Lemann cita fraude na Americanas pela 1ª vez e diz que últimos anos não foram de muito sucesso

Empresário afirma em evento nos EUA que problemas devem servir de lição; companhia está em recuperação judicial

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Victor Sena Stéfanie Rigamonti
São Paulo

O empresário e investidor Jorge Paulo Lemann, 84, um dos homens mais ricos do Brasil, comentou neste sábado (6), pela primeira vez, a crise da Americanas. Segundo ele, os dois últimos anos não foram de muito sucesso.

De acordo com Lemann, que é um dos acionistas de referência da companhia, o objetivo agora é salvá-la.

"No geral tive sucesso nos negócios, mas os últimos dois anos não foram de muito. Tivemos uma crise em uma das nossas empresas [Americanas], a primeira que compramos, com uma fraude contábil. Estamos lidando com isso. São 30 mil funcionários e temos de tentar salvar a companhia", disse Lemann.

Jorge Paulo Lemann
Jorge Paulo Lemann no evento Brazil Conference, em Boston (EUA) neste sábado (6): "No geral tive sucesso nos negócios, mas os últimos dois anos não foram de muito" - Divulgação / Volponi Mídia

O empresário participou da Brazil Conference 2024, em Boston, Estados Unidos. O evento é organizado pela comunidade brasileira estudante das universidades Harvard e do instituto MIT, ambos localizados na região.

A Americanas SA, dona de marcas como Lojas Americanas, a fintech Ame e a Imaginarium, revelou uma fraude contábil que mascarava os resultados financeiros da companhia no início de 2023.

Na época, o então CEO Sergio Rial pediu demissão ao encontrar as inconsistências.

Desde o início da crise, a companhia entrou em recuperação judicial, demitiu ao menos 10 mil funcionários e fechou ao menos 130 lojas.

Fachada da unidade das Lojas Americanas fechada em São Paulo (SP)
Unidade das Lojas Americanas fechada em São Paulo (SP) - Ato Press

Os acionistas de referência da Americanas são o trio de bilionários brasileiros Jorge Paulo Lemann, Marcel Herrmann Telles e Carlos Alberto Sicupira, que até o final de 2021 eram os controladores da varejista.

Com a crise na empresa, Lemann e os sócios Carlos Alberto Sicupira e Marcel Telles se comprometeram com um aporte de R$ 12 bilhões na companhia, elevando sua participação conjunta de 30% para até 49,3%. Sicupira era considerado o sócio mais próximo da operação da companhia.

Lemann é o terceiro homem mais rico do Brasil, de acordo com o último ranking produzido pela revista Forbes, com um patrimônio de US$ 16,4 bilhões.

No evento deste sábado, o empresário defendeu que "não se olhe para um problema como um problema". Segundo ele, um problema é algo para ser resolvido. "Você tem que entender por que perdeu e como melhorar", disse.

Sem citar a diretoria antiga da Americanas, Lemann afirmou ser fundamental ter confiança em seus liderados: "Se a pessoa não se encaixa eticamente, você tem que se livrar dela. As pessoas têm que ter personalidade e visões diferentes, mas eticamente não pode ter diferenças em uma companhia".

Um inquérito produzido por um comitê independente contratado pela Americanas aponta diretamente para o ex-CEO Miguel Gutierrez como mentor do esquema de fraude. Gutierrez é investigado pelo Ministério Público e pela CVM (Comissão de Valores Mobiliários).

Em entrevista à Folha em fevereiro deste ano, o atual CEO da companhia, Leonardo Coelho, revelou que cerca de 80 lojas devem ser fechadas neste ano. Além disso, a fintech Ame também pode ser vendida para honrar as dívidas com os credores. Assim, a empresa ficaria menor e focaria em atividades mais lucrativas.

O balanço patrimonial divulgado neste ano, referente aos nove primeiros meses de 2023, apontou que a companhia tinha um passivo de R$ 31,2 bilhões e registrou prejuízo líquido de R$ 4,6 bilhões no período.

A soma de dívidas apontada na recuperação judicial aprovada no fim de 2023, no entanto, é de R$ 50,1 bilhões.

Crítica aos governos brasileiros

Ao comentar sobre seu estilo de gestão no evento, Lemann criticou os governos brasileiros, que segundo ele não definem claramente seus objetivos.

"Sempre me surpreendo com os presidentes do nosso país porque não sabemos quais são os cinco objetivos mais importantes para o Brasil. E eu sempre me pergunto: 'por que nossos líderes não pensam nisso e não agregam toda a população para definir prioridades?'. Em Singapura fizeram isso. Olha o que aconteceu com o país nos últimos 50 anos…", disse.

Para Lemann, a estratégia de definição de cinco objetivos está por trás do sucesso de suas empresas. Além disso, ele afirma ser necessário medir o avanço e o cumprimento dessas metas.

"Descobri que as pessoas que sempre admirei foram as pessoas que tinham uma ideia bem esclarecida do ponto essencial de uma questão, do problema", disse. "Com esse método, podemos alcançar qualquer coisa".

Erramos: o texto foi alterado

Jorge Paulo Lemann é um dos acionistas de referência da Americanas, não um dos acionistas da 3G Capital, que, por sua vez, não controla a rede varejista, conforme afirmava versão anterior desta reportagem.
 

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