Inflação mensal na Argentina seguirá em dois dígitos nos próximos meses, diz governo

Porta-voz da gestão Javier Milei afirma que inflação em dezembro foi 'horrível', mas abaixo do esperado

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São Paulo

O porta-voz do governo Javier Milei, Manuel Adorni, afirmou nesta sexta-feira (12) que a inflação mensal na Argentina permanecerá acima dos dois dígitos nos próximos meses.

"A inflação permanecerá elevada", disse Adorni em uma coletiva de imprensa, um dia após o governo divulgar que a inflação em dezembro do ano passado foi de 25,5%.

Com o resultado, o aumento de preços na Argentina em 2023 ultrapassou 211%, tornando-se o país da América Latina com a inflação mais alta, superando a Venezuela, que registrou 193% no ano passado.

Banana é vendida no Mercado Central de Buenos Aires
Banana é vendida no Mercado Central de Buenos Aires; país registra inflação superior a 200% - Luis Robayo/AFP

O porta-voz do governo argentino afirmou que os últimos números foram "horríveis", mas melhores do que alguns temiam.

Na quinta-feira, o governo divulgou o primeiro dado desde que Milei assumiu a presidência em 10 de dezembro. O governo busca evitar a hiperinflação com medidas de austeridade rigorosas e realizou uma forte desvalorização do peso no mês passado.

Embora a inflação alta venha afetando a Argentina há anos, a taxa de aumento de preços está agora no nível mais alto desde o início da década de 1990, quando o país estava saindo de um período de hiperinflação.

O presidente Javier Milei, que chegou ao poder graças à irritação dos eleitores com a piora da situação econômica, está procurando empregar medidas de austeridade rígidas para derrubar a inflação, reduzir um déficit fiscal profundo e reconstruir os cofres do governo.

Mas Milei, que está no cargo há um mês, advertiu que isso levará tempo e que as coisas podem piorar antes de melhorar. Muitos argentinos estão apertando ainda mais o cinto, sendo que dois quintos já estão na pobreza.

Após uma desvalorização de mais de 50% na taxa de câmbio oficial decidida por Milei em 13 de dezembro, dois dias após sua posse, os setores com as maiores altas no mês passado foram bens e serviços (32,7%), saúde (32,6%), transporte (31,7%) e equipamentos e manutenção do lar (30,7%), detalhou o Indec (Instituto Nacional de Estatística e Censos).

No entanto, "a divisão com maior incidência em todas as regiões foi alimentos e bebidas não alcoólicas (29,7%)", destacou o instituto, enfatizando também os preços das carnes, pães e cereais.

Para combater a escalada de preços e, principalmente, o déficit nas finanças públicas, Milei implementou medidas de austeridade que incluem a redução de subsídios para tarifas de energia e transporte, assim como a paralisação de obras de infraestrutura financiadas pelo Estado que ainda não começaram.

Além disso, decidiu por uma desvalorização da moeda de mais de 50%, dentro de um regime de controle em vigor na Argentina há anos, que contempla uma dezena de taxas de câmbio diferentes.

O dólar oficial era cotado a 835 pesos, enquanto o dólar informal, paralelo ou "blue" atingiu 1.120 pesos nesta quinta-feira (11).

"A principal correia de transmissão do processo inflacionário é a taxa de câmbio", explicou o economista Hernán Letcher à AFP, referindo-se à desvalorização do peso, que anunciava uma alta taxa de inflação em dezembro.

"Se a inflação de dezembro é de 30%, é um ‘numeraço’; estávamos indo para 45%", disse Milei no último domingo.

Sobre o número inferior ao esperado pelo próprio presidente, Letcher estimou que o que "puxa para baixo" são os preços dos serviços públicos que ainda não foram atualizados.

"Normalmente, quando há uma desvalorização na Argentina, há um efeito direto sobre os preços. E os salários tendem a ser atualizados por último. Por isso ocorre a perda de poder de compra", indicou Letcher, diretor do Centro de Economia Política da Argentina.

Ademais, "o governo de Milei disse que iria atualizar as tarifas. O que acontece é que esse mecanismo ainda não foi implementado", explicou.

Com informações da Reuters e AFP

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