Dólar sobe e fecha em R$ 5,42 com Selic e risco fiscal no radar; Bolsa cai

Cotação da moeda norte-americana é a maior desde 4 de janeiro de 2023, início do governo Lula

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São Paulo

A Bolsa brasileira fechou em queda de 0,44% nesta segunda-feira (16), aos 119.137 pontos, com investidores de olho na nova decisão sobre a taxa de juros do país e no cenário fiscal, que ainda gera cautela no mercado.

Já o dólar encerrou em alta de 0,73%, cotado a R$ 5,421 —seu maior valor desde 4 de janeiro de 2023, início do governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT), quando fechou a R$ 5,451.

Com incertezas domésticas persistentes no radar, o mercado engatou a semana de olho na quarta-feira (19), quando será divulgada a decisão do Copom (Comitê de Política Monetária) do BC (Banco Central) sobre o patamar da taxa básica de juros do Brasil, a Selic.

REUTERS/Amanda Perobelli
AMANDA PEROBELLI/REUTERS

A expectativa é que o colegiado decida, por unanimidade, manter a taxa no atual nível de 10,50% ao ano.

Na visão de analistas ouvidos pela Folha, um novo racha entre os membros do colegiado, como ocorreu em maio, provocaria mais ruído no mercado e colocaria a credibilidade do BC na mira. Por isso, a previsão é de uma votação sem divergências e um comunicado mais coeso.

A manutenção da taxa Selic em 10,50% foi também prevista pelo boletim Focus: agora, economistas consultados pelo BC esperam que não haja mais nenhum corte nos juros até o final do ano. A projeção é 0,25 ponto percentual maior do que projetada no último ajuste de expectativas, após duas semanas sem alterações.

As análises levam em conta a deterioração das expectativas de inflação, a depreciação do real frente ao dólar, a percepção de maior risco fiscal e a incerteza externa, além da atividade econômica resiliente.

Nas últimas semanas, a pressão para o governo cortar gastos cresceu, conforme investidores perdiam confiança no compromisso do governo com o equilíbrio nas contas públicas.

O risco de mudança das regras do arcabouço fiscal para acomodar o crescimento das despesas obrigatórias entrou no radar após encontro do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, no dia 7 de junho, com representantes de instituições financeiras.

Após a reunião, rumores sobre uma possível mudança no arcabouço fiscal passaram a circular, o que levou à disparada do dólar diante de temores sobre a situação fiscal do Brasil.

A rejeição pelo Congresso da MP (medida provisória) restringindo o uso de créditos do PIS/Cofins para financiar a desoneração da folha de pagamento das empresas de 17 setores e municípios elevou o pessimismo. A derrota gerou preocupação no mercado sobre um possível enfraquecimento de Haddad no governo.

À luz da necessidade de cortar gastos, o presidente Lula participou, nesta segunda, da reunião da JEO (Junta de Execução Orçamentária), colegiado de ministros responsável pelas decisões de política fiscal e orçamentárias do governo. Esta não foi a primeira vez que ele participa desse tipo de reunião, mas sua presença é rara.

"A Bolsa segue influenciada por questões fiscais no Brasil que não se resolvendo. O governo tendo um posicionamento desarticulado e embates com o Congresso também fazem com que os investidores fiquem um pouco mais receosos e tendo um menor apetite ao risco", avalia Hemelin Mendonça, especialista em mercado de capitais e sócia da AVG Capital.

Ela ainda pondera que o ambiente de aversão a riscos tem afastado estrangeiros da Bolsa, "o que traz mais volatilidade aos papéis". Do início de junho até o último dia 12, os investidores de fora do país retiraram R$ 7,2 bilhões do mercado acionário.

Nesta segunda, ainda houve pressão vinda de dados mais fracos da economia chinesa. A produção industrial de maio do país asiático ficou aquém das expectativas e a crise no setor imobiliário não mostrou sinais de abrandamento, pressionando o minério de ferro.

Por aqui, isso se refletiu nas ações da Vale, uma das empresas de maior peso no Ibovespa, que teve perdas de 0,40%. Ainda foi reportado um incêndio em uma das correias transportadoras na planta de Salobo 3, no Pará. Segundo a Vale, o fogo, ainda sem origem definida, foi contido sem vítimas ou perdas materiais.

Ainda na cena corporativa, Petrobras subiu 0,37%, em linha com a alta do barril de petróleo no exterior.

Itaú liderou os ganhos do pregão, a 2,44%, após o Morgan Stanley elevar a recomendação do banco brasileiro de neutra para compra. A justificativa é que, diante da expectativa de uma Selic mais alta por mais tempo, o Itaú tem um valor de mercado atrativo e uma gestão de "alto nível", o que confere solidez aos papéis.

Na última sexta (14), o dólar registrou leve alta de 0,27% e terminou o dia cotado a R$ 5,381. Já a Bolsa brasileira teve variação positiva de 0,07%, fechando praticamente estável aos 119.662 pontos.

Na semana passada, a moeda americana acumulou alta de 1,07%, e o Ibovespa, recuo de 0,91%.

Com Reuters

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