Entenda as oportunidades do Tesouro Direto em meio à desconfiança com o equilíbrio fiscal do Brasil

Incerteza sobre política econômica e manutenção da Selic afetam os rendimentos dos títulos públicos

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Matheus Oliveira
São Paulo

A inflação próxima ao teto da meta para este ano e a incerteza sobre o cumprimento do novo arcabouço fiscal levaram o Tesouro Direto a oferecer taxas inéditas desde o impeachment da presidente Dilma Rousseff, em 2016.

São taxas próximas de 12% ao ano para o Tesouro Prefixado e de inflação mais 6% ao ano para o Tesouro IPCA.

Mesmo nos pós-fixados, como o Tesouro Selic, mais indicados para períodos de alta de juros, as oportunidades são boas caso a insegurança se confirme nos próximos meses, dizem analistas.

Mulher com bengala faz conta em cima de uma calculadora gigante
Catarina Pignato

Para os investidores que enxergam uma melhora da situação fiscal do país, a compra do prefixado pode gerar um bom retorno por causa das taxas ofertadas. Aqueles que vislumbram um agravamento da crise fiscal, que levaria a um aumento da taxa de juros pelo Copom, tem melhor opção no Tesouro Selic.

A analista de renda fixa da Nord Research, Maria Luisa Nepomuceno, explica que, com a taxa básica de juros em 10,5% ao ano, o título Tesouro Selic é interessante para investimentos de curto prazo —até quatro anos—, com a segurança do Tesouro Nacional.

De acordo com ela, são taxas ainda elevadas em um título de renda fixa com liquidez diária, se o investidor quiser vender e aproveitar novas oportunidades no futuro próximo.

Nepomuceno diz também ser um bom momento para o papel IPCA+ (que garante a correção pelo índice de inflação mais uma taxa de juros prefixada), que no momento está com rendimento superior a 6%, por um período longo de investimento.

"Rentabilidade acima de 6% é uma janela que se abre poucas vezes", observa ela, que considera o título uma opção boa para quem tem como alvo o longo prazo.

Por exemplo, um investimento de R$ 1.000,00 nesta sexta-feira (21) no Tesouro IPCA+ com vencimento em 15/05/2029, apresenta uma rentabilidade bruta de 10,20% ao ano. Com isso o valor bruto de resgate será de R$ 1.604,85. Com os descontos da taxa de corretagem da B3, de R$ 12,43, e o valor do Imposto de Renda, de R$ 90,72, o título apresenta uma rentabilidade líquida de 8,66% ao ano, o que equivale a um valor líquido de resgate de R$ 1.498,90.

Para além do cenário colocado, o estrategista de investimento e sócio fundador da Dauer Capital, Mauro Halfeld, traça estratégias de acordo com o perfil do investidor.

Para os otimistas, a recomendação é papéis de longo prazo e perseverança na decisão. Para os pessimistas ou conservadores, aconselha o Tesouro Selic. Para os moderados, considera uma boa estratégia partir do Tesouro Selic, mas ficar atento às mudanças de cenário, com a possibilidade de trocar por IPCA ou Prefixado de prazos mais longos.

"Há oportunidades para quem acredita que o governo vai conseguir inverter a mão e começar a conter o déficit fiscal. Nesse caso, as NTN-B com prazos longos chegam a pagar 6,30% ao ano mais IPCA. O Tesouro Prefixado 2035 também seria interessante, porque chega a pagar 11,80% ao ano fixos. Isso realmente é muito bom se o cenário otimista voltar", afirma.

Para quem não gosta de incertezas, ele recomenda alternativas mais conservadoras, como o Tesouro Selic, que quase não sofre alterações do dia-a-dia e que deve gerar rendimentos brutos acima de 10% ao ano nos próximos meses.

A crise de desconfiança em relação à capacidade do governo de equilibrar as contas e conter a dívida pública se dá por declarações recentes do presidente Lula de que o governo federal precisa gastar para gerar crescimento.

Além disso, há ceticismo sobre a capacidade de o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, cumprir o novo arcabouço fiscal implementado pela gestão atual. A regra prevê uma meta central de déficit zero em 2024 com um intervalo de tolerância de 0,25 percentual para mais ou para menos.

ENTENDA OS TÍTULOS DO TESOURO DIRETO

Doutora em economia pela UFCG (Universidade Federal de Campina Grande), Juliana Pereira descreve a relação entre as contas públicas e a taxa de juros. Em cenário de déficit público, quando o governo gasta mais do que arrecada, é necessário tomar dinheiro emprestado para saldar as contas.

A gestão federal emite títulos públicos, que os investidores compram com a promessa de que receberão o valor com juros no vencimento do papel.

"O cenário de desconfiança nas contas públicas força o Tesouro Nacional a oferecer prêmios (remunerações) cada vez maiores a fim de motivar os investidores a canalizarem seus recursos financeiros no país, sobretudo em títulos públicos. Dessa forma, o Tesouro Direto é um dos títulos com maior rentabilidade, de forma a motivar os investidores a aplicarem seus recursos financeiros na compra de títulos públicos, possibilitando ao governo o pagamento das dívidas", diz Pereira.

Desde 2002 o Tesouro Nacional oferta os títulos públicos por meio do programa Tesouro Direto. Existem três categorias de papéis disponíveis às pessoas e empresas interessadas: prefixados, pós-fixados e híbridos.

A doutora em economia detalha os principais títulos de renda fixa oferecidos:

Tesouro Selic é um título pós-fixado que acompanha a variação da taxa básica de juros da economia, e sua aplicação tem liquidez diária.

Tesouro Prefixado tem seu retorno informado na data da aplicação, quando o investidor saberá exatamente quanto receberá caso mantenha seu papel até a data do vencimento. A rentabilidade desse tipo de título depende do momento do resgate.

Título híbrido é o caso, por exemplo, do Tesouro IPCA+, com uma parte do retorno definido no momento da compra do título, e outra parte indexada à inflação (IPCA).

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.