Gol entra com pedido de recuperação judicial nos Estados Unidos

Companhia afirmou que voos vão operar conforme programado; dívida é estimada em R$ 20 bilhões

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

A Gol anunciou nesta quinta-feira (25) que a companhia e as suas subsidiárias entraram com pedido de recuperação judicial nos Estados Unidos. Agências de risco estimam que a dívida da empresa é de R$ 20 bilhões.

De acordo com a Gol, a medida é tomada para fortalecer sua posição financeira. A companhia afirmou que todos os voos operam conforme o programado e todas as passagens aéreas e reservas permanecem em vigor.

A companhia aérea iniciou o processo americano, conhecido como chapter 11 —proteção contra falência nos EUA—, com um compromisso de financiamento de US$ 950 milhões.

Aeronave da Gol pousa no aeroporto Santos Dumont, no Rio de Janeiro - Sergio Moraes/Reuters

Segundo a empresa, a operação será na modalidade DIP (do inglês debtor-in-possesion financing, ou "financiamento do devedor em posse") e ajudará a ajustar as finanças.

Em entrevista coletiva, o presidente da Gol, Celso Ferrer, disse que os recursos "mudam completamente a condição do caixa da companhia".

"É muito recente, acabamos de colocar isso nesse momento, é muito recente, muito cedo para falar o que exatamente vai ser negociado. O que eu posso falar é que nós queremos que a gente saia com a estrutura de capital correta", afirmou.

A informação de que a empresa cogitava fazer o pedido foi antecipada pela Folha na coluna Painel S.A. A ação foi apresentada ao Tribunal de Falências dos Estados Unidos para o Distrito Sul de Nova York.

Segundo Ferrer, as negociações estão evoluindo em diferentes estágios com seus 25 arrendadores de aeronaves, chamados de lessores.

"Temos algumas apoiando muito os pedidos da companhia para realinhamento do fluxo de caixa, devolução de algumas aeronaves, alguns nos apoiando muito", disse.

Segundo ele, o processo de renovação de frota continua, e a companhia está recebendo nesta quinta-feira a 45ª aeronave Boeing 737 Max 8. A meta da empresa é alcançar 75 aviões Max 8 na frota no final de 2025, metade da frota total.

"Não há previsão de diminuição das operações que a Gol tem hoje. O processo de chapter 11 é justamente para proteger a companhia de qualquer ação que possa ser tomada pelos arrendadores de aeronaves, com quem a gente já vinha negociando. Ele dá o tempo e as condições para que essa negociação seja feita", disse o executivo.

Ferrer disse ainda que não pretende reduzir as operações da empresa nem tamanho de frota, pessoal, número de bases, destinos ou rotas.

Em comunicado, antes da entrevista do CEO, a empresa afirmou que o financiamento está sujeito à aprovação judicial. A empresa esperar gerar caixa com as operações para ter liquidez "para apoiar as operações, que seguem normalmente, durante o processo de reestruturação financeira".

No fim do ano passado, a companhia contratou a consultoria da Seabury Capital, uma das maiores em reestruturação de dívida no setor aéreo.

A principal tarefa da Seabury seria buscar uma saída com os cerca de 25 lessores (arrendadores de aeronaves) para renegociar a dívida financeira.

Do total da dívida da empresa, cerca de R$ 3 bilhões vencem no curto prazo (em até 12 meses). A companhia, no entanto, não teria caixa suficiente para honrar esses compromissos, segundo pessoas a par das negociações.

O problema da Gol, segundo agências de risco, não é operacional. Os resultados são positivos. No entanto, ela não tem novas garantias suficientes para trocar toda essa dívida vincenda.

No comunicado, a Gol destacou que obteve um dos melhores resultados operacionais para companhias aéreas da América Latina, e o quarto trimestre consecutivo de margens operacionais altas.

"A receita operacional líquida da companhia atingiu recorde histórico de R$ 4,7 bilhões, com crescimento de 16,4% na comparação com o mesmo período do ano anterior, principalmente devido à contribuição significativa das receitas vindas das unidades do programa de fidelidade Smiles e das operações de carga Gollog, que cresceram juntas um total de 65,1% no 3T23 [terceiro trimestre de 2023] (vs. 3T22) e totalizaram R$ 412,6 milhões no período", diz.

"Em dezembro de 2023, a taxa de ocupação atingiu 82,7%, aumento de 4,8% em relação ao mesmo período do ano anterior. Os indicadores operacionais da Gol relacionados à pontualidade, regularidade, taxas de ocupação e uso diário da frota operacional demonstram seu foco em eficiência e produtividade."

Em nota, a Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) afirmou que recebeu a informação da companhia de que "manterá suas operações normalmente, oferecendo serviços de viagens aéreas seguras e confiáveis".

O órgão regulador disse que manterá padrão de acompanhamento da empresa em território brasileiro quanto à segurança das operações e ao atendimento aos passageiros.

"A Gol deverá assegurar a normalidade do atendimento aos passageiros conforme os dispositivos da Resolução nº 400/2016, que define as condições gerais de transporte aéreo no Brasil."

Por volta das 17h30, as ações da Gol recuavam 2,26%, a R$ 6,50, na B3.

Antes de ter as negociações suspensas em razão da divulgação do fato relevante sobre a recuperação judicial, a ação da empresa era negociada na mínima da sessão até aquele momento, a R$ 6,65, estável frente ao fechamento da véspera.

Na máxima, registrada mais cedo, o papel chegou a ser negociado a R$ 6,97.

Com a confirmação do pedido, a Gol seguirá o caminho da colombiana Avianca, da Aeromexico e da Latam. Em maio de 2020, a rival com sede no Chile foi ao Tribunal de Falências de Nova York. Em 2022, concluiu seu processo de reestruturação.

Em 2023, a Gol detinha 33% de participação de mercado na indústria de aviação brasileira, perdendo apenas para a Latam Brasil, conforme definido pela receita de passageiros por quilômetro, que mede o tráfego. Foi a principal companhia aérea do Brasil de 2016 a 2020.

Na avaliação do CEO da Gol, Ferrer, Avianca Internacional e Latam saíram fortalecidas do chapter 11, que durou cerca de dois anos. "No nosso caso, é difícil precisar exatamente quanto deve durar, mas a nossa expectativa é que dure substancialmente menos do que esses processos das companhias da América Latina. Nós estávamos em um cenário de pandemia, onde o setor estava com muita incerteza".

Com Reuters

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.