Descrição de chapéu alimentação

Nestlé precisa aumentar reciclagem de cápsulas e testa recompensas

Projeto-piloto inclui pagamento via Pix; em Nespresso, tratamento de resíduos não chega a 25%

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Osasco e Montes Claros (MG)

A Nestlé quer mais do que dobrar o índice de reciclagem das cápsulas de seus cafés nos próximos anos e cogita a criação de programas de incentivo ou de recompensas para que mais consumidores enviem para a empresa ou para a coleta seletiva o que sobrou depois que a bebida passou pela máquina de extração.

Nas linhas compatíveis com Nespresso, a reciclagem está em 24%. Parece muito, diz Cecila Seravalli, gerente de sustentabilidade da Nestlé, quando comparado com o índice geral de tratamento de materiais recicláveis, em tono de 4%.

"Mas o que a gente tem que considerar são os 65% que não estão sendo destinados corretamente", afirma. Na linha Dolce Gusto, cerca de 7 milhões de cápsulas são recicladas anualmente, mas a Nestlé ainda não divulga qual é o percentual em relação ao que tem colocado no mercado. "Temos uma questão de metodologia [para fechar o percentual]. Mas é um número muito aquém", afirma.

Centro de reciclagem em Osasco, que atende a Nestlé, poderia receber cerca de 30% mais cápsulas do que o nível atual - Divulgação / Nestlé

A meta global da Nestlé é chegar a 50% de reciclagem em 2025 e a 80% em 2030.

As cápsulas Nespresso e Nescafé Farmers Origin são produzidas em alumínio. Na linha Dolce Gusto, o material é o plástico. Quando enviadas à coleta seletiva, às lojas Nespresso ou pelos Correios, as cápsulas são encaminhadas para centros de reciclagem, como o da Conceito Ambiental, em Osasco, na Grande São Paulo.

Lá, equipes enxutas separam os tipos de cápsula –plástico ou alumínio e de quaisquer marcas (nas lojas Nespresso e nos pontos de coletas são recebidos também as produzidas por outras empresas). Depois, elas são colocadas em um maquinário que faz a descaracterização dos invólucros. Eles são triturados e seguidamente peneirados, até que reste só café de um lado e apenas resíduo plástico ou de alumínio de outro.

O pó do café é doado por meio do projeto Nespresso Hortas, para que vire adubo em pequenas propriedades na região de Parelheiros (zona sul da capital paulista) ligadas a uma cooperativa agroecológica. Já o resíduo reciclável vai para empresas processadoras. Segundo a Nestlé, o alumínio vira lingotes e depois conduítes (ou basicamente qualquer material metálico).

O plástico também é vendido, vira paletes para armazenamento e, mais recentemente, começou a ser usado para produzir um porta-cápsulas feito com material reciclado.

Pesquisas indicam que o engajamento com a reciclagem aumenta quando o novo ciclo do produto é conhecido.

Atualmente, devido ao regramento sanitário, cápsulas não podem ser tratadas para serem usadas com a mesma finalidade novamente. Com a evolução tecnológica do PET, que hoje pode ser reutilizado como PCR (pós-consumo reciclado), a expectativa da gerente de sustentabilidade da Nestlé é que em algum momento isso seja viável com as cápsulas.

Cecila Seravalli diz que a companhia tem estudado como aumentar a reciclagem, se com incentivo financeiro ou com produto, mas há a preocupação de que esse mecanismo crie uma dependência e não o engajamento com a reciclagem.

Pesquisa interna da empresa no ecommerce indica que subiu de 42%, em 2022, para 86%, neste ano, o percentual de clientes que sabem que a cápsula é reciclável. "Isso é um bom sinal", diz Cecilia. "Mas não estão convertendo."

Fábrica da Dolce Gusto em Montes Claros (MG) usa água tratada da produção de leite condensado - Divulgação / Nestlé

A Nestlé tem olhado também para o que outras empresas fazem (na brasileira Natura, cinco embalagens vazias entregues em lojas cadastradas dão 10% para novas compras) e começou a testar dois pilotos.

No Rio, o consumidor chega com sua sacolinha de cápsulas a uma boutique Nespresso, informa o CPF em um tablet e esse dado deverá ser convertido em algum tipo de benefício, ainda a ser definido. Em São Paulo, uma sacola com 100 cápsulas Dolce Gusto poderá ser trocada por R$ 2, pagos imediatamente por meio do Pix. A ação vem sendo feita com uma startup de logística reversa.

Cecilia diz que outros pilotos poderão ser colocados em ação. Pelo Brasil, a Nestlé remunera cooperativas para que a separação de cápsulas seja rentável.

Além da meta de reciclagem de cápsulas, a Nespresso tem outros compromissos ambientais, como o de reduzir em 50% sua pegada de carbono até 2030 e zerar as emissões na produção de café verde. A meta global da empresa é a de zerar as emissões em 2050.

Estudo da consultoria EY com 520 executivos dedicados ao tema da sustentabilidade mostra uma desaceleração na agenda climática de negócios em todo o mundo. O ano-meta para a "net zero" avançou 14 anos na comparação com 2022, com a redução no número de ações. Para a consultoria, muitos estão adiando seus compromissos.

Nova geração de máquinas e de cápsulas começou pelo Brasil

No fim do ano passado, a Nestlé lançou uma nova geração de máquinas e cápsulas, batizadas de Neo. Os "paper pods" são cápsulas compostáveis, feitas em papel certificado e seladas com um tipo de polímero biodegradável, tudo patenteado pela companhia de origem suíça e fruto de cinco anos de pesquisas.

A produção das cápsulas está sendo feita em uma extensão da fábrica de Dolce Gusto em Montes Claros, no norte de Minas Gerais. O investimento chegará a R$ 300 milhões até 2025.

O acesso à planta está, atualmente, restrito aos funcionários que atuam na linha. Fabiano Marins, diretor da fábrica do município, diz que questões de segredo industrial ligadas principalmente ao fechamento da nova cápsula exigem cuidados extras. A unidade Neo foi o primeiro lançamento global da companhia fora da Europa.

Máquina de café da cor preta, com xícaras de café no entorno e cápsula de café em papel
Cafeteira Dolce Gusto NEO usa cápsulas compostáveis feitas em papel - Divulgação

A linha de produção das duas gerações de Dolce Gusto é vizinha à planta de leite condensado, o Leite Moça, um dos produtos mais populares do portfólio da companhia.

A proximidade permitiu que a Nestlé transportasse água de uma linha para outra. A fábrica da Dolce Gusto é a primeira unidade da companhia a receber três tipos de certificação referentes ao uso de água, à produção de lixo e à emissão de gases tóxicos.

A água usada na fábrica de café vem da evaporação do leite. O líquido turvo com cheiro de soro passa por um processo chamado osmose reserva, que o purifica para o uso industrial. O modelo da fábrica é enxuto e tecnológico.

Na linha de produção das cápsulas, os diversos processos têm pouca interferência humana.

Os 205 funcionários observam telas e tablets, onde conseguem acompanhar cada fase do processo de separação das cápsulas de plástico, a forração (um peça plástica e outra de alumínio), o preenchimento com produto, a limpeza das bordas e, por último, a selagem que indica o tipo de bebida.

No dia em que a Folha esteve na fábrica, estavam sendo produzidas as cápsulas de expresso tradicional e de Sensação (que mistura morango, em alusão ao chocolate de mesmo nome).

A linha, diz Marins, é um modelo de indústria 4.0. A distribuição das cápsulas nas embalagens de papel e depois nas caixas de papelão é toda feita por máquinas e robôs interativos.

Quando um funcionário precisa de mais caixas, ele faz um pedido no sistema, que se conecta a uma esteira autoguiada. Alguns minutos depois, esse robô chega com as caixas, descarrega o material e vai embora com os paletes vazios.

Segundo o diretor da fábrica, o modelo de produção é de baixa emissão de carbono, mas, ainda assim, a companhia compra créditos de carbono por meio da instituição Amigo do Clima, que investe em projetos de compensação de emissão de gases.

A repórter viajou a convite da Nestlé

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