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Café na Prensa - David Lucena
David Lucena
Descrição de chapéu alimentação clima

Café em cápsula pode ser melhor para o planeta do que o coado, indicam estudos

Método emite menos gases causadores do efeito estufa, mas descarte ainda é um problema

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São Paulo

Normalmente visto como um vilão ambiental por gerar uma quantidade de lixo muito grande, o café em cápsula na verdade pode ser melhor para o planeta do que métodos tradicionais, como o coado.

É o que apontam alguns estudos que analisam todo o ciclo de vida do produto, desde o cultivo, passando pela industrialização e chegando até o descarte.

É claro que os resíduos gerados pelas embalagens desses produtos representam um problema de dimensões gigantescas. As cápsulas de café produzidas no mundo inteiro geram um lixo anual de 576.000 toneladas.

Cápsulas de café geram muito lixo, mas podem ter impacto ambiental menor - Karime Xavier/Folhapress

Mas, para encontrar o método com menor impacto ambiental é preciso analisar toda a cadeia, e não apenas o descarte. Pois, até o cafezinho chegar à sua xícara, ele passa por muitas etapas, que envolvem o cultivo, a colheita, o processamento, a torra, o transporte, a embalagem, a moagem e, finalmente, o preparo e o descarte.

Assim, vários cientistas dedicaram-se a analisar quais métodos deixam um menor rastro de carbono após percorrer todos esses processos.

Não é uma tarefa fácil, pois a pegada de carbono muda conforme muitas variáveis. Por exemplo, se você usa uma cafeteira elétrica em um país cuja energia é produzida por fontes renováveis, o impacto ambiental será muito menor do que se sua energia vier de combustíveis fósseis.

As pesquisas indicam que as maiores quantidades de gases causadores do efeito estufa são emitidas no cultivo. Essa fase responde por entre 40% e 80% das emissões totais do ciclo de vida do café.

A mecanização da lavoura, a irrigação e o uso de fertilizantes emissores de óxido nitroso são as principais justificativas para tamanha emissão.

Assim, quanto mais pó de café você utilizar para preparar a mesma quantidade de bebida, mais estará contribuindo para as altas emissões.

Uma cápsula tem entre 5 e 6 gramas de café. Já para preparar uma xícara de coado, você utilizará no mínimo 10 g.

Uma das pesquisas que investigam o assunto é encabeçada pelo brasileiro Luciano Rodrigues Viana, doutorando em Ciências Ambientais na Universidade de Quebec em Chicoutimi, no Canadá.

O estudo, que analisa todas as etapas –cultivo, torra, transporte, descarte etc.–, comparou a pegada de carbono de 280 ml de café preparados em quatro diferentes métodos: coado (que utilizou 25 g de pó), cápsula (14 g), prensa francesa (17 g) e café solúvel ou instantâneo (12 g).

Os pesquisadores concluíram que os métodos solúvel e em cápsula são os que emitem menos gases, sobretudo por causa da menor quantidade de café utilizada. Isso ocorre mesmo no pior cenário possível para o descarte de cápsula, ou seja, o despejo em um aterro sanitário, sem qualquer reciclagem.

Os resultados preliminares desta pesquisa foram veiculados no site de divulgação científica The Conversation. O estudo completo deve ser publicado em periódico científico até o fim do ano, segundo Viana.

O texto foi noticiado por jornais de todo o mundo, como o britânico The Guardian. Mas Viana disse que ficou surpreso com o tamanho da repercussão, pois já há outras pesquisas que apontam para a mesma direção.

O brasileiro disse que, após a publicação em grandes veículos, ele sofreu críticas e chegou até a ser acusado de trabalhar a favor da indústria.

"Essa foi uma pesquisa da mais natural possível, pois saiu de uma discussão que a gente estava tendo um dia. Ninguém me deu um centavo para fazer essa pesquisa e, no fim, é algo que já tinha sido dito", afirma.

De fato, há vários artigos já publicados que chegam a conclusão semelhante. Alguns estudos sugerem, no entanto, que a fabricação das embalagens das cápsulas pode contribuir para que elas tenham uma emissão geral maior do que outros métodos, como o coado.

EMBALAGEM DAS CÁPSULAS AINDA É PROBLEMA

Se essas embalagens forem de plástico, então, o potencial de poluição pode ser ainda maior. Por isso, a fabricação e descarte das cápsulas ainda é um problema de grande impacto ambiental e requer atenção.

Pensando nisso, a empresa suíça Migros desenvolveu uma cápsula de café feita com algas marinhas, em vez de alumínio ou plástico. Chamado de CoffeeB, o método ainda tem um mercado muito limitado e está disponível somente na Suíça e na França.

A Nespresso, principal empresa do setor, afirma que, atualmente, a sua taxa de reciclagem no Brasil é de 25%. Ou seja, a cada quatro cápsulas vendidas no país, três acabam no aterro sanitário. A empresa tem o objetivo de elevar essa taxa para 50% em 2025 e para 80% em 2030.

Para isso, tem investido em um grande programa de logística reversa e em diferentes modalidades de coleta de cápsulas. Além de oferecer a possibilidade de o consumidor devolver as cápsulas usadas nas lojas da rede e em outros pontos de coleta, é possível solicitar um código de postagem pelo site e enviá-las gratuitamente pelos Correios.

Como reciclar suas cápsulas

  • Entregue em pontos de coleta

    Além de lojas da Nespresso, há várias estações de coleta em estabelecimentos como supermercados e farmácias

  • Solicite 'entrega verde'

    Nessa modalidade, oferecida pela Nespresso, o cliente compra pelo site e, no ato da entrega, já devolve suas cápsulas utilizadas para o entregador

  • Envie via Correios

    Acesse nespresso.com/reciclagem e solicite o código de postagem; então vá até a agência dos Correios e envie as cápsulas gratuitamente (pode ser de qualquer marca)

  • Use lixo reciclável

    Em último caso, jogue as cápsulas no lixo reciclável; assim, as cooperativas de coleta seletiva podem dar o destino adequado

A Nespresso destaca ainda que seu programa de reciclagem aceita cápsulas de outras empresas, e não apenas aquelas fabricadas pela própria marca.

Outra medida que está sendo estudada pela companhia é oferecer uma recompensa ao consumidor que levar suas cápsulas para a reciclagem.

"A gente nunca quis fazer uma barganha. ‘Só recicla se ganhar 10 cápsulas’. Não é isso que a gente quer. É conscientizar e engajar o consumidor nessa responsabilidade compartilhada. Mas a gente já estuda reconhecer e agradecer o nosso consumidor por compartilhar essa responsabilidade com a gente", afirma ao Café na Prensa Cecilia Seravalli, gerente de Sustentabilidade da Nespresso Brasil, segundo a qual já há um projeto piloto neste sentido.

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