Aumento da produção de chips nos EUA enfrenta obstáculos após queda na demanda

Empresas anunciam atrasos na conclusão de novas fábricas no momento em que governo Biden começa a distribuir subsídios

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Don Clark Ana Swanson
San Francisco | The New York Times

Em dezembro de 2022, a taiwanesa TSMC, principal fabricante de chips de ponta do mundo, disse que planejava gastar US$ 40 bilhões no estado do Arizona, nos Estados Unidos, em seu primeiro grande centro de produção de semicondutores no país.

Com duas novas fábricas, incluindo uma com tecnologia mais avançada, o projeto foi amplamente divulgado na capital Phoenix e tornou-se símbolo da busca do presidente Joe Biden pelo aumento da produção doméstica de chips, os pedaços de silício que ajudam qualquer tipo de dispositivo a fazer cálculos e armazenar dados.

E então, em 2023, a TSMC adiou o início da produção em sua primeira fábrica no Arizona para 2025, em vez de 2024, dizendo que os trabalhadores da região não tinham expertise para instalar alguns equipamentos sofisticados.

Evento de anúncio de expansão da taiwanesa TSMC em Phoenix, no Arizona, em 2022 - Adriana Zehbrauskas - 6.dez.2022/The New York Times

No mês passado, a empresa disse que a segunda fábrica não produziria chips até 2027 ou 2028, em vez de 2026, citando incerteza sobre escolhas tecnológicas e financiamento federal.

O progresso na planta do Arizona depende em parte de "quanto incentivos o governo dos EUA pode fornecer", disse Mark Liu, presidente da TSMC, em uma chamada com investidores.

A TSMC é apenas uma das várias fabricantes de chips que estão enfrentando obstáculos com seus planos de expansão nos EUA.

Intel, Microchip Technology, entre outras, também ajustaram seus cronogramas de produção, após uma queda nas vendas em muitos tipos de chips pressionar as empresas a gerenciar melhor seus gastos com novos projetos.

Construir novas fábricas de chips é tarefa complexa, envolvendo milhares de trabalhadores, prazos longos e bilhões de dólares em equipamentos.

Os atrasos surgem à medida que o governo Biden começa a distribuir os primeiros grandes subsídios de um montante de US$ 39 bilhões destinado a fortalecer a indústria de semicondutores dos EUA e reduzir a dependência do país em tecnologia do leste asiático.

Nesta segunda-feira (19), o governo disse que concederia US$ 1,5 bilhão em subsídios à GlobalFoundries para atualizar e expandir instalações em Nova York e Vermont que produzem chips para montadoras e para a indústria de defesa.

Mas os problemas que empresas como a TSMC enfrentam em seus projetos podem reduzir os ânimos e levantar questões sobre as chances de sucesso da política industrial de Biden. Os investimentos devem ter um peso significativo em sua campanha de reeleição deste ano.

"Nada fracassou ainda", disse Emily Kilcrease, pesquisadora sênior e diretora do programa de energia, economia e segurança do Center for a New American Security, um think tank com sede em Washington.

"Mas teremos que ver algum progresso, com essas fábricas realmente entrando em operação nos próximos anos, para que o programa seja considerado um sucesso."

Mark Liu, presidente da TSMC - Lam Yik Fei - 27.jun.2023/The New York Times

O Departamento de Comércio dos EUA é responsável por distribuir a verba federal da Chips Act [lei de estímulo à produção nos EUA, de agosto de 2022].

Além do montante destinado à GlobalFoundries, o departamento emitiu até agora dois pequenos subsídios de produção. Espera-se que conceda valores muito maiores, na casa dos bilhões de dólares, a fabricantes de chips como TSMC, Intel, Samsung e Micron até os próximos meses.

A Chips Act autorizou subsídios e outros incentivos para impulsionar a produção de chips nos EUA, além de créditos fiscais para investimentos em fábricas e equipamentos.

Mais de 600 empresas e organizações apresentaram declarações de interesse nos subsídios, segundo o Departamento de Comércio, que estima compromissos de investimento privado até agora em US$ 235 bilhões.

Mas a maioria dos planos de expansão foi estabelecida quando os chips estavam escassos alguns anos atrás, durante o aumento do consumo de eletrônicos causado pela pandemia.

Essa demanda diminuiu, deixando as fabricantes de chips com grandes estoques de componentes não vendidos e pouca necessidade imediata de novas fábricas.

"As empresas estão repensando como, quais e quando os investimentos ocorrerão", disse Thomas Sonderman, CEO da SkyWater Technology, uma fabricante de chips de Minnesota que recebeu subsídios do Departamento de Defesa e está mirando no financiamento da Chips Act.

Uma fabricante de chips que está sentindo a retração é a Microchip, empresa do Arizona. Dois anos atrás, a Microchip estava sobrecarregada de pedidos. Ela solicitou financiamento da Chips Act para estimular a produção e deve receber US$ 162 milhões.

No entanto, com as vendas caindo, a empresa anunciou recentemente dois fechamentos de fábricas em duas semanas.

A Microchip ainda planeja investir em suas fábricas no Oregon e no Colorado que devem receber subsídios da Chips Act, disse Ganesh Moorthy, seu CEO. Mas a compra de máquinas para aumentar a capacidade de produção terá que esperar até que as condições comerciais melhorem.

"Estamos pausando a expansão", disse Moorthy.

A Intel, que está expandindo a produção, também ajustou as compras de equipamentos caros. A empresa disse recentemente que não vai começar a fabricar em Ohio, onde está investindo US$ 20 bilhões em duas novas fábricas, em 2025, como originalmente esperava. A mudança foi divulgada primeiro pelo Wall Street Journal.

Ainda assim, a Intel disse que nem a construção naquela planta, nem os planos de expansão nos Estados Unidos e em outros três países, diminuíram.

"A estratégia não está mudando de um trimestre para o outro", disse Keyvan Esfarjani, vice-presidente executivo responsável pelas operações de fabricação da Intel. "Estamos mantendo o curso."

Na planta da TSMC no Arizona, problemas imprevistos se acumularam ao longo do último ano.

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Fábrica da Intel em Hillsboro, Oregon - Philip Cheung - 22.set.2021/The New York Times

Em meados do ano passado, sindicatos da construção no estado levantaram questões sobre a segurança no local de trabalho e se opuseram à ideia da TSMC de trazer trabalhadores de Taiwan para ajudar na instalação de equipamentos sofisticados na primeira fábrica.

Os atrasos na instalação de máquinas levaram ao anúncio em julho sobre o adiamento do início da produção.

Em dezembro, a TSMC e o Conselho de Construção e Comércio do Arizona concordaram com regras básicas na planta para segurança, treinamento, mão de obra local e outras questões.

Em um comunicado por email, Liu, que recentemente anunciou planos de se aposentar, soou esperançoso de que as tensões com os trabalhadores tenham acabado.

Ele reconheceu "desafios" na construção da primeira fábrica em Phoenix, mas disse que a TSMC ainda era "a mais rápida" entre seus pares em concluir tais projetos.

Embora tenha dito aos analistas em janeiro que a empresa adiaria o início da produção na segunda fábrica, o motivo provavelmente não estará relacionado com a qualificação da mão de obra.

"Acreditamos que a construção de nossa segunda fábrica será muito mais tranquila", disse Liu. "Os trabalhadores no Arizona aprendem rápido."

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