Descrição de chapéu The New York Times

Agência dos EUA encontra até detergente no lugar de lubrificante em fabricação de Boeing 737 Max

Inspeção detecta 97 falhas em processo de produção de modelo de avião que perdeu porta durante voo

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Washington (Estados Unidos) | The New York Times

Uma auditoria de seis semanas realizada pela agência reguladora de aviação dos Estados Unidos no jato 737 Max da Boeing encontrou dezenas de problemas ao longo do processo de fabricação da empresa e em um de seus principais fornecedores, de acordo com um relatório visto pelo jornal The New York Times.

A agência iniciou a análise depois que um painel da porta se soltou de um 737 Max 9 durante um voo da Alaska Airlines no início de janeiro. Na semana passada, a agência anunciou que a auditoria encontrou "múltiplas instâncias" nas quais a Boeing e sua fornecedora, Spirit AeroSystems, não cumpriram os requisitos de controle de qualidade, embora não tenha fornecido detalhes sobre as descobertas.

A apresentação vista pelo The New York Times, embora altamente técnica, oferece uma imagem mais detalhada do que a auditoria descobriu.

Desde o episódio da Alaska Airlines, a Boeing tem sido submetida a intenso escrutínio sobre suas práticas de controle de qualidade, e as descobertas se somam ao conjunto de evidências sobre falhas de fabricação na empresa.

Aviões em galpão da Boeing
Aviões Boeing 737 Max na linha de montagem na fábrica da Boeing em Renton, Washington, em 2019 - NYT

Para a parte da auditoria focada na Boeing, a agência FAA (Federal Aviation Administration, na sigla emi inglês) realizou 89 auditorias de produtos, um tipo de revisão que analisa aspectos do processo de produção.

A fabricante de aviões passou em 56 das auditorias e falhou em 33 delas, com um total de 97 instâncias de suposta não conformidade, de acordo com a apresentação.

A FAA também realizou 13 auditorias de produtos para a parte da investigação focada na Spirit AeroSystems, que fabrica a fuselagem do 737 Max. Seis dessas auditorias resultaram em notas aprovatórias, e sete resultaram em notas reprovatórias, disse a apresentação.

Em um momento durante a auditoria, a agência de segurança aérea observou mecânicos da Spirit usando um cartão-chave de hotel para verificar uma vedação de porta, de acordo com um documento que descreve algumas das descobertas. Essa ação não foi "identificada/documentada/mencionada na ordem de produção", disse o documento.

Sabão líquido em porta

Em outra investigação, a FAA viu mecânicos da Spirit aplicando detergente líquido da marca Dawn em uma vedação de porta "como lubrificante no processo de montagem", conforme o documento. A vedação da porta foi então limpa com um pano de prato úmido, disse o documento, observando que as instruções eram "vagas e não claras sobre quais especificações/ações devem ser seguidas ou registradas pelo mecânico."

Perguntado sobre a adequação do uso de um cartão-chave de hotel ou sabão Dawn nessas situações, um porta-voz da Spirit, Joe Buccino, disse que a empresa estava "revisando todas as não conformidades identificadas para ação corretiva."

Jessica Kowal, porta-voz da Boeing, disse que a fabricante de aviões estava continuando "a implementar mudanças imediatas e desenvolver um plano de ação abrangente para fortalecer a segurança e a qualidade, e aumentar a confiança de nossos clientes e seus passageiros."

No final de fevereiro, a FAA deu à empresa 90 dias para desenvolver um plano de melhorias de controle de qualidade. Em resposta, seu CEO, Dave Calhoun, disse que "temos uma imagem clara do que precisa ser feito", citando em parte as descobertas da auditoria.

A Boeing disse neste mês que estava em negociações para adquirir a Spirit, que foi separada em 2005. Buccino disse na segunda-feira que a Spirit recebeu descobertas preliminares da auditoria da FAA e planejava trabalhar com a Boeing para abordar o que o regulador havia levantado. Ele disse que o objetivo da Spirit era reduzir a zero o número de defeitos e erros em seus processos.

"Enquanto isso, continuamos com vários esforços empreendidos para melhorar nossos programas de segurança e qualidade", disse Buccino. "Essas melhorias se concentram em fatores humanos e outras etapas para minimizar a falta de conformidade."

A FAA disse que não poderia divulgar detalhes sobre a auditoria devido à sua investigação ativa sobre a Boeing em resposta ao episódio da Alaska Airlines. Além dessa investigação, a Junta Nacional de Segurança nos Transportes está investigando o que causou o painel da porta se soltar do avião, e o Departamento de Justiça iniciou uma investigação criminal.

Durante a auditoria da FAA, a agência implantou até 20 auditores na Boeing e cerca de meia dúzia na Spirit, segundo a apresentação de slides. A Boeing monta o 737 Max em sua fábrica em Renton, Washington, enquanto a Spirit constrói a fuselagem do avião em sua fábrica em Wichita, Kansas.

A auditoria na Boeing foi abrangente, cobrindo muitas partes do 737 Max, incluindo suas asas e uma variedade de outros sistemas.

Muitos dos problemas encontrados pelos auditores se enquadram na categoria de não seguir um "processo de fabricação, procedimento ou instrução aprovados", de acordo com a apresentação. Alguns outros problemas lidavam com documentação de controle de qualidade.

"Não eram apenas questões de papelada, e às vezes é a ordem na qual o trabalho é feito", disse Mike Whitaker, administrador da FAA, em uma coletiva de imprensa na segunda-feira. "Às vezes é a gestão de ferramentas - soa meio banal, mas é realmente importante em uma fábrica que você tenha uma maneira de rastrear ferramentas de forma eficaz para ter a ferramenta certa e saber que não a deixou para trás. Então é realmente higiene no chão da fábrica, por assim dizer, e uma variedade de questões desse tipo."

Uma auditoria lidou com o componente que se soltou do jato da Alaska Airlines, conhecido como um plugue de porta. Segundo a apresentação, a Boeing falhou nessa verificação. Alguns dos problemas apontados por essa auditoria estavam relacionados à documentação de inspeção e controle de qualidade, embora as descobertas exatas não tenham sido detalhadas na apresentação.

A análise da FAA também explorou o quão bem os funcionários da Boeing entendiam os processos de controle de qualidade da empresa. A agência entrevistou seis engenheiros da empresa e pontuou suas respostas, e a pontuação média geral foi de apenas 58%.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.