Descrição de chapéu inflação

Trancado em supermercados, azeite não deve baixar nos próximos 2 anos

Produto acumula 4ª maior inflação em 12 meses; Brasil produz apenas 0,6% do que consome

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Felipe Bramucci Arthur Guimarães
São Paulo

A alta no preço do azeite, que acumula quase 50% de inflação no último ano, fez com que comerciantes passassem a trancar os produtos a chave e a colocar lacres antifurto nos recipientes. O cenário não deve mudar no curto prazo, afirmam especialistas do setor, que estimam que os preços permanecerão altos pelos próximos dois anos.

Quarta maior inflação acumulada nos últimos 12 meses, a alta do preço do azeite de oliva no último ano bateu 49,42%, segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) para maio.

A variação só está atrás da registrada pela cebola (86,13%), tangerina (58,02%) e batata-inglesa (57,94%). Para se ter uma ideia, o índice geral da inflação acumulou alta de 3,93% no mesmo período.

As garrafas de azeite estão dispostas com lacre antifurto nas prateleiras há cinco meses em uma rede de mercado em São Paulo
As garrafas de azeite estão dispostas com lacre antifurto nas prateleiras há cinco meses em uma rede de mercado em São Paulo - Felipe Bramucci/Folha Press

Em dezembro de 2022, o preço dos azeites girava em torno de R$ 27, segundo pesquisa de Ceia de Natal conduzida pelo Procon-SP. No ano seguinte, o valor já estava na faixa de R$ 42. Em três mercados visitados pela Folha nesta semana, as etiquetas indicavam R$ 49 na média.

O Brasil consome cerca de 100 milhões de litros de azeite por ano. A produção nacional corresponde a 0,6% dessa demanda, em torno de 600 mil litros, segundo o Ibraoliva (Instituto Brasileiro de Olivicultura). Devido à baixa produção, o mercado doméstico é dependente de importações e suscetível a instabilidades externas.

A variação de preços do azeite está se deve à terceira estiagem consecutiva na Espanha, maior produtor mundial de óleo de oliva. Supermercados do país europeu também estão trancando, com correia, chave e cadeado, os vidros do produto.

Para Renato Fernandes, presidente do Ibraoliva, o cenário externo deve se manter no curto prazo. "Não acredito em redução do preço do azeite nos próximos dois anos. Os estoques estão baixíssimos".

Em meio a esse cenário, mercados das redes Extra e Pão de Açúcar passaram a usar lacres antifurto nos recipientes de azeite na capital paulista para evitar prejuízos. A orientação veio da direção da franquia há cinco meses, segundo funcionários. No começo, apenas os produtos mais caros eram lacrados. Hoje, todas as garrafas de vidro recebem o artigo de prevenção.

A gerência de uma unidade da rede Mambo na cidade de São Paulo relatou que só não adotou o lacre porque a loja aumentou o número de seguranças.

Em um mercado em Ipanema, na zona sul do Rio de Janeiro, por sua vez, garrafas de azeite passaram a ser trancadas a chave. Para comprá-las, é preciso chamar um funcionário.

Vidros de azeite trancados em prateleira de supermercado em Ipanema, na zona sul do Rio
Vidros de azeite trancados em prateleira de supermercado em Ipanema, na zona sul do Rio - Cleo Guimarães/Folhapress

De acordo com Fernandes, a região sul do Brasil tem um clima favorável para a produção de azeite, mas há uma "questão cultural" por trás da dependência estrangeira. "Temos a tradição de importar azeite europeu desde o Brasil colônia". A tendência, no entanto, mudou nas últimas duas ultimas décadas. A expectativa é que a produção nacional ocupe cada vez mais esse protagonismo no Brasil, afirma.

Do outro lado, bares e restaurantes têm amargado prejuízos. Joaquim Saraiva, diretor da AbraselSP (Associação Brasileira de Bares e Restaurantes de São Paulo), afirma que os negócios não estão repassando a variação para o cardápio para os clientes.

"Existem pratos nos quais o azeite não pode ser substituído. O restaurante não vai mudar a receita. Há, contudo, uma criatividade para substituir o azeite", diz ele. Apesar disso, há quem consiga improvisar. Saraiva dá o exemplo de restaurantes que em vez de temperar a salada com azeite utilizam uma composição com limão e outros ingredientes.

Mikaela Paim, sommelière de azeites, alerta para a falsificação dos produtos. "Empresas clandestinas, em busca de lucro fácil, frequentemente utilizam óleos não comestíveis, como o lampante (usado como combustível para lamparinas), para adulterar o azeite de oliva, colocando em risco a saúde da população".

Paim diz que para saber se o produto é falsificado o consumidor pode sentir o cheiro e prová-lo. O azeite é produzido a partir de azeitonas frescas, logo tem cheiro semelhante ao fruto. O lampante, por outro lado, é caracterizado por alta acidez, sabores estranhos e impurezas.

A especialista também alerta para os produtos que são vendidos como alternativa de preço mais acessível. "O mais indicado é o consumo de azeite extra virgem. É importante olhar a composição no rótulo, óleos mistos ou compostos de soja certamente serão de baixa qualidade e não trarão benefícios à saúde", afirma Mikaela.

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