Descrição de chapéu alimentação

Dona do Burger King quer ficar com a Starbucks no Brasil

Negociação vem no momento em que o bilionário fundo Mubadala se tornou controlador da Zamp, que administra a rede de lanchonetes

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São Paulo

A Zamp, dona das franquias do Burger King e do Popeyes, está negociando com a Starbucks Corporation se tornar master franqueada da marca americana no Brasil. O anúncio foi feito nesta quarta-feira (21), em comunicado enviado à CVM (Comissão de Valores Mobiliários).

O órgão de fiscalização do mercado de capitais havia questionado a Zamp sobre reportagem do jornal Valor Econômico a respeito da negociação.

"A companhia iniciou tratativas com a Starbucks Corporation envolvendo o direito de explorar a marca e desenvolver as operações da Starbucks no Brasil, não tendo sido apresentada qualquer proposta ou celebrado qualquer acordo ou contrato com a Starbucks Corporation, exceto por um acordo de confidencialidade", informou.

A notícia foi confirmada no mesmo dia em que a Zamp anunciou que o bilionário fundo árabe Mubadala se tornou o controlador da empresa, com 58,2% do seu capital social.

Fachada de loja em que se lê Starbucks Coffee
Fachada de loja da Starbucks na Alameda Santos, região da Avenida Paulista, em São Paulo, que fechou as portas. - Danilo Verpa/Folhapress

O Mubadala administra US$ 276 bilhões (R$ 1,36 trilhão) em ativos ao redor do mundo, em mais de 50 países, e já tinha participação na Zamp.

Hoje a marca Starbucks no Brasil é operada pela SouthRock, que entrou em recuperação judicial em 12 de dezembro do ano passado, com dívidas de R$ 1,8 bilhão.

Na recuperação judicial estão outras marcas da empresa: T.G.I. Friday's e BAR –Brazil Airport Restaurants (que opera a franquia da Starbucks e de outras marcas em aeroportos de São Paulo, Rio, Brasília e Florianópolis). O centro gastronômico Eataly

chegou a ser incluído no pedido inicial de RJ, mas os controladores pediram sua retirada. A Subway, também operada pela SouthRock, ficou fora da recuperação judicial.

"O momento da negociação é o melhor possível", diz o consultor Eugênio Foganholo, sócio da Mixxer Desenvolvimento Empresarial. "Para a corporation americana, é muito depreciativo manter sua marca em um grande mercado, como o brasileiro, controlada por uma empresa em recuperação judicial", afirma.

De fato, desde o fim do ano passado, cerca de 40 das 187 lojas da cafeteria americana foram fechadas no Brasil, o que incluiu alguns pedidos de despejo. Além disso, a SouthRock tirou o aplicativo da Starbucks Brasil do ar e encerrou o programa de fidelidade da marca.

Do ponto de vista legal, segundo o advogado Filipe Denki, é possível negociar os ativos de uma empresa em recuperação judicial. "Você pode transformar a empresa em diferentes unidades produtivas isoladas –como site e lojas, por exemplo– e negociar cada uma delas", diz Denki, lembrando que esta foi a solução usada pelo grupo Saraiva.

"No caso da Starbucks, a corporação americana tem a possibilidade de oferecer a marca a um terceiro, que pode ficar com as lojas, estoques e funcionários, dependendo da negociação."

Na opinião de Paulo Solmucci Jr., presidente da Abrasel (Associação Brasileira de Bares e Restaurantes), o negócio pode ser positivo para reativar a marca no país. "Ainda que as sinergias entre as diferentes marcas [Starbuks, Burger King e Popeyes] não venha tão rapidamente, a Zamp pode resgatar a operação da Starbucks no país, que vem sofrendo com os atuais donos", diz.

"O nome Starbucks ainda não tem a força que se espera no Brasil, mas precisa estar nas mãos de um bom operador, que tenha capital para expansão e para explorar os bons pontos que a marca já tem."

A Zamp encerrou 2022 com receita líquida de R$ 3,6 bilhões e prejuízo de R$ 41,4 milhões. O resultado de 2023 ainda não foi divulgado, mas entre janeiro e setembro do ano passado a dona do Burger King e do Popeyes apresentou receita operacional líquida de R$ 2,7 bilhões e prejuízo de R$ 146,1 milhões.

Ao todo, a empresa fechou o mês de setembro com 1.003 restaurantes no país, entre próprios e franqueados. Com o Mubadala, o fôlego para expansão tende a ser renovado, dizem especialistas.

fachada de loja rosa
Fachada da loja temática Barbie do Burger King, no bairro do Itaim Bibi, em São Paulo - Divulgação

"Eles devem acelerar a formação de um portfólio de negócios em franquias de alimentação. Com Burger King, Starbucks e Popeyes, a operação fica muito mais robusta e abre espaço para novas aquisições e, eventualmente, até para a chegada de novas marcas ao Brasil", diz Foganholo.

"Teria potencial para uma 'house of brands' da alimentação, no estilo Arezzo e Soma", afirma, referindo-se à fusão que deu origem à maior varejista de moda da América Latina em número de marcas.

Na opinião do consultor Alberto Serrentino, sócio da Varese Retail, a marca Starbucks é forte, tem um público premium fiel, especialmente os mais jovens e os viajantes, conectados com marcas internacionais.

"A Starbucks é mais do que uma cafeteria, é uma marca lifestyle, aspiracional", diz Serrentino. A maior parte do faturamento da marca não está no café, mas nos drinks, além do menu de sanduíches, afirma. "É um negócio com potencial e valor."

Procurados pela Folha, Zamp e Mubadala indicaram apenas os comunicados ao mercado. A SouthRock não atendeu a reportagem.

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