Marcel Telles passa fatia bilionária na AB InBev para filho caçula

Empresário ajudou a construir a gigante de bebidas com seus sócios Jorge Paulo Lemann e Beto Sicupira

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São Paulo

Marcel Herrmann Telles, 73, o terceiro brasileiro mais rico do mundo, dono de uma fortuna estimada em R$ 52 bilhões, doou sua participação na cervejaria AB InBev para o seu filho mais novo, Max Telles, conforme a agência de notícias Bloomberg.

A participação de Telles na AB InBev vale cerca de US$ 6,1 bilhões (R$ 29,5 bilhões), segundo o Bloomberg Billionaires Index. Telles vai transferir a totalidade da participação para Max, que também vai substituir o pai na entidade que controla o investimento, conforme comunicado divulgado nesta terça-feira (26) junto à SEC, a comissão de valores mobiliários americana.

O nome de Telles esteve nos holofotes este ano, depois do escândalo contábil de R$ 25 bilhões na varejista Americanas, da qual é um dos principais acionistas, ao lado dos sócios também bilionários Jorge Paulo Lemann e Carlos Alberto Sicupira.

Marcel Telles, executivo da Ambev, durante entrevista coletiva, em Bruxelas, na Bélgica.
Marcel Telles, executivo da Ambev, durante entrevista coletiva, em Bruxelas, na Bélgica. - AFP

Os três eram sócios do antigo banco de investimentos Garantia que, em 1989, comprou a Brahma. Desde então, Telles foi o homem do "triunvirato" que comandou o avanço da cervejaria. Primeiro na união com a brasileira Antarctica (1999), criando a Ambev, depois na fusão com a belga Interbrew (2004), que deu origem à Inbev, e ainda na aquisição da americana Anheuser-Busch (2008), que por fim criou a gigante AB InBev.

A AB InBev é a maior cervejaria do mundo, dona de marcas como Budweiser, Stella Artois e Brahma, com receitas anuais da ordem de US$ 58 bilhões (R$ 280 bilhões). O trio de bilionários brasileiros possui participação na InBev principalmente por meio da entidade BRC, que possui participação de 50% na Stichting AK Netherlands, que, por sua vez, detém 33,47% da InBev, segundo o site da empresa, informa a Bloomberg.

Depois do Garantia, Telles, Lemann e Sicupira deram origem à companhia de private equity 3G Capital que, além da AB Inbev, é uma das principais acionistas de conglomerados como Kraft Heinz e Restaurant Brands International (dona do Burger King).

O patrimônio líquido de Telles aumentou 9% este ano, para US$ 10,7 bilhões, de acordo com o índice de riqueza da Bloomberg. O bilionário já transferiu algumas de suas outras participações para seus filhos, doando em 2017 ações da imobiliária brasileira São Carlos Empreendimentos e Participações para Max e Christian. Eles são fruto do segundo casamento de Telles, com Bianka van Hoegaerden, de quem o empresário se separou em 2009.

Filhos do trio de bilionários não podem assumir empresas dos pais

Pelo acordo de acionistas dos três bilionários, nenhum deles pode colocar os filhos como executivos dos negócios. Juntos, os três somam 11 filhos (seis de Lemann, três de Sicupira e dois de Telles).

"Seus filhos sabem que jamais poderão trabalhar nas empresas do pai. Dar a notícia para os garotos não foi fácil. Anos atrás, quando ia fazer um curso em Harvard, Marcel decidiu levar Christian para acompanhá-lo na viagem. O menino, então com 11 anos, ficou encantado com o que viu na universidade americana e com o que ouviu sobre a Ambev. Disse que seria muito legal trabalhar na cervejaria no futuro. Foi então que Marcel contou ao garoto que, pelas regras da sociedade, isso jamais aconteceria. O máximo que a cartilha deles permite é que os filhos passem um ano como trainees e depois deixem a empresa. Decepcionado, o menino escutou o pai e ficou calado", relata a jornalista Cristiane Correa no livro "Sonho Grande" (editora Primeira Pessoa, 2013), sobre a história do trio.

"Será que a minha genética é tão forte que eu vou criar um filho que é um em 70 mil?", questionou Marcel, conforme relato na obra, referindo-se às regras acordadas pelo trio. À época, a Ambev recebia 70 mil candidatos a trainee ao ano. "Não só não acredito em milagres da genética, como eu acho que a nossa cultura [de meritocracia] desapareceria", disse.

Telles é o terceiro homem mais rico do país, depois de Vicky Safra e do seu sócio Jorge Paulo Lemann. Nasceu em 23 de fevereiro de 1950 no Rio de Janeiro, filho de um piloto de avião e de uma ex-secretária da embaixada americana. Estudou no Colégio Santo Inácio, de forte apelo militar, com muito foco e disciplina.

No colégio, era introspectivo e inteligente, gostava de escrever poesia e pintar. Dos três sócios, é considerado o mais afável e de bom trato –embora seja implacável na cobrança de metas como os demais. Era o homem da mesa de investimentos do Garantia.

Cursou Economia na UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro). Segundo o livro "Sonho Grande", ao ver os colegas de faculdade vestindo ternos bem cortados, alguns dirigindo motos incrementadas, descobriu que eles trabalhavam no mercado financeiro e se interessou pelo ramo. Queria ficar rico.

Em 1970, conseguiu um emprego na corretora Marcelo Leite Barbosa, então uma das maiores do país, conferindo boletos da bolsa de valores da meia-noite às seis da manhã. Depois, foi trabalhar na área de informática. Sabendo que a área de open market era a preferida do dono da corretora, tentou uma vaga no departamento. Não conseguiu e foi para o Garantia, de Jorge Paulo Lemann.

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