Descrição de chapéu Folhainvest inflação

Varejo de moda pode liderar recuperação do setor na Bolsa, dizem analistas

Menos dependentes de crédito, grandes nomes do vestuário oferecem boas oportunidades de investimentos

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São Paulo

Com juros altos, vendas mais fracas, concorrência de estrangeiras e alto endividamento, as principais varejistas do país ficaram de fora da recuperação da Bolsa de Valores em 2023. Para este ano, porém, a projeção é positiva para o setor, em especial por causa da expectativa de redução da Selic (taxa básica de juros).

Enquanto analistas ainda adotam cautela para os gigantes do varejo de eletrodomésticos, eles apostam que o comércio de moda é quem melhor deve surfar a retomada do setor, por dois motivos principais: éser menos dependente de crédito e menos endividado, oferecendo boas oportunidades de investimento.

"O varejo de moda está numa posição melhor. O governo estuda taxar as encomendas de concorrentes asiáticas, e o consumidor dessas lojas não precisa de tanto financiamento. As empresas de vestuário também estão com uma estrutura de capital mais equalizada", afirma José Eduardo Daronco, analista da Suno Research.

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Centro de distribuição da C&A em São Paulo - Eduardo Knapp - 29.set.2020/Folhapress

A empresa que desponta nessa recuperação é a C&A, que surpreendeu o mercado ao registrar alta de mais de 200% na Bolsa em 2023.

"A empresa teve um resultado muito satisfatório. Mesmo dando prejuízo, a C&A tem gerado caixa, reduzido o endividamento, melhorado suas margens e crescido nas vendas. Além disso, a expectativa do mercado para a empresa no começo do ano estava ruim. Com um resultado melhor que o esperado, ela acabou subindo", afirma Daronco.

Em seu balanço do terceiro trimestre, a C&A reportou redução de 47,6% em sua dívida líquida (compromissos financeiros em relação ao caixa) na comparação com o mesmo período do ano anterior, com crescimento nas vendas e na receita.

"Esse bom desempenho específico da empresa a tornou uma companhia de destaque entre seus pares este ano. Apesar de também ter passado por alguns meses mais turbulentos e correções, a empresa se manteve em tendência de valorização e caminha para fechar em forte alta em 2023", diz Bruna Sene, analista da Nova Futura Investimentos.

C&A (CEAB3)

  • Prejuízo líquido

    R$ 166,3 milhões

  • Dívida líquida

    R$ 601 milhões (1x Ebitda)

  • Valor de mercado atual

    R$ 2,6 bilhões

Varejistas de alta renda podem ser melhores opções

Apesar da disparada das ações da C&A, analistas mantêm outros nomes do setor do radar, em especial do varejo voltado para clientes de classes mais elevadas. "Num cenário desafiador para o consumidor, é melhor estar posicionado numa empresa voltada para a alta renda, que são menos sensíveis a flutuações macroeconômicas", diz Tiago Maciel, chefe de análise de consumo da EQI Research.

É o caso da Arezzo, que, apesar de ter acumulado queda de 15% em 2023, tem recomendação de compra por Warren Rena, Ativa Investimentos e a própria EQI.

A analista de ações Maria Fernanda Quelhas, da Warren, afirma que, além de ser voltada para classes de renda mais alta, a Arezzo conseguiu crescer em relação aos pares num contexto de juros altos, apresentando bons números de vendas e posição de caixa.

"A Arezzo adotou uma estratégia de crescimento inorgânico, via aquisição de marcas, e está pouco alavancada, então tem espaço para aumentar ainda mais seu endividamento, se necessário, para fazer uma aquisição", diz Quelhas.

Já a equipe da Ativa investimentos elogia a gestão da varejista destaca que a ação da companhia pode estar com preço abaixo de seu potencial.

"Gostamos da gestão e da qualidade de marcas da empresa, e entendemos que o nível de preço dela, dado a qualidade da empresa, justificaria uma subida. Vemos uma empresa de qualidade, com boa gestão, bom histórico e preço atrativo", afirma a equipe da Ativa Investimentos, que tem preço-alvo para o papel de R$ 105 —ante R$ 65,64 no fechamento da última sexta (15).

Arezzo (ARZZ3)

  • Lucro líquido

    R$ 294 milhões

  • Dívida líquida

    R$ 449 milhões (0,6x Ebitda)

  • Valor de mercado atual

    R$ 7,6 bilhões

  • Marcas

    Arezzo, Anacapri, Alexandre Birman, Alme, AR&CO, Baw Clothing, Carol Bassi, Schutz, TROC, Vans, Vicenza e ZZ Mall

Outro nome do setor voltado para a alta renda é o Grupo Soma, que tem recomendação de compra pelo Goldman Sachs, com preço-alvo de R$ 10,50 para os próximos 12 meses, uma valorização potencial de cerca de 50% em relação aos atuais R$ 7,45.

"Embora a Soma tenha uma série de oportunidades para buscar crescimento e melhorar o caixa, os resultados deste [terceiro] trimestre também ilustraram que a administração ainda precisa resolver uma série de desafios operacionais nas cadeias de abastecimento, canais de distribuição e outros elementos", diz o relatório do banco. Segundo os analistas, uma recuperação mais forte das ações dependem de uma consistência de resultados, especialmente com relação às marcas Hering e Farm.

Soma (SOMA3)

  • Lucro líquido

    R$ 256,8 milhões

  • Dívida líquida

    R$ 859,6 milhões (1,3x Ebitda)

  • Valor de mercado atual

    R$ 5,5 bilhões

  • Marcas

    Animale, NV, Hering, Farm, Fábula, Maria Filó, Cris Barros e Foxton

Renner e Riachuelo

No setor, a mais confortável é a Renner. Com R$ 1,1 bilhão de caixa líquido, a companhia tem capital para expandir a operação e retomar a trajetória de crescimento no lucro. A equipe da Ativa Investimentos coloca a Renner, ao lado da Arezzo, como uma das melhores escolhas no varejo de moda.

"Com a provável recuperação do varejo, a empresa deve aliviar o conservadorismo na concessão de crédito, o que deve impulsionar o volume de vendas dela", dizem os analistas, para quem o preço atual da ação está abaixo do potencial.

Maciel, da EQI, diz que a gestora ainda mantém recomendação neutra ("não compre nem venda') para o papel, embora haja uma visão positiva quanto aos últimos resultados da varejista, que conseguiu investir em expansão.

Lojas Renner (LREN3)

  • Lucro líquido

    R$ 449,4 milhões

  • Caixa líquido

    R$ 1,1 bilhão

  • Valor de mercado atual

    R$ 16,8 bilhões

  • Marcas

    Renner, Camicado, Youcom, Repassa e Realize CFI (financeira)

A Guararapes, dona da Riachuelo, é quem tem a maior dívida líquida entre as cinco. Recentemente, a empresa conseguiu reduzir o seu endividamento, mesmo com a queda nas operações de cartões e de empréstimo pessoal da financeira Midway, com maiores vendas de roupas via promoções.

Ao fim do terceiro trimestre, a companhia reduziu sua dívida líquida para R$ 1,7 bilhão, uma queda de 25% em relação a setembro de 2022, levando o indicador de endividamento (dívida líquida em relação ao Ebitda), a 1,9 vez.

O lucro, todavia, ainda não veio. O prejuízo líquido da companhia nos primeiros nove meses do ano passado deu um salto de 425%, para R$ 264 milhões.

A Genial Investimentos espera que a Guararapes volte a registrar lucro em 2024 e recomenda a manutenção do papel. "Entendemos que uma melhora do cenário macroeconômico deve aliviar a pressão sobre o setor de consumo discricionário ao longo de 2024", diz relatório da corretora.

Tal recuperação, entretanto, já estaria quase toda refletida no preço da ação, dizem analistas. Eles estimam que ele estará a R$ 7,60 em setembro de 2024. O papel terminou 2023 cotado a R$ 6,54.

Guararapes (GUAR3)

  • Prejuízo líquido

    R$ 264 milhões

  • Dívida líquida

    R$ 1,7 bilhão (1,9x Ebitda)

  • Valor de mercado atual

    R$ 3,3 bilhões

  • Marcas

    Riachuelo e Midway

Redução dos juros deve impulsionar varejo em 2024

Com a previsão de queda da Selic para 9,25% ao fim do próximo ano, a projeção de analistas é que o setor de varejo em geral deve se recuperar em 2024.

"É um segmento que pode oferecer oportunidades interessantes a curto prazo, e mantenho uma perspectiva otimista para a sua recuperação nessa reta final e virada do ano. As empresas mais ligadas à economia doméstica experimentaram uma recuperação robusta em novembro, e ainda há espaço para a melhora continuar", afirma Bruna Sene, da Nova Futura.

O varejo de moda, no entanto, ainda tem alguns riscos no radar. Um deles é a crescente concorrência das varejistas estrangeiras, em especial as asiáticas, que vêm expandindo investimentos no Brasil.

Segundo estimativas da Genial Investimentos, a Shein já abocanha 4,7% de participação no mercado de vestuário brasileiro. "Com cerca de R$ 7 bilhões de vendas no país, a empresa se consolida como a segunda maior varejista do setor, atrás apenas da Renner, que faturou R$ 11 bilhões em 2022", escrevem os analistas da corretora Iago Souza, Vinicius Esteves e Nina Mirazon.

Em novembro, o vice-presidente Geraldo Alckmin afirmou que a retomada do Imposto de Importação para compras internacionais de até US$ 50 é "o próximo passo" a ser dado pelo governo, o que pode trazer alívio a varejistas locais.

Outro risco monitorado por analistas é a MP do ICMS, principal medida do governo para aumentar a arrecadação federal, que aumenta a tributação de grandes empresas que possuem benefícios fiscais, o que pode impactar resultados das companhias.

Apesar disso, ainda há oportunidades para investidores no setor, aponta Tiago Maciel, que recomenda manter papeis do varejo e fazer uma leitura correta dos riscos..

"O setor vai muito além de questões tributárias pontuais, e a participação de um nome de outro país sempre traz desafios. As empresas locais sabem operar no varejo brasileiro, entendem as demandas, o que é um diferencial importante", diz o analista.

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