Descrição de chapéu inflação

Divulgação do IPCA-15 vaza antes do horário oficial, e IBGE fala em problema técnico

Situação surpreende economistas; publicação estava agendada para 9h, mas dado saiu às 8h

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Rio de Janeiro

O resultado da inflação medida em janeiro pelo IPCA-15 (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15) foi antecipado em uma hora nesta sexta-feira (26). O dado vazou às 8h, antes do horário oficial das 9h.

O IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), responsável pelo IPCA-15, disse que um problema técnico adiantou o processo. De acordo com o órgão, a publicação antes do padrão ocorreu no Sidra, o sistema de estatísticas da instituição.

Recenseador do IBGE coleta dados em São Paulo para o Censo Demográfico 2022 - Rubens Cavallari - 18.ago.2022/Folhapress

"O IBGE relata que, diante de um problema técnico computacional de horários em seus equipamentos servidores, este processo, que é automático, acabou sendo adiantado em uma hora", afirmou. O instituto também disse que técnicos estão verificando o ocorrido para tomar as devidas providências.

De acordo com o IBGE, falhas do tipo são raras. Episódio anterior ocorreu em 2011, quando um problema de sistema foi apontado como responsável por antecipar dados de outubro do IPCA, o índice oficial de inflação do Brasil.

A situação desta sexta foi percebida por economistas do mercado financeiro que acompanham o comportamento dos indicadores de preços. O caso gerou surpresa porque as divulgações do IBGE ocorrem em horários previamente definidos.

Índices de inflação como IPCA-15 e IPCA são publicados às 9h. Outros indicadores econômicos, incluindo PIB (Produto Interno Bruto) e taxa de desemprego, também saem nesse horário.

Conforme o IBGE, o IPCA-15 desacelerou a 0,31% em janeiro, após marcar 0,40% em dezembro. O novo resultado surpreendeu o mercado porque ficou bem abaixo das projeções dos analistas. De acordo com pesquisa da agência Reuters, a estimativa era de alta de 0,47% em janeiro.

Para o economista Bruno Imaizumi, da LCA Consultores, é provável que o vazamento desta sexta tenha ocorrido por um problema técnico, o que foi citado pelo próprio IBGE. A possível falha, porém, coloca a "credibilidade e a estabilidade" do instituto na mira de ataques, diz Imaizumi.

"Esses dois pilares acabam balançando. O instituto vira alvo de críticas, ainda mais depois dos ruídos na troca de presidente", afirma. "O mercado financeiro íntegro depende da igualdade de informações. Um erro interno [do IBGE] pode afetar essa premissa. Parece que não foi o caso desta vez, mas fica o alerta."

Falar em vazamento é 'histeria', diz ex-IBGE

O ex-presidente do IBGE Roberto Olinto descarta a possibilidade de vazamento proposital das informações do IPCA-15. Ele diz que o instituto tem uma equipe técnica "muito sólida" e que o órgão aprimorou protocolos de segurança.

Isso, contudo, não elimina o risco de erros, algo que também acontece em instituições oficiais de estatística em outros países, conclui Olinto, que comandou o IBGE de junho de 2017 até o início de 2019.

"O termo vazamento é uma histeria coletiva. É a primeira vez que vejo um vazamento para todo mundo. Vazamento seria algo desonesto, para privilegiar uma pessoa ou um grupo de pessoas, e não uma coisa no Sidra", diz o ex-presidente do IBGE, atual pesquisador associado do FGV Ibre (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas).

Ele acrescenta que o erro com o IPCA-15 ocorreu em apenas um dos canais do órgão público, o Sidra, enquanto a divulgação transcorreu normalmente em espaços como a agência de notícias da instituição. Na visão de Olinto, a falha é "simples", mas "grave", por quebrar a isonomia na publicação dos dados.

"O IBGE sempre admitiu seus erros, porque isso faz parte da sua política de honestidade e credibilidade. Vida que segue. Não podemos ficar remoendo. O IBGE não pode entrar nisso", afirma.

Escolha do atual presidente gerou polêmica

O instituto é comandado desde agosto pelo economista Marcio Pochmann, indicado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). A escolha gerou uma onda de críticas de analistas que enxergam em Pochmann um perfil intervencionista demais para a função de presidente do IBGE.

Antes de ingressar no órgão, o economista esteve à frente do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) de 2007 a 2012. Sua gestão teve registros de polêmicas, incluindo afastamento de técnicos e acusações de aparelhamento político à época.

Outro grupo de pesquisadores defendeu no ano passado a indicação de Pochmann para o IBGE. Essa ala rebateu as críticas ao nome e fez elogios à trajetória acadêmica do economista.

Pochmann tem evitado entrevistas coletivas à imprensa desde que chegou ao IBGE. Ele costuma publicar comentários sobre o trabalho no instituto e outros assuntos em seu perfil na rede social X, ex-Twitter.

Até as 17h45 desta sexta, o presidente do IBGE não havia se manifestado sobre a divulgação do IPCA-15 antes do horário oficial.

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