Fornecedor da Boeing diz que uso de detergente na fabricação é inovador

Regulador dos EUA descobriu que Spirit, que produz fuselagem do 737 Max, usava sabão e cartão de hotel na fábrica

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Mark Walker
Washington | The New York Times

Uma recente auditoria da FAA (agência reguladora da aviação dos Estados Unidos) na produção do Boeing 737 Max levantou uma questão peculiar. Seria apropriado um dos principais fornecedores da fabricante de aviões estar usando detergente e um cartão de hotel como parte de seu processo de fabricação?

A resposta, ao que parece, pode ser sim.

A FAA conduziu a auditoria após um plugue de porta se soltar de um 737 Max 9 durante um voo da Alaska Airlines em janeiro. O New York Times relatou no mês passado que a análise da agência identificou dezenas de problemas na Boeing e no fornecedor Spirit AeroSystems, que fabrica a fuselagem do 737 Max.

Fuselagem de Boeing 737 produzida pela Spirit Aerosystems - Eric Johnson/Reuters

Tanto a Boeing quanto a Spirit têm sido intensamente examinadas após o episódio envolvendo o avião da Alaska, que aparentemente saiu da fábrica da Boeing em Renton, Washington, sem quatro parafusos usados para fixar o plugue da porta no lugar.

A Spirit teve seus próprios problemas de qualidade nos últimos anos e foi prejudicada por perdas financeiras, e a Boeing disse no mês passado que estava em negociações para adquirir a empresa, que se separou em 2005.

Mas, após o episódio da Alaska, a Spirit diz que uma coisa foi mal compreendida —o uso de detergente e de cartão de hotel.

Na verdade, a empresa afirma que agora está devidamente autorizada a usar o detergente, bem como uma ferramenta recém-criada que se assemelha a um cartão de hotel.

Ambos foram aprovados pelas autoridades de engenharia apropriadas da Boeing e documentados para uso sob os padrões da FAA, de acordo com a Spirit.

"As pessoas olham para o cartão de hotel ou para o detergente Dawn e pensam que isso é desleixado", disse Joe Buccino, porta-voz da Spirit. "Na verdade, esta é uma abordagem inovadora para resolver um problema de eficiência."

Um porta-voz da Boeing confirmou que a empresa aprovou o uso do detergente e da ferramenta de cartão. A FAA disse que não pode comentar porque a auditoria faz parte de sua investigação em resposta ao episódio da Alaska.

Como parte da auditoria, funcionários da agência visitaram a fábrica da Spirit em Wichita, Kansas. Um aspecto do processo de fabricação que eles examinaram foi como a Spirit lidava com os plugues de porta, que substituem as saídas de emergência quando um avião é configurado com um arranjo de assentos mais denso.

Em um momento, a FAA observou mecânicos da Spirit usando um cartão-chave de hotel para verificar uma vedação de porta, o que "não foi identificado/documentado/mencionado na ordem de produção", de acordo com o documento que descreve algumas das conclusões da auditoria.

Os funcionários da Spirit disseram que o cartão-chave era usado para verificar a folga entre a vedação e o plugue da porta para garantir que não houvesse obstrução, laminação ou compressão. Os trabalhadores haviam tentado anteriormente outras ferramentas que eram ou muito frágeis ou não dobravam o suficiente.

Mas os engenheiros da Spirit descobriram que o cartão-chave, com cantos arredondados e a quantidade certa de flexibilidade, permitia verificar a folga sem danificar a vedação.

Após os trabalhadores da Spirit serem vistos usando o cartão-chave, os engenheiros da empresa desenvolveram uma ferramenta semelhante para que seus funcionários a utilizassem no futuro. O novo dispositivo, que é verde e quadrado, é destinado a ser uma ferramenta de raspagem, mas a Spirit suavizou suas bordas serrilhadas e arredondou seus cantos.

Sean Black, diretor de tecnologia da Spirit, liderou o esforço para obter a aprovação da nova ferramenta para uso, agora devidamente documentada, pela Boeing.

"Nossos funcionários rotineiramente encontram maneiras criativas de tornar o processo de construção de fuselagens mais eficiente", disse Black. "Neste caso, os trabalhadores criaram a ferramenta de vedação do regulador de porta, que permite que nossas equipes testem a vedação das portas sem qualquer risco de degradação ao longo do tempo."

E então havia a questão do detergente.

Em outro ponto durante a auditoria, a FAA viu mecânicos da Spirit aplicando detergente líquido Dawn em uma vedação de porta "como lubrificante no processo de montagem", disse o documento descrevendo algumas das descobertas da auditoria.

A agência também viu a vedação da porta ser limpa com um paninho úmido para remover o sabão e detritos, de acordo com o documento, que disse que as instruções eram "vagas e não claras sobre quais especificações/ações devem ser seguidas ou registradas pelo mecânico."

Essas observações trataram do processo em que os trabalhadores garantem que a vedação seja instalada corretamente contra a moldura da porta. Buccino, porta-voz da Spirit, disse que o detergente era usado para garantir que não houvesse rasgos ou saliências ao instalar a vedação.

Ele disse que as propriedades químicas do detergentes não degradam a resiliência da vedação ao longo do tempo. A Spirit novamente trabalhou para obter a aprovação da Boeing para usar o sabão e para documentá-lo corretamente.

Os funcionários do Spirit não adotaram o detergente logo de cara. Buccino disse que outros produtos comuns foram usados no passado —como vaselina, amido de milho e talco—, mas que corriam o risco de degradar a vedação ao longo do tempo.

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