Visitantes usavam até paus de selfie para filmar e fotografar drones e eVtols (também conhecidos como carros voadores) expostos nos corredores do Expo Center Norte, em São Paulo, nesta quarta-feira (22). O local reúne nesta semana quatro feiras do setor aeroespacial, entre elas a Expo eVTOL, que está em sua primeira edição.
Segundo a MundoGEO, plataforma de negócios organizadora do evento, os três dias de feira, que terminam nesta quinta (23), devem receber cerca de 7.000 pessoas. Ali estão reunidos modelos de aeronaves nacionais e internacionais.
Em um estande logo na entrada do pavilhão, a Gohobby expôs um carro voador do qual é revendedora no Brasil —o modelo 216-S, da chinesa EHang. No Brasil, o eVtol é avaliado em cerca de US$ 600 mil (pouco mais de R$ 3 milhões).
O carro voador da EHang tem 1,93 metros de altura e 5,73 metros de largura e possui até um compartimento que funciona como porta-malas. A velocidade máxima chega a 130 km/h, e a distância máxima a ser percorrida pelo eVtol é de 30 quilômetros.
A Gohobby afirma que já recebeu 15 pedidos de compradores brasileiros interessados no modelo. Para que possa fazer voos comerciais, no entanto, a fabricante EHang terá de conseguir a certificação com a Anac.
Em um fórum sobre o setor de eVtols realizado durante o evento, Jose Ignacio Rexach, CCO da EHang para Europa e América Latina, disse que o tema já está sendo tratado pela Anac. Modelos da fabricante chinesa já fizeram voos testes em 15 países, segundo ele.
"Estamos em contato com a Anac para introduzir da maneira correta nossa tecnologia no Brasil. A EHang pensa que o eVtol é uma oportunidade de democratizar essa tecnologia. A ideia é que seja acessível a todos", afirmou Rexach durante o evento.
Ele diz que uma dificuldade será importar o modelo regulatório desenvolvido pela CAAC (autoridade regulatória do setor aéreo na China), que é voltado para eVtols do tipo multicóptero, que não tem asas, como é o caso do eVtol da EHang. Segundo Rexach, a Anac está liderando a regulamentação dos carros voadores, mas do tipo lift & cruise (nesse modelo, as hélices de propulsão vertical são desativadas após o veículo alcançar velocidade horizontal suficiente para sustentação pelas asas) –utilizado pela Eve, da Embraer.
No maior estande da feira, a cearense Vertical Connect está apresentando pela primeira vez seu modelo Gênesis-GX-1, desenvolvido para transportar, de forma autônoma, quatro passageiros. O carro voador é totalmente elétrico, assim como o da EHang, tem velocidade máxima de 130 km/h e pode voar por até 120 minutos.
A companhia está prevendo um valor a partir de R$ 2,1 milhões para o modelo neste primeiro momento.
Segundo Marco Berzaghi, COO da Vertical Connect, os vertiportos (locais para pouso e decolagem dos carros voadores) é uma das preocupações da empresa.
"Eu tenho visto poucas prefeituras se preocuparem com a logística de vertiportos. Eu não consegui identificar uma cidade sequer, exceto São José dos Campos (SP), que se preocupe com a logística. Eu estou achando que isso está um pouco lento", disse no fórum sobre o setor.
O segundo eVtol exposto pela companhia é o Gênesis-GX-AB, projetado para ser utilizado por agricultores e pecuaristas em atividades como irrigação de plantações. A aeronave consegue carregar até 420 litros de insumo.
A Vertical Connect também tem outros projetos que não foram expostos na feira, como uma aeronave autônoma para ser usada pelo poder público no policiamento de grandes áreas urbanas e outros modelos que funcionarão como ambulância e caminhão de bombeiro voadores. Há ainda um eVtol planejado para o setor de logística, que fará serviços de entrega e transporte de produtos e alimentos.
A expectativa da Vertical Connect é que todos os modelos estejam no mercado e disponíveis para voo até 2030.
A fabricante paulista Moya também levou o Moya eVTOL, voltado para o transporte logístico entre armazéns. A companhia já concluiu mais de 80 voos de teste do protótipo.
O modelo, que custa US$ 1,4 milhão (mais de R$ 7,2 milhões), terá duas versões, uma híbrida e outra elétrica. Com capacidade de até 200 quilos de carga útil, a aeronave chega a 150 km/h durante o voo de cruzeiro (quando já está em alta velocidade e altitude).
As vendas e operações estão previstas até 2027, segundo o CEO da Moya, Alexandre Zaramela.
"A maturação dessa tecnologia tem que ser feita com carga. Num segundo momento, iremos conseguir fabricar eVtols de passageiros. A carga, no pior dos casos, você perde. É mais simples do que levar passageiros. Acho que o mercado deveria evoluir dessa forma", diz.
Sem levar nenhum modelo para ser exposto, a Eve, da Embraer, participou do fórum sobre o segmento. De acordo com Tiago Costa, líder de aeronáutica da companhia, o eVtol da marca está passando por testes como ensaios em túnel de vento e teste de hélice.
"Estamos conseguindo simular diversos cenários e entender cada parte do veículo", afirma Costa.
A empresa divulgou neste mês um vídeo de seu protótipo em escala real. Há testes previstos para este ano, e a Eve planeja selecionar 90% de seus fornecedores primários ainda em 2024.
Borna Vrdojak, chefe de produto e marketing de clientes da britânica Vertical Aerospace, afirma que tornar os eVtols mais acessíveis é um objetivo da empresa. Ele mostrou, durante o fórum, o modelo VX4, carro voador fabricado pela marca.
"Em São Paulo, temos centenas de helicópteros. O problema é que é muito caro, é restrito a uma parte da cidade", diz Vrdojak, acrescentando que os custos de operação do VX4 são mais baratos do que os de um helicóptero. A Vertical Aerospace afirma ter no Brasil 250 pedidos da Gol.
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