Suzano reforça aposta no mercado têxtil em investimento bilionário

Companhia compra participação minoritária de fabricante de fibras têxteis produzidas a partir de madeira Lenzing

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Alberto Alerigi Jr.
São Paulo | Reuters

A Suzano deu nesta quarta-feira (12) um primeiro passo importante para a internacionalização com a compra de uma participação minoritária na fabricante de fibras têxteis produzidas a partir de madeira Lenzing, um negócio de 230 milhões de euros (cerca de R$ 1,34 bilhão) que pode resultar na obtenção do controle da companhia austríaca pela brasileira até o final de 2028.

O negócio vai ser financiado com recursos próprios da Suzano, afirmou o diretor financeiro da companhia, Marcelo Bacci, citando "grande oportunidade" para o investimento da Suzano no setor têxtil em um momento de volta do crescimento da demanda no pós-pandemia e movimento de substituição de fontes fósseis usadas atualmente.

"Claramente temos uma oportunidade na esteira de produtos mais sustentáveis, ao longo dos anos, de que o mercado de fibras de origem florestal possa tomar parte do mercado de fibra fóssil", disse Bacci.

Uma mulher caminha em frente a um rolo de papel na fábrica da Suzano, em Suzano, interior de São Paulo, em 28 de setembro de 2023 - Xinhua/Rahel Patrasso

O executivo citou que o mercado têxtil movimenta por ano 120 milhões de toneladas por ano e que hoje é dominado pelo poliéster, uma fibra sintética derivada do petróleo. "O algodão tem um crescimento limitado e produtos com base em celulose [como os da Lezing] são 6% desse setor", disse o executivo, citando um mercado de sete milhões de toneladas por ano.

A Lenzing, enquanto isso, tem uma capacidade global de um milhão de toneladas de fibras têxteis (liocel, modal e viscose) por ano. E além da Europa a empresa tem instalações em países como Estados Unidos, Indonésia e Brasil.

No Brasil, a Lenzing mantém uma joint-venture com a Dexco na produção de celulose solúvel, matéria-prima que alimenta parte de suas operações têxteis.

Segundo Bacci, a compra da participação pela Suzano não altera os termos da joint-venture da Lenzing com a Dexco, chamada de LD Celulose e que entrou em operação em 2022. "Uma coisa não interfere na outra", disse o executivo.

Atualmente, a Suzano não produz celulose solúvel, mas no futuro a empresa poderá ser fornecedora da Lenzing, afirmou Bacci. "Não existe desafio tecnológico para produzirmos", disse o executivo, citando que atualmente a companhia austríaca é autossuficiente em celulose solúvel graças em parte à parceria com a Dexco, que tem capacidade para 500 mil toneladas por ano.

INTERNACIONALIZAÇÃO

O anúncio do negócio com a Lenzing ocorre em meio a discussões da Suzano para comprar a gigante global de embalagens de papelão International Paper. Bacci não comentou o assunto além de afirmar que a transação com a Lenzing é de tamanho pequeno para o porte da Suzano e não impede a companhia de "olhar outras coisas, outros caminhos de crescimento orgânico e inorgânico".

No final de maio, a Reuters publicou que a Suzano estaria negociando com seus assessores financeiros a possibilidade de melhorar sua oferta de US$ 15 bilhões (mais de R$ 81 bilhões) pela IP.

Bacci afirmou que, mais do que acelerar a internacionalização da Suzano, a compra dos 15% na Lenzing - que pode ser seguida por mais 15% até o final de 2018 por meio de uma opção de compra —o negócio representa "uma forma interessante de entrar no têxtil".

A Suzano olha para o mercado têxtil há anos. Antes do investimento na Lenzing, a companhia brasileira fez uma joint-venture com a finlandesa Spinnova que gerou uma fábrica piloto que entrou em operação no ano passado.

A Spinnova desenvolveu uma tecnologia para produção de fibras têxteis a partir de uma material chamado de nanocelulose que afirma não precisar de produtos químicos e lembra a forma como algodão doce é feito.

"Ainda está em fase pré-operacional, é um nicho pequeno que temos uma crença de longo prazo", disse Bacci sobre a Spinnova. "A Spinnova pode ser um ótimo complemento para a Lenzing, acrescentou.

"O objetivo da Suzano com a aquisição de participação minoritária na Lenzing é buscar conhecer profundamente, aprender e acompanhar o negócio da Lenzing antes de decidir pela aquisição do controle da companhia", afirmou a Suzano em fato relevante mais cedo.

Com a aquisição, a Suzano terá duas cadeiras no conselho de administração da Lenzing. Se exercer a opção de compra de 15% adicionais na Lenzing a Suzano poderá alterar o controle da empresa, afirmou a companhia brasileira.

Segundo a Suzano, as fibras da Lenzing são utilizadas em várias aplicações, incluindo roupas, têxteis para o lar, produtos de higiene e materiais não tecidos.

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