Descrição de chapéu carro elétrico

Empresário capixaba se inspira na Tesla para desenvolver carro elétrico nacional

Flávio Figueiredo Assis deixou ramo de cartões de alimentação para investir no Lecar 459

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São Paulo

Flávio Figueiredo Assis dirige um Tesla Model 3 no dia a dia, mas isso não é o bastante para ele. O empresário capixaba quer fazer seu próprio carro elétrico.

Após vender sua administradora de cartões PAT (Programa de Alimentação do Trabalhador) em 2022 e acumular fortuna, resolveu investir no novo negócio.

"Dormi aposentado, mas acordei com o meu coração queimando de novo. Dei um game over, resolvi minha vida e pensei: ‘o que fazer agora?’", diz Assis, explicando como começou a história do protótipo Lecar 459.

Lateral da primeira versão do carro elétrico nacional Lecar 459
Lateral da primeira versão do carro elétrico nacional Lecar 459 - Divulgação

O carro, que será capaz de rodar 400 quilômetros com uma carga completa de suas baterias, tinha preço estimado de R$ 279 mil no início do projeto. Contudo, pelos cálculos do empresário, há possibilidade de ser vendido por menos de R$ 200 mil, devido a condições melhores apresentadas por fornecedores.

Se não houver mudança, o valor será próximo ao cobrado pelo BYD Seal (R$ 296,8 mil), que será um concorrente direto. Mas Assis acredita que os automóveis elétricos importados ficarão mais caros em breve, devido à retomada gradual do Imposto de Importação.

O projeto nacional segue acelerado, mas o primeiro desenho do Lecar 459 já mudou. O estilo sedã do primeiro protótipo está sendo substituído pela carroceria SUV cupê, como o Fiat Fastback e o BMW X4.

O empresário capixaba diz que procurou até o estúdio Pininfarina para desenhar seu carro 100% elétrico, mas não obteve retorno. A responsabilidade coube a Romis do Carmo, designer e ilustrador de Vitória (ES). É a primeira vez que ele trabalha no projeto de um automóvel.

Assis afirma que a inspiração para os esboços veio da fauna. "O Romis diz que carro é bicho, é Jaguar, é Cobra, é Mustang." As imagens do protótipo ainda com carroceria sedã mostram faróis estreitos e amendoados, tomada para recarga no para-lama dianteiro esquerdo e LEDS azuis no para-choque frontal.

A carroceria será feita de SMC, um material de alta resistência composto por plástico e fibra de vidro. É aplicado, por exemplo, em carros de competição.

O nome Lecar remete à antiga empresa de cartões de Assis, que se chamava Lecard. O número 459, segundo o empresário, faz alusão ao inventor e engenheiro Nikola Tesla (1856-1943), que era obcecado pelo número 369. Eis a lógica da escolha: em ambos os casos, a soma dos dois primeiros algarismos resulta em nove.

O negócio é tocado com capital próprio. Assis diz que foram contratados 30 engenheiros, e 23 deles vieram da Ford. Há também funcionários com passagem por Nissan, Marcopolo e Gurgel. Em 2025, o empresário planeja fazer seu IPO (oferta inicial de ações, na sigla em inglês).

Além da experiência com projetos de carros nacionais, um dos ex-funcionários da Gurgel —marca que chegou a produzir carros elétricos no país— tem ajudado Assis a ser cuidadoso em suas escolhas. "A Gurgel teve muito apoio da Volkswagen, por exemplo, mas verticalizou demais o negócio."

A Lecar tem sede em Alphaville, Barueri (Grande São Paulo), mas a linha de produção fica em Caxias do Sul (RS), que tem um polo automotivo consolidado. Foi lá que um Tesla Model Y foi desmontado, o que permitiu analisar as tecnologias empregadas.

Além de entender como funciona o carro de Elon Musk, o empresário brasileiro quer copiar o modelo de vendas da empresa americana. A ideia é não ter concessionárias e vender os veículos de forma direta para os consumidores, em pequenos pontos de venda. Esse formato, contudo, pode esbarrar na Lei Ferrari, de 1979. A regra estabelece limites entre as relações de fabricantes e revendedores.

O empresário diz que a ideia de produzir um carro 100% elétrico no Brasil se baseia na Lei 8.723, de 1993, que estabeleceu os limites de emissões para os anos seguintes.

Como se vê agora, os parâmetros que resultaram na criação do Proconve (Programa de Controle de Emissões Veiculares) caminham para a eletrificação a cada nova fase. Isso explica a próxima onda do mercado, em cuja crista estarão os carros híbridos flex.

Mas Flávio Figueiredo Assis quer pular essa etapa e ir direto para os 100% elétricos. Além do 459, planeja lançar o Lecar Pop, que custaria aproximadamente R$ 100 mil.

Cerca de 35% das peças do Lecar 459 serão importadas da China, a exemplo das baterias. Diferentes fornecedores estão sendo consultados.

Para o futuro, diz Assis, o objetivo é produzir os acumuladores no Brasil. "Temos 97% dos minerais necessários para fazer as baterias aqui."

O processo mais complexo será a validação do Lecar 459 para venda. A empresa poderá ser beneficiada pelo programa Mover (Mobilidade Verde) e receber incentivos tributários, mas há o processo que envolve crash tests.

Assis afirma que o carro alcançou cinco estrelas em todas as simulações de impacto, com base no protocolo estipulado pelo EuroNcap. São medições feitas no computador, seguindo o mesmo padrão das grandes montadoras.

O protótipo deve seguir para a Inglaterra ainda no primeiro trimestre, onde vai passar por testes físicos de impacto e aerodinâmica. De acordo com a empresa, essa etapa deverá durar nove meses.

O objetivo é produzir 50 mil carros por ano no fim da década, gerando 6.000 empregos diretos e R$ 13 bilhões de faturamento anual. Outra meta é exportar para os Estados Unidos e a Europa, embora esses países já tenham fartura de oferta de modelos elétricos à disposição.

Os planos preveem ainda a instalação de carregadores em rodovias e a disponibilidade para locação de longo prazo.

O empresário espera lançar o carro no Brasil em dezembro, o que parece pouco factível diante dos prazos de desenvolvimento usuais no setor automotivo. Cada novo automóvel que chega às ruas passa por pelo menos três anos entre o projeto original e o início da produção.

Mas Assis considera que sua empresa, por funcionar como uma startup, é mais ágil que as fabricantes tradicionais. "As grandes montadoras são transatlânticos, eu sou um jet ski."

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