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Tej Parikh

Países ricos com muitos herdeiros caem na armadilha da falta de inovação

Crescimento econômico persistente é possível, mas isso exige políticas corretas

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Tej Parikh

Colunista de economia do Financial Times e ex-diretor da Fitch Ratings

Financial Times

O mundo ocidental enfrenta um problema de crescimento. Desde o boom do pós-guerra até a crise financeira global de 2008, o PIB per capita dos países do G7 aumentou década após década.

Mas, nos últimos 15 anos, o crescimento desacelerou na maioria deles. O principal culpado é a produtividade fraca —o crescimento anual médio do PIB por hora trabalhada diminuiu no G7.

Os remédios –capacitação, melhoria da infraestrutura e inovação— são bem estabelecidos. No entanto, os problemas parecem mais fáceis de identificar do que de corrigir.

Falta de qualificação, rodovias mal conservadas e serviços públicos ineficientes continuam. O ritmo das reformas de liberalização também diminuiu em economias avançadas.

Vale a pena perguntar se o fracasso em aprovar medidas que aumentam o crescimento é em si uma consequência de um país se tornar rico e democrático. Será que existe algum tipo de "armadilha de renda alta"? Três dinâmicas se destacam nesse sentido.

Em primeiro lugar, países desenvolvidos já implementaram as reformas econômicas mais facilmente alcançáveis. Eles se abriram para o comércio, reformaram setores bancários e privatizaram finanças.

O crescimento adicional envolve medidas complicadas que ajudam a organizar ideias, capital e talento de forma mais produtiva.

Por exemplo, Daron Acemoglu, professor de economia do MIT, acredita que o Ocidente não está canalizando a inovação tão bem quanto poderia. "Isso reflete a dominação de algumas empresas que estão acumulando recursos inovadores e a concentração da inovação em apenas algumas áreas, como IA, redes sociais e eletrônicos de consumo."

Em segundo lugar, o crescimento contínuo requer que o capital humano e físico sejam constantemente atualizados.

No entanto, muitos países têm problemas em tornar seus sistemas de qualificação e educação responsivos às demandas em evolução. A modernização da infraestrutura também é um desafio.

A idade média da infraestrutura industrial, energética e rodoviária dos Estados Unidos está próxima de seu nível mais alto desde que os registros começaram, em 1925.

No Reino Unido, os cabos de telecomunicações de cobre da era vitoriana retardaram a transição do país para a internet de alta velocidade.

Enquanto isso, a falta de infraestrutura anterior de outros países permitiu que eles ultrapassassem o G7: o metrô de Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, é o sistema de trem sem motorista mais longo do mundo, enquanto a Estônia tem um dos melhores serviços públicos digitais do mundo.

Em terceiro lugar está o desafio do processo democrático. No livro "Rise and Decline of Nations" [ascensão e queda das nações], o economista Mancur Olson descreve como grupos de pressão podem "reduzir a capacidade de uma sociedade de adotar novas tecnologias e realocar recursos em resposta a condições em mudança".

Sistemas de planejamento engessados e grupos anti-imigração são um exemplo. Olson argumenta que coalizões influentes aumentam "a complexidade da regulamentação [e] o papel do governo". É difícil todos saírem felizes.

Outras dinâmicas também podem desempenhar um papel importante. Alguns acadêmicos argumentam que as bases de eleitores envelhecidas em países ricos irão cada vez mais deslocar os incentivos políticos e os recursos para longe dos trabalhadores mais jovens, o que pode reduzir o crescimento.

Um punhado de países ricos conseguiu aumentar significativamente seu PIB per capita nas últimas décadas, como Singapura, Coreia do Sul, Taiwan, Suíça e Irlanda.

Alguns têm tendências autoritárias, mas geralmente são estados pequenos bem governados, um grupo que o ex-presidente armênio, Armen Sarkissian, avaliou em "O Clube dos Pequenos Estados". O tamanho incentivou o planejamento estratégico de recursos, coesão nacional, inovação especializada e abertura, o que apoiou a agilidade.

Pode haver lições transferíveis para países democráticos ricos e maiores. Em primeiro lugar, o foco ajuda a canalizar recursos de forma eficaz.

Em segundo lugar, o tamanho e os interesses variados tornam a tomada de decisões democrática mais lenta e difícil. Delegar mais decisões para um nível regional, projetar políticas que compensem melhor os perdedores e resolver as desigualdades ajudariam.

Em terceiro lugar, os reguladores precisam ser melhor capacitados e mais qualificados para lidar com reformas complexas em um ritmo maior.

A invenção tecnológica historicamente impulsionou o crescimento da produtividade. Muitos esperam que a inteligência artificial faça o mesmo.

Mas capitalizar a IA significa superar as mesmas dinâmicas amplas com as quais as economias do G7 estão lidando hoje —otimizar a regulamentação da tecnologia, eletrificar os antigos sistemas de energia e dar apoio àqueles que podem perder seus empregos.

A chamada "armadilha de renda média" —na qual os países lutam para fazer a transição para uma renda mais alta— foi minada por países que dela escaparam, incluindo Coreia do Sul, Taiwan e Polônia. Com reformas apropriadas, ela pode ser superada.

Da mesma forma, se uma "armadilha de renda alta" realmente existir, não é porque a economia não permitirá uma prosperidade contínua, pelo contrário. Mas isso exige políticas e políticos corretos para desbloquear esse potencial.

Shopping em Nova York - Getty Images via AFP
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