Comento caso do filho que planeja renda de R$ 200 mil por ano para a mãe

Adequação do portfólio é essencial para não gerar prejuízo com vendas em momentos desfavoráveis

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Minha mãe ganha R$ 5.000 de INSS ao mês e tem uma despesa média de R$ 200 mil anuais. Entretanto, esse valor pode oscilar com gastos de viagens ou outras despesas. Ela também conta com uma receita média anual de R$ 300 mil, de atividade agrícola, que sofre bastante oscilação. Nos anos em que a renda cai ou que a despesa sobe, ela usa seus investimentos para cobrir as despesas. O portfólio é de R$ 3 milhões,dos quais um terço em previdência privada e o restante em outras aplicações de renda fixa e variável. Qual o balanceamento adequado, considerando um horizonte de 1 a 5 anos que considere a volatilidade dos fluxos de caixa?

Rafael

filho de Márcia, de 70 anos

No planejamento do orçamento familiar, que envolve receitas e despesas, podemos controlar com maior segurança apenas o segundo elemento.

A previsão de receita, principalmente de empresários ou de quem depende de uma renda corporativa, deve ser realizada com cuidado. Nos momentos de baixa da receita corporativa, a renda deve ser suprida pelo patrimônio financeiro.

Portanto, nesses casos, a adequação do portfólio é essencial para não gerar prejuízo com vendas em momentos desfavoráveis e não expor o investidor a mais risco do que ele já corre pela sua atividade.

Filho planeja renda de R$ 200 mil por ano para a mãe - Andrey Popov/Adobe Sotck

Esse é o caso de Rafael. Entretanto, a preocupação de Rafael, neste momento, não é como seu próprio planejamento, mas com o de sua mãe. Para não identificar o leitor, vou assumir que sua mãe se chama Márcia.

Suas questões são: Qual o balanceamento adequado para a carteira de investimentos de minha mãe, considerando um horizonte de 1 a 5 anos que considere a volatilidade dos fluxos de caixa? Qual a melhor estratégia de sucessão?

Márcia tem 70 anos, ganha R$ 5.000 de INSS ao mês que já cobre 30% de sua despesa média. Sua despesa média anual é de R$ 200 mil. Entretanto, esse valor pode oscilar com gastos de viagens ou outras despesas.

Calcule o que falta para sua independência financeira

Ela também conta com uma receita média anual de R$ 300 mil. Entretanto, essa renda, que é proveniente de atividade agrícola, sofre bastante oscilação. Assim, nos anos em que a renda cai ou que a despesa sobe, ela usa seu portfólio de investimentos para cobrir as despesas.

O portfólio de investimentos financeiros de sua mãe é de R$ 3 milhões e está dividido da seguinte forma:

Olhando por cima, parece um portfólio bem diversificado. Entretanto, ele não considera a condição de Márcia. Vou explicar o que ela precisa considerar. Mas antes, vou explicar por que essa forma de visualização traz pouca informação.

Vou fazer algumas perguntas que todos deveriam tentar responder ao analisar a distribuição de seu portfólio:

  • Qual o retorno esperado por uma carteira com essa distribuição?
  • Quanto porcento da carteira é renda fixa referenciada ao IPCA, prefixada ou referenciada ao CDI?
  • Qual o percentual da carteira está em renda fixa?

Não é possível responder a nenhuma destas perguntas. Se você respondeu, você deve estar cometendo erro parecido em sua carteira.

A distribuição acima é similar à forma usual das instituições financeiras apresentarem os portfólios de clientes. Elas usualmente apresentam as carteiras de clientes dividindo-as em produtos. Isso é completamente errado para a compreensão da carteira. O correto é distribuir em classes de ativos.

Esse é apenas um dos erros na distribuição. Mas não estou aqui para falar dos erros das instituições financeiras.

Rafael tem dois focos, suprir a renda da mãe de forma adequada, ou seja, com melhor balanço de retorno por risco, mas mantendo uma liquidez, e preparar a sucessão para ter menos custos de transmissão em herança.

Ela tem pelo menos 22% em ativos de renda variável. Como é Rafael que conduz a carteira da mãe, isso mostra que ele tem perfil, no mínimo, moderado. Talvez, não seja o perfil da mãe. Entretanto, como disse anteriormente, é preciso considerar a condição da mãe.

Ela recebe renda de arrendamento de propriedade rural que se aproxima de R$ 300 mil. Isso equivale a ter um Fiagro, ou seja, similar a um fundo imobiliário, mas do setor agrícola.

Essa renda equivale a uma exposição de aproximadamente R$ 3 milhões em um Fiagro. Portanto, Marcia já tem uma exposição em risco pelo arrendamento do mesmo tamanho de seu portfólio financeiro.

Logo, não faz sentido ela ter qualquer ativo de risco adicional em seu portfólio financeiro. Principalmente considerando o nível de taxa de juros atual. Se ela tiver apenas renda fixa em seu portfólio financeiro, significa que seus investimentos gerais têm 50% ativos de risco.

A sugestão para Rafael é focar apenas renda fixa referenciada ao IPCA, buscando ativos que remunerem pelo menos IPCA+6% ao ano. De preferência, ativos isentos de IR e que paguem juros semestrais que podem ser usados como renda.

Apenas 10% da carteira deve ser mantida em ativos líquidos referenciados ao CDI ou Selic e que proporcionariam o colchão de liquidez para os momentos desfavoráveis do setor agrícola.

Para a sucessão, a cada ano que passar, Rafael deve elevar a proporção em VGBL em mais 3%. Quando ela chegar aos 90 anos, terá cerca de 80% do portfólio pronto para sucessão. Os fundos de previdência devem ser também de renda fixa e referenciados ao IPCA.

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