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Engenheiro da Boeing diz que empresa ignorou alertas de segurança

Em depoimento ao Senado dos EUA, denunciante diz pediram que 'calasse a boca' após levantar questões sobre 777 e 787

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Claire Bushey
Chicago | Financial Times

Em depoimento a um comitê do Senado dos EUA, um denunciante da Boeing disse que a empresa tem uma cultura de retaliação contra funcionários que levantam preocupações em relação à segurança das aeronaves.

Sam Salehpour, engenheiro de qualidade da empresa, disse que foi repreendido por um gerente após questionar repetidamente a segurança dos aviões 777 e 787. Separadamente, ele disse que encontrou um prego inserido de forma suspeita no pneu de seu carro.

"Levantei essas questões ao longo de três anos", disse ele a uma comissão investigadora do Senado nesta quarta-feira (17), voltada para examinar a cultura de segurança da Boeing. "Fui ignorado; disseram-me para não criar atrasos; disseram-me, francamente, para calar a boca."

O engenheiro da Boeing Sam Salehpour durante depoimento ao Senado americano - Getty Images via AFP

Salehpour foi convidado a testemunhar perante o Congresso depois de tornar público, na semana passada, preocupações de que o 787 poderia sofrer danos ao longo dos anos de uso que poderiam fazer com que o jato se desintegrasse. A FAA (Administração Federal de Aviação, na sigla em inglês) está investigando suas alegações.

"Há uma cultura de, quando você aborda as questões de qualidade, você é ameaçado", disse Salehpour. "Tudo o que estou tentando dizer é que o sistema precisa ser mudado."

"A Boeing compreende a importância das responsabilidades da comissão em termos de fiscalização e cooperamos com a investigação", reiterou o grupo, que expressou a disposição de "entregar documentos, testemunhos e relatórios técnicos".

"Sabemos que temos trabalho a fazer", reconheceu a empresa após a audiência. "Continuamos colocando a segurança e a qualidade acima de tudo", acrescentou.

A Boeing rejeita as acusações e, na segunda-feira (15), defendeu seus métodos ao declarar-se "confiante na segurança e durabilidade dos 787 e 777", em um documento assinado por dois de seus principais engenheiros.

A fabricante de aviões ainda está lidando com as consequências de um acidente em um jato Boeing 737 Max em janeiro, quando um painel da porta se soltou durante um voo. A FAA e o Departamento de Justiça dos EUA abriram investigações.

Um relatório preliminar da NTSB (Junta Nacional de Segurança nos Transportes) concluiu que o painel da porta estava sem quatro parafusos destinados a fixá-lo à fuselagem, e uma auditoria da FAA encontrou "múltiplas instâncias" em que a Boeing não cumpriu os requisitos de fabricação e controle de qualidade.

A Boeing tem um problema em toda a empresa com funcionários temendo retaliação por se manifestarem, disse Javier de Luis, um engenheiro aeroespacial do MIT que participou de um painel de especialistas que publicou um relatório em fevereiro criticando a cultura de segurança da Boeing.

A irmã de De Luis era uma intérprete da ONU que morreu em um acidente de um 737 Max operado pela Ethiopian Airlines em 2019, causado por uma falha de design no avião.

Os funcionários da Boeing "ouvem que a segurança é nossa prioridade número 1, mas o que veem é que isso só é verdade enquanto seus marcos de produção são atendidos", testemunhou De Luis em uma audiência separada realizada pelo Comitê de Comércio, Ciência e Transporte do Senado dos EUA. "Nesse ponto, é empurrar para fora o mais rápido possível."

A gestão da Boeing diz aos funcionários para se manifestarem, mas aqueles que o fazem "recebem muito pouco feedback", disse ele.

"Se insistirem, podem estar em desvantagem na próxima vez que aumentos, bônus ou transferências de emprego surgirem, ou até pior."

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