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Livro usa estatística para explicar por que macacos investem melhor que day traders

'Trader ou Investidor?' mostra como vieses de comportamento se relacionam com o bolso e como fazer para se livrar deles

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São Paulo

Quando um bando de macacos invadir sua casa, te amarrar numa cadeira de escritório e assumir o controle de suas finanças, não estranhe se seus investimentos começarem a dar certo.

Essa é uma das ideias centrais de "Trader ou Investidor?", dos economistas Bruno Giovannetti e Fernando Chague, professores da FGV (Fundação Getulio Vargas).

Pelo título, pode parecer que não tenha muito a ver com símios. Mas não é bem assim.

Macacos-esquilo brincam com ábaco no zoológico de Londres, no Reino Unido
Macacos-esquilo brincam com ábaco no zoológico de Londres, no Reino Unido - Toby Melville - 3.jan.2023/Reuters

Com rigor acadêmico e didatismo, o livro lançado pela editora Intrínseca em outubro é um compilado de referências sobre economia comportamental, finanças e estatística.

Também funciona como um manual para iniciantes que só enxergam armadilhas no mercado de ações —e elas de fato existem, só que o problema tem mais a ver com você do que com as regras do jogo, explicam os autores.

O livro é dividido em duas partes. A primeira explica a natureza do trader, definido como alguém que opera ativamente na Bolsa e a vê como fonte de renda no curto prazo. Isso inclui, por exemplo, os day traders, voltados às operações intradia. Já o foco da segunda é o investidor, tido como um agente mais racional e que aposta no longo prazo.

E o que os macacos têm a ver com isso?

Giovannetti e Chague mostram, por meio de uma série de artigos de acadêmicos renomados, que, se os investidores da Bolsa escolhessem aleatoriamente que ações comprar, seus rendimentos seriam, na média, maiores que se as escolhessem a dedo.

O exemplo anedótico dos macacos, que operariam de forma aleatória e irracional, se encaixa porque a Bolsa, quando combinada com os vieses comportamentais dos seres humanos, nada mais é do que uma prova de vestibular cheia de pegadinhas.

Os autores explicam que o trader médio sofre de excesso de confiança, gosta de adrenalina e detesta admitir que errou. Também prefere investir em empresas de que já ouviu falar e aposta em outras como se estivesse em Las Vegas.

"Em períodos de Bolsa em alta, é fácil achar que você sabe escolher ações. Em períodos de Bolsa em baixa, é fácil culpar a economia pelo seu mau resultado. O fato de seu desempenho real estar sempre poluído pelos movimentos sistemáticos do mercado é um prato cheio para o autoengano", escrevem os autores.

Embora "prato cheio para o autoengano" sirva para outras esferas da vida, como relacionamentos, é melhor evitá-lo quando se trata de dinheiro.

A ideia do livro, então, é justamente mostrar que esses erros estão ao alcance de todos que buscam investir no mercado de ações. Que não é necessário comprar cursos online suspeitos para estar sujeito aos próprios golpes da mente humana.

Capa do livro 'Trader ou Investidor?', dos economistas Bruno Giovannetti e Fernando Chague
Capa do livro 'Trader ou Investidor?', dos economistas Bruno Giovannetti e Fernando Chague - Divulgação

É como o caso do gosto pela adrenalina, diferente da baixa aversão ao risco. Trata-se do investidor que, além de ter uma carteira mais ousada, fica de olho no mercado o tempo todo e opera com frequência, fazendo, muitas vezes, jogadas arriscadas.

Para esse viés, há o divertido exemplo de um artigo de 2009 que mostra que na Finlândia uma pessoa multada por excesso de velocidade faz, em média, 7% mais operações na Bolsa do que alguém que não tomou nenhuma multa. Mais operações, geralmente, significam mais chance de sair no prejuízo.

Um outro problema é o chamado efeito disposição, a tendência de querer realizar ganhos com mais facilidade do que aceitar as perdas. Ou vender rapidamente uma ação quando seu preço sobe, e demorar para vendê-la quando seu preço cai.

Também é um viés comportamental aplicar a lógica das promoções ao mercado de capitais. Enquanto um produto que custava R$ 100 e agora custa R$ 50 permanece o mesmo, a empresa cuja ação é vendida a R$ 10 não é a mesma de quando o papel era vendido a R$ 20. Suas condições econômicas pioraram.

Se o trader tem vieses, sofre de assimetria de informação e muitas vezes sai perdendo, parece só continuar na empreitada porque é iludido por casos isolados de indivíduos que conseguem enriquecer. E isso sem contar que corretoras e Bolsas se beneficiam diretamente de um grande volume de operações, que é o que ocorre nesses casos.

"Em um mercado financeiro tomado por grandes instituições com ferramentas de alta tecnologia (caso de computadores instalados dentro da própria Bolsa com acesso imediato às formações de mercado), não é razoável supor que uma pessoa, utilizando o computador de sua casa (mesmo que com quatro monitores e sentada em uma cadeira gamer), consiga exercer a atividade de day-trading de maneira consistentemente lucrativa", afirmam.

Artigo de 2020 dos autores mostra que, entre 2013 e 2016, apenas 554 de 98.378 indivíduos continuaram atuando no day trade após mais de 300 pregões. Desses 554, só 127 apresentaram lucro bruto diário médio acima de R$ 100.

Mas, então, o que o investidor, foco da segunda parte do livro, faz de diferente? O segredo, dizem os autores, gira em torno de duas estratégias: diversificar a carteira e esperar, por mais contraintuitivo que pareça.

Mais que apenas uma versão oposta da primeira parte, aqui os autores se dedicam a explicar que o maior atrativo do mercado de ações reside no longo prazo. Enquanto o primeiro caso é um jogo em que para uns ganharem outros têm de perder, este tem como aliado a própria trajetória da economia.

O livro define dez mandamentos, relacionados às duas estratégias, que, estatisticamente, beneficiam o investidor médio e ajudariam a guiar os traders para um caminho mais seguro e rentável.

"Com o tempo a seu favor e com tranquilidade, os choques negativos poderão vir a ser anulados por choques positivos", escrevem.

Levantamento feito pelos autores mostra que R$ 1 investido na Bolsa em 1995 se transformou em R$ 28 em 2022. Levando em conta apenas a inflação, a mesma quantia valeria R$ 6.

Para chegar a esse resultado, no entanto, o investidor precisaria ter sangue-frio o suficiente para resistir à tentação de vender seus ativos por ao menos cinco crises econômicas, três delas globais. Imagine ver a reserva de sua aposentadoria perder 20% do valor?

Disso, talvez, nem mesmo os macacos sejam capazes.

Trader ou Investidor? Aprenda a investir na bolsa sem cair nas armadilhas dos vieses comportamentais

  • Preço R$ 49,90 e R$ 24,90 (ebook)
  • Autoria Bruno Giovannetti e Fernando Chague
  • Editora Intrínseca, 149 pp.
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