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Problemas da Boeing respingam na agência reguladora de aviação dos EUA

Aeronaves 737 MAX e 787 Dreamliner sofreram falhas graves em voos com passageiros nos últimos meses

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Elodie Mazein
Nova York | AFP

A agência reguladora de aviação civil dos Estados Unidos (FAA), alvo de críticas contundentes após os acidentes de dois aviões da Boeing em 2019 e 2018, parece estar envolvida de novo nos problemas de qualidade da fabricante de aeronaves.

Alvo de numerosas investigações e auditorias em nível nacional e internacional, a Boeing insiste repetidamente que trabalha "com total transparência e sob a supervisão da FAA".

Trabalhadores da Boeing trabalham na montagem de aeronaves do modelo 787, na planta da empresa em North Charleston, na Carolina do Sul
Trabalhadores da Boeing trabalham na montagem de aeronaves do modelo 787, na planta da empresa em North Charleston, na Carolina do Sul - Gavin McIntyre/Reuters

Desde o início de 2023, o fabricante de aviões tem enfrentado problemas de produção relacionados a um controle de qualidade deficiente que afetam suas aeronaves principais, o 737 MAX e o 787 Dreamliner.

Em janeiro, um novo incidente em um avião da Alaska Airlines resultou na queda de vários executivos da empresa —incluindo seu CEO Dave Calhoun, cuja saída está prevista para o final de 2024— e na limitação da produção do 737 MAX.

A FAA, que mudou quatro vezes de diretor executivo desde agosto de 2019, tem sido arrastada por esses problemas.

O democrata Richard Blumenthal, presidente de uma comissão do Senado que investiga a segurança da Boeing, acredita que a agência reguladora "também deve prestar contas".

Após o incidente de janeiro, a FAA deu à fabricante 90 dias para desenvolver um "plano de ação abrangente" para corrigir as numerosas deficiências identificadas.

MELHORIA

"Acredito que a FAA está fazendo o máximo que pode, que melhorou muito seu monitoramento da Boeing desde os dois acidentes" do 737 MAX 8, que resultaram em 346 mortes, disse à AFP Jeff Guzzetti, consultor em segurança aérea que trabalhou para a FAA e a agência de investigação NTSB.

"Também é verdade que não detectou os problemas de produção da Boeing", afirmou, destacando que há várias décadas o sistema de vigilância se baseia no "autocontrole" por parte dos fabricantes.

A falta de recursos econômicos e humanos suficientes levou a FAA a delegar aos funcionários das indústrias a tarefa de controlar a conformidade e a qualidade das aeronaves.

"Há um conflito de interesses", afirmou Hassan Shahidi, presidente da entidade não-governamental Fundação para a Segurança do Transporte Aéreo. O sistema "deve evoluir para que a FAA tenha uma responsabilidade de supervisão mais direta".

Assim como Guzzetti, Shahidi observa um aumento na supervisão, mas acredita que o regulador deve ter "mais" inspetores próprios, mesmo que isso "leve tempo".

A organização está "no caminho certo", considerou Richard Aboulafia, diretor da consultoria AeroDynamic Advisory. "Não há nada que não possa ser corrigido com supervisão e recursos adicionais".

FINANCIAMENTO RECORDE

Os fundos da FAA dependem diretamente do Congresso.

Na quinta-feira, o Senado aprovou uma lei de financiamento de cinco anos que concede à agência um dinheiro "recorde" e "fornece a estabilidade de que precisa para cumprir sua missão principal: promover a segurança da aviação", disse a senadora democrata Maria Cantwell, presidente do Comitê de Comércio e Transporte.

O texto ainda precisa ser examinado pela Câmara dos Deputados.

A escassez de pessoal qualificado, desde mecânicos até engenheiros, agravada pela pandemia, afeta toda a indústria da aviação, e a FAA dificilmente pode competir, em termos salariais e de condições de trabalho, com as indústrias.

"Contratar e reter técnicos talentosos é um grande problema, até mesmo para a Boeing", destacou Guzzetti.

A investigação dos dois acidentes demonstrou que a Boeing havia conscientemente ocultado da FAA erros de projeto de um software que causou os desastres, lembrou Joe Jacobsen, um denunciante, perante a Comissão em meados de abril.

Jacobsen, que trabalhou 25 anos na FAA e outros onze na Boeing, considerou que o regulador está "muito cativo" do fabricante.

A FAA depende do Departamento de Transportes, cuja Inspeção Geral (OIG) conduz desde junho de 2022 uma auditoria sobre a supervisão da produção dos 737 e 787 pela agência. Seu relatório final está previsto para o próximo verão boreal.

Em 2021, a OIG concluiu que as "fraquezas" na certificação e na delegação de autoridade prejudicaram a supervisão do 737 MAX 8.

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