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Por que as políticas para aumentar número de filhos não deram resultado

Países ricos gastam mais com políticas para incentivar natalidade, mas a taxa só vem caindo

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John Burn-Murdoch

Repórter de dados do Financial Times

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Entre 1980 e 2019, os países mais desenvolvidos aproximadamente triplicaram seus gastos por pessoa em termos reais com benefícios infantis, creches subsidiadas, licença parental e outras políticas amigáveis à família. Eles também viram suas taxas de natalidade caírem de 1,85 para 1,53 por mulher.

Na Finlândia igualitária, lar de algumas das políticas mais amigáveis de incentivo ao aumento da família do mundo, a taxa de fertilidade caiu um terço desde 2010. Na Hungria, famosa por seus pagamentos extravagantes destinados a aumentar o número de bebês, menos crianças nasceram no ano passado do que em qualquer outro momento desde que os registros começaram.

Foto colorida de perfil de uma menina em pé. Ela tem aproximadamente três anos, pele clara, cabelos lisos presos por um elástico. Ela abraça um ursinho em frente a uma mulher sentada no chão. A mulher, que também tem pele clara e cabelo longo e liso preso por um rabo, sorri olhando fixamente para os olhos da menina.
Taxa de natalidade despenca em países ricos, mesmo com aumento de políticas para aumentar número de filhos - Adobe Stock

Enquanto isso, na Coreia do Sul, o exemplo de queda acentuada da fertilidade, o programa de "bônus bebê" do governo teve pouco efeito principalmente ter sido pago a mulheres que já estavam planejando ter filhos.

Analisando todos os países ricos, as taxas de fertilidade não são mais altas entre aqueles onde a creche é totalmente subsidiada do que entre aqueles onde os pais pagam taxas exorbitantes —a ligação entre nascimentos e gastos totais em políticas amigáveis à família é negligenciável. Isso muitas vezes provoca dúvidas, mas não deveria. A decisão sobre ter filhos, e quantos, acaba sendo muito mais do que uma questão de dinheiro.

Para ser claro, políticas amigáveis à família podem ter outros impactos positivos sobre os indivíduos e a sociedade. Elas facilitam para aqueles que já escolheram ter filhos conciliar família e trabalho. Elas aliviam a pobreza infantil.

Mas quando se trata de analisar as taxas de natalidade, a cultura é muito mais poderosa do que a política, muitas vezes exercendo sua influência vários passos antes do ponto em que os custos com creche poderiam se tornar algo sério a ser considerado.

Há uma série de fatores distintos, mas relacionados, em jogo. O primeiro é o rápido aumento do chamado "helicopter parenting". Em seu livro "Love, Money, and Parenting: How Economics Explains the Way We Raise Our Kids", Matthias Doepke e Fabrizio Zilibotti argumentam que a percepção de que uma vida confortável ficou impossível de se alcançar sem uma educação de alta qualidade desencadeou uma intensa competição de status entre os pais. Eles se sentem compelidos a investir grandes quantidades de tempo e esforço na otimização da criação de seus filhos. Isso pode ter se tornado um impedimento.

Em 1965, mães de crianças pequenas em países desenvolvidos passavam em média um pouco mais de uma hora por dia fazendo atividades com seus filhos. Em 2018, isso havia subido para três horas, e na Coreia do Sul se aproximava de quatro. A taxa de fertilidade da Coreia do Sul despencou para 0,72, enquanto na França, onde a parentalidade é muito menos intensiva, as taxas de natalidade se mantiveram bem e agora estão em 1,8.

O segundo grande fator são as mudanças de prioridades para os jovens adultos. Em 1993, 61% dos americanos diziam que ter filhos era importante para uma vida plena, mas a pesquisa do Pew Research agora coloca o número em 26%.

Um estudo do ano passado de Lyman Stone, um economista demográfico e pesquisador sênior do think-tank canadense Cardus, mostra que as prioridades concorrentes que mais impactam as taxas de natalidade entre as jovens mulheres são o desejo de crescer como pessoa e focar em suas carreiras. Preocupações com as demandas do "helicopter parenting" também ocupam um lugar alto —os custos com creche ficam em 14º lugar.

Mas tão significativo quanto qualquer preocupação individual é a ansiedade vista entre os jovens adultos de hoje. Dois estudos adicionais de Stone mostram que quanto mais preocupada uma futura jovem mãe está, menos filhos ela pretende ter. Combinado com o fato de que os menores de 30 anos na Europa Ocidental, leste asiático e na esfera anglo-saxônica estão mais ansiosos e estressados do que os mais velhos, isso pode empurrar ainda mais as taxas de natalidade para baixo.

Por fim, e talvez o mais importante, a parcela de jovens adultos no Ocidente vivendo como casal está em declínio. Como a cientista social Alice Evans escreve, com as mulheres cada vez mais capazes de se sustentar financeiramente, uma razão tradicional para se unir a alguém deixou de existir. Isso ajuda a explicar por que a parte mais recente da tendência de queda nos nascimentos tem sido impulsionada não por pessoas decidindo ter dois filhos em vez de três, mas por um aumento na parcela que decide não ter nenhum.

As taxas de natalidade em países liberais e desenvolvidos parecem extremamente improváveis de retornar ao nível de reposição em um futuro próximo. Se milagrosamente o fizerem, provavelmente será devido a amplas mudanças sociais e culturais, e não às políticas estabelecidas. Não há nada de errado com os governos buscando pacotes amigáveis à família por outros motivos, mas se estão preocupados com o envelhecimento e a diminuição da população, então precisam encontrar outras soluções.

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