuado nessa fatia de público também ao investir em eventos como Rock in Rio e o Carnaval e lançar um whey tendo o café como base. Vendido em frascos de 250 ml, o produto foi lançado com quatro sabores e está no mercado por preços próximos a R$ 10.
O presidente do grupo, Pedro Lima, afirmou que o objetivo é conseguir atender toda a família, razão pela qual participa também de eventos como The Town e Campus Party.
"É um modo de eu me aproximar do jovem. Nosso negócio é atender a família, o filho da família, o jovem, e que esse jovem aprenda a tomar café. Embora ele não vá querer tomar só o café de coador, normal, ele quer a experiência dos capuccinos nossos [...] É um energético natural."
A cafeicultora Patrícia Carvalho, consultora de cafés especiais da marca, disse que oferecer refil de café por R$ 10 no Rock in Rio foi uma experiência de sucesso.
"Deu muito certo. É o café indo para ocasiões em que ele não estava antes [...] Você muda o formato, muda o consumidor. O café tem um público, vamos dizer, [a partir] de 25, 30 anos, e a gente quer começar a conversar com o consumidor com ele com 15 anos, 18 anos, 20, diminuir a idade da porta de entrada", disse.
Especialistas apontam que é preciso ter atenção com o consumo entre crianças e jovens. A SBP (Sociedade Brasileira de Pediatria) indica que cafeína não deve ser consumida por crianças de até dois anos, enquanto a AAP (Academia Americana de Pediatria), mais radical, defende zero cafeína até os 12 anos.
Bruno Aguiar, secretário-executivo da BRFair (Associação das Organizações de Produtores Fairtrade do Brasil), disse que a busca pelos jovens exige que o setor produtivo se qualifique cada vez mais, já que o perfil desse consumidor é de mais exigência.
Na SIC (Semana Internacional do Café), em Belo Horizonte, o estande da associação ofereceu já na edição de 2022 suco de laranja com café –servido bem gelado.
"Ele é mais exigente que as gerações anteriores e é um consumidor que quer fazer a diferença. Só com produtos novos é que o mercado vai conversar com esse público novo. Ele quer também ter informações sobre como aquilo que vai consumir foi produzido, que agrotóxico foi usado", disse.
A SIC, realizada entre os dias 8 e 10 de novembro no Expominas, em Belo Horizonte, recebeu mais de 20 mil visitantes de 30 países e movimentou R$ 55 milhões em negócios.
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