Descrição de chapéu Todas Folhajus

Empresas querem ir à Justiça contra Lei da Igualdade Salarial, diz ministra das Mulheres

Cida Gonçalves afirma que será preciso cumprir lei e governo não deve aplicar multas de forma imediata

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

A ministra das Mulheres, Cida Gonçalves, disse nesta quarta-feira (27) que há empresas ameaçando ir à Justiça contra a Lei da Igualdade Salarial, sancionada pelo presidente Lula em julho de 2023.

A legislação, que prevê salário igual entre homens e mulheres na mesma função sob pena de multa, determina prazo às companhias para adaptação. O primeiro deles vence nesta quinta-feira (29), quando é preciso entregar relatório de transparência salarial entre gêneros para o governo federal.

"Nós estamos no desafio de implementar, e não está fácil", afirmou Cida a uma plateia de mulheres, em evento da Força Sindical na sede do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo, na capital paulista.

"Nós descobrimos que eles [as empresas] querem já judicializar. Por quê? Porque vai ficar transparente quanto cada um ganha", contou.

mulher branca em pé, com microfone, atrás de mesa com várias pessoas sentadas
Ministra das Mulheres, Cida Gonçalves, fala sobre a Lei de Igualdade Salarial em evento para mulheres sindicalistas - Folhapress

Como mostrou reportagem da Folha, empresas têm manifestado temor de que a nova regra gere um conflito com a legislação de proteção de dados.

Segundo Cida, a resposta do ministério às companhias que questionam a legislação tem sido a mesma já dada por Lula em ocasiões anteriores: será preciso cumprir a lei.

"Gente, se você não paga o salário igual eu lamento, não é o governo o responsável. Nós temos a legislação, a Constituição brasileira, a CLT [Consolidação das Leis do Trabalho) e, agora, a lei dizendo que tem que pagar salário igual."

A ministra afirma que a meta do governo, inicialmente, é ao menos ter salário de entrada igual para homens e mulheres, sem cobrar o mesmo posicionamento para cargos mais altos, por se tratar de plano de carreira e particularidade das companhias.

Segundo ela, o relatório a ser preenchido até quinta-feira é essencial para mapear a situação no país, não apenas por empresa, mas por setor econômico e região. Em um primeiro momento, Cida diz que não haverá punições, apenas alertas. Só depois é que poderá ser enviada fiscalização do MTE (Ministério do Trabalho e Emprego) e, posteriormente, haver multa.

"A gente tem uma legislação a cumprir. A lei diz que, primeiro, a empresa precisa ser notificada", afirma.

"A empresa vai receber a notificação, vai poder responder a notificação, fazer suas alegações. E, depois, se as alegações não forem suficientes, ou vai se notificar de novo ou aí vai ter a fiscalização. Os auditores fiscais vão na empresa; só depois é que tem multa."

O governo deve disponibilizar os dados em um Portal da Transparência a partir de abril, mas sem detalhar cargos, apenas por categoria profissional, segundo ela. O relatório também deve trazer o percentual de igualdade salarial por empresa, setor, região e em geral no país.

Cida afirmou que a aprovação da lei em 2023 não foi fácil, e que diversos parlamentares se mostraram contrários ao projeto enviado pelo governo. Um deles chegou a solicitar a retirada da medida de pauta, e disse a ela não ser possível pagar salários iguais para homens e mulheres.

"Eu tinha muita segurança. Pensava: 'Não é possível que no Brasil, em pleno 2023, no século 21, alguém seja contra a igualdade salarial entre homens e mulheres'. Eu qual foi a minha surpresa? Tinha. Não foi fácil negociar nas comissões", contou.

Como funciona o relatório

A maioria dos dados que o governo deve utilizar para mapear a igualdade salarial entre homens e mulheres no país já estão no eSocial, plataforma online onde as empresas depositam informações sobre os salários e a vida laboral de cada funcionário.

No eSocial, foram introduzidas mais sete questões que tratam sobre o tema, para facilitar a coleta por parte dos técnicos e para não descumprir questões de sigilo garantidas na LGPD (Lei Geral de Proteção de Dados).

Para Cida, esses cuidados tomados derrubam a tese inicial das companhias de que haveria quebra de sigilo pessoal ao ceder informações extras ao governo federal.

"Os dados que serão apresentados são os que a própria empresa prestou. Então, não vai ter quebra de sigilo, não vai sair nome de pessoas, não vai sair individualmente quem é gerente, quem não é. Vai sair os diversos grupos salariais que têm", disse.

Os formulários a serem preenchidos deverão conter o total de empregados da empresa, separados por sexo, raça e etnia, assim como os cargos e valores das remunerações. Além disso, também deverão conter dados sobre valores de todas as remunerações incluindo:

  • salário contratual

  • 13° salário

  • comissões

  • horas extras

  • adicionais noturnos

  • adicional de insalubridade

  • descanso semanal remunerado

  • gorjetas

  • terço de férias

  • aviso prévio trabalhado

  • outras remunerações previstas em norma coletiva de trabalho

O MTE pode solicitar informações complementares às que constam no relatório publicado para fins de fiscalização e confirmação de cadastro.

Como parte da iniciativa Todas, a Folha presenteia mulheres com dois meses de assinatura digital grátis

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.