A JBS está enfrentando uma crescente oposição de políticos e ativistas aos planos de listagem de ações nos Estados Unidos, com autoridades de Nova York agora a acusando de "greenwashing", termo em inglês para empresas que passam uma imagem falsa de sustentabilidade.
A procuradora-geral do estado, Letitia James, anunciou que estava processando o braço norte-americano da JBS na semana passada, alegando que a empresa teria minimizado seu impacto ambiental com "alegações de sustentabilidade falsas para impulsionar as vendas".
A ação judicial afirma que a companhia, a maior processadora de carne do mundo, se comprometeu a zerar suas emissões líquidas de gases de efeito estufa até 2040, apesar de não ter um plano viável para alcançar esse objetivo.
O escritório de James disse que ela está buscando impedir a JBS dos EUA "de continuar com essas práticas de marketing falsas e enganosas [e] pagar a restituição de todos os lucros ilícitos e multas".
O caso é mais um revés para o conglomerado alimentício avaliado em US$ 10 bilhões, que retomou ambições de longa data de listar suas ações na Bolsa de Valores de Nova York em julho passado.
A JBS, sediada em São Paulo, não planeja levantar dinheiro imediatamente com o movimento, mas espera acessar capital mais barato e aumentar sua avaliação patrimonial.
No entanto, as propostas têm sido alvo de críticas de ativistas ambientais, que acusam a empresa de incentivar o desmatamento.
A criação de gado é uma das principais causas de destruição da Amazônia, juntamente com o desmatamento ilegal e a mineração. Um estudo do think-tank Imazon no ano passado descobriu que a JBS era a processadora de carne mais exposta ao risco de comprar de áreas desmatadas na Amazônia brasileira.
"O impacto climático e de desmatamento da JBS continua a perturbar seus planos de negócios principais e a expô-la a grandes riscos legais", escreveu Glenn Hurowitz, fundador da organização sem fins lucrativos Mighty Earth.
Paralelamente, um grupo bipartidário de senadores dos EUA expressou "profundas preocupações" com a listagem proposta em uma carta de janeiro à SEC (Securities and Exchange Commission), a CVM (Comissão de Valores Mobiliários) norte-americana.
Eles instaram o órgão regulador financeiro a considerar como o acesso aos mercados de capitais dos EUA poderia fortalecer a posição de mercado da JBS, "aumentar sua capacidade de se envolver em condutas anticompetitivas e impactar negativamente os agricultores e pecuaristas dos EUA".
Os 15 políticos solicitaram que os reguladores examinassem de perto a precisão do arquivamento do rascunho. "Caso a JBS não corrija quaisquer deficiências de divulgação, pedimos que a SEC se recuse a declarar o registro da empresa como efetivo."
Eles também destacaram preocupações ambientais e escândalos de corrupção passados, que levaram a acordos e penalidades para o acionista controlador da JBS, a J&F Investimentos, holding do império empresarial da família Batista.
Em 2017, a J&F concordou em pagar uma multa de US$ 3,2 bilhões no Brasil após admitir subornar políticos. O pagamento foi suspenso pelo STF no ano passado. A holding também se declarou culpada de acusações de suborno estrangeiro nos EUA em 2020.
A JBS é um dos principais fornecedores de carne nos EUA, com marcas como Pilgrim's Pride. Globalmente, é um dos principais fornecedores de carne bovina, frango e suína, além de alimentos processados, com faturamento anual acima de US$ 70 bilhões.
A empresa disse que discorda da ação judicial de Nova York, acrescentando que monitora uma rede de 70.000 potenciais vendedores em todo o Brasil há quase 15 anos.
"Os fornecedores são verificados diariamente para garantir que o gado proveniente de propriedades com desmatamento ilegal, áreas embargadas ou trabalho forçado não entre em nossa cadeia de suprimentos. Hoje, mais de 14.000 potenciais fornecedores estão bloqueados."
A JBS também disse que no ano passado alcançou a meta de eliminar o desmatamento de seus vendedores diretos de gado na Amazônia e estava lidando com o problema nas cadeias de suprimentos indiretas.
"Continuaremos a colaborar com agricultores, pecuaristas e outras partes interessadas em direção a um futuro mais sustentável para a agricultura, que utilize menos recursos e reduza o impacto ambiental, enquanto alimenta uma população global em crescimento."
A estrutura proposta de listagem dupla incluirá recibos de depósito na B3, onde as ações atualmente são negociadas.
"Isso apresenta uma oportunidade convincente para os interessados no desempenho e crescimento sustentável da empresa", disse a JBS.
O diretor financeiro, Guilherme Cavalcanti, disse recentemente que a JBS estava "respondendo a perguntas" da SEC e que o próximo registro seria após os resultados do ano inteiro, previstos para 26 de março. "Não estamos com pressa, porque não precisamos levantar capital. Estamos aqui para o longo prazo", acrescentou.
J&F disse: "Não há informações substanciais disponíveis sobre a organização por trás dessa campanha [contra a listagem de ações da JBS], sua agenda ou sua fonte de financiamento.
"Estamos totalmente em conformidade com todas as regulamentações e procedimentos estabelecidos pelas autoridades nos mercados em que atuamos."
A proposta de listagem deve ser aprovada pelos acionistas minoritários.
A JBS já enfrentou discordâncias com gestores de ativos dos EUA: Vanguard e BlackRock, seus quinto e sexto maiores acionistas, respectivamente, votaram contra os diretores de seu conselho na reunião anual do ano passado.
A BlackRock disse que os membros do comitê de compensação "não responderam às preocupações dos acionistas em relação às políticas de compensação", acrescentando que a empresa "não atende às nossas aspirações de ter divulgações adequadas de riscos climáticos". A Vanguard também votou contra os membros do conselho fiscal da JBS.
A JBS é apenas uma das várias grandes empresas de fora dos EUA que recentemente buscaram novas listagens por lá, em busca de maior liquidez e valorações mais altas. Já neste ano, a fintech Kaspi, do Cazaquistão, e o grupo de jogos britânico Flutter se juntaram às bolsas americanas.
Reportagem adicional de Nicholas Megaw e Patrick Temple-West em Nova York.
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