Descrição de chapéu Energia Limpa

Como consumir energia mais limpa em sua casa

Eficiência energética doméstica pode otimizar a produção de energia, diz especialista

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Jean Araújo
São Paulo

Consumir energia mais limpa não significa, necessariamente, ter uma casa que receba eletricidade de um sistema com menor poluição e impacto à natureza, como a energia solar ou a eólica. É o que afirma Rodolfo Gomes, diretor executivo da ONG International Energy Initiative (IEI). Segundo ele, "a energia mais limpa que existe é aquela que não é desperdiçada".

Segundo Gomes, reduzir o consumo energético nas residências provoca uma repercussão positiva em toda a cadeia de eletricidade, chegando até as usinas geradoras. Para compreender esse fenômeno, antes, é necessário conhecer o caminho da energia elétrica.

Subestação Itambé de distribuição de energia elétrica da Companhia Paulista de Força e Luz em Marília (SP)
Subestação Itambé de distribuição de energia elétrica da Companhia Paulista de Força e Luz em Marília (SP) - Alf Ribeiro/Alf Ribeiro/Fotoarena/Folhapress

No Brasil, a grande massa de energia é produzida em usinas espalhadas pelo território nacional. Após a geração, as linhas de distribuição transportam a carga elétrica para as distribuidoras locais, que abastecem a região que atendem. Esse sistema se chama Geração Centralizada de Energia e permite que o país esteja interligado.

Há benefícios no modelo. Por exemplo, se uma usina não consegue produzir energia suficiente em um determinado período, como hidroelétricas em época de estiagem severa, o abastecimento daquela área pode ser feito por outra usina, de outro local do Brasil.

Entretanto, no transporte de eletricidade há perdas naturais no caminho. Rodolfo diz que, para uma residência receber 80 KWh (quilowatt-hora), é necessário produzir 100 KWh, pois entre 18% e 20% da energia é perdida no transporte da usina até as residências.

Esse extravio é natural: os sistemas condutores tendem a dissipar parte dos elétrons durante o percurso. Porém, é possível diminuir o prejuízo com ações no espaço doméstico.

A eficiência energética começa dentro de casa

O primeiro passo para a eficiência energética é pensar em tecnologias e como otimizar o quanto elas consomem eletricidade para funcionar.

Uma lamparina movida a um combustível como o óleo ou o querosene cumpre o seu papel, o de iluminar. Entretanto, uma lâmpada moderna, a depender da tecnologia, consumirá menos energia e iluminará melhor o ambiente.

Quando o serviço energético é ineficiente e consome demasiadamente energia para cumprir sua função, mesmo que a fonte tenha baixíssimas taxas de poluição, haverá um desperdício de recursos. "Precisamos de um serviço energético que seja menos poluente, caiba no bolso, dure e seja de qualidade", afirma o especialista.

A tecnologia empregada nos equipamentos tem potencial de transformá-los em mais eficazes, ou seja, consumir menos energia e entregar a mesma ou superior qualidade de serviço desejado.

Por exemplo, compara Gomes, uma lâmpada fluorescente compacta consome duas vezes mais eletricidade para produzir a mesma quantidade de luz que uma lâmpada LED. Ao optar pelo uso das lâmpadas LED, o consumo de energia será menor, sem perda de conforto.

Como escolher eletrônicos com maior eficiência energética para a casa

A Etiqueta Nacional de Conservação de Energia (ENCE) é uma das principais aliadas na hora de comprar um novo aparelho. É um sistema comparativo, ou seja, ele classifica os dispositivos iguais, com as mesmas capacidades e qualificações.

No ENCE, é possível observar bandeiras representadas por letras e faixas coloridas, sendo ‘A’ o aparelho com melhor eficiência energética e as letras seguintes, em progressão, com menor eficiência.

Ao escolher um novo equipamento, prefira os com maior classificação, os pertencentes à letra ‘A’.

Se tiver em dúvida entre opções na mesma classe, observe as descrições no selo e veja qual precisa de menos KWh para funcionar. Nesse caso, certifique-se de que a comparação seja feita entre iguais, por exemplo, uma geladeira de 500 litros tem mais espaço para refrigerar que uma geladeira de 300 litros, logo a de 500 consumirá mais energia e não pode ser comparada com a de 300.

Etiquetas antigas também não são comparáveis com modelos atuais, pois o sistema foi pensado para que periodicamente haja revisões a fim de diminuir os parâmetros do que é ser ‘A’.

Sendo assim, o que era considerado como um aparelho com alta eficiência energética no passado, com o tempo tende a ser rebaixado com o propósito de estimular a indústria a sempre produzir eletrônicos melhores.

Também é importante atentar-se ao objetivo e às especificações dos aparelhos. Alessandra Mathyas, analista de conservação do WWF-Brasil explica que o ar-condicionado hoje é um grande vilão no consumo de energia. Ao instalar um novo aparelho no cômodo é necessário analisar se o dispositivo é compatível com a dimensão do local.

A especialista ressalta que aparelhos de ar-condicionado split são mais eficientes, pois não apresentam picos de energia e mantêm o ambiente em uma temperatura linear. Porém, caso não seja possível investir em um novo eletrodoméstico, há soluções de como diminuir o consumo de energia doméstica com boas práticas de uso.

Como diminuir o consumo de energia doméstica

"Usar a energia de forma adequada não é racionar, mas usá-la de maneira consciente", afirma Mathyas. Algumas atitudes que os especialistas apontam para diminuir o desperdício são:

Verifique a fiação da residência

O sistema elétrico de uma casa, quando feito de maneira inadequada, pode causar problemas de segurança e dissipação da energia.

Fios de baixa qualidade, deterioração pelo tempo ou má instalação são alguns exemplos que podem sobrecarregar o sistema.

Um alerta a ser considerado é quando o disjuntor da casa cai com frequência ou sempre que se tenta usar determinado eletrodoméstico.

Oscilações na iluminação ou nos eletrônicos ao ligar outro dispositivo também são sinais de possíveis problemas na rede.

Um sistema elétrico funcional, instalado adequadamente e que suporte a capacidade dos aparelhos da casa ajuda a reduzir o desperdício e os gastos com energia.

Utilize os eletrodomésticos de maneira eficaz

Alguns aparelhos, como ar-condicionado, geladeira e chuveiro elétrico consomem bastante energia no dia a dia. Certifique-se de que os equipamentos estejam instalados corretamente e sempre faça manutenção preventiva (os manuais costumam trazer instruções sobre isso).

Algumas ações específicas de uso para diminuir o consumo de eletricidade são:

Ar-condicionado

Considerado um agente de alto consumo energético, principalmente com as altas temperaturas no Brasil, um aparelho de ar-condicionado é um dos grandes vilões domésticos quando se fala de consumo de energia.

Para fazê-lo trabalhar menos, ao ligá-lo, feche as portas e janelas do ambiente para não haver entrada de calor exterior.

Programe a temperatura desejada para o cômodo fique, não uma mais baixa para poder resfriá-lo mais rápido, pois essa prática irá consumir mais energia do que o necessário.

Na hora de dormir, após o ambiente estar refrigerado, opte por desligar o aparelho e usar um ventilador apenas para circular o ar que já está na temperatura desejada.

Geladeiras e outros refrigeradores

Geladeiras e refrigeradores possuem uma borracha de vedação na porta a fim garantir uma barreira entre o interior e o exterior do aparelho. Ela impede que o calor exterior entre na geladeira e que o ar resfriado interno saia.

Com o tempo, a borracha pode perder essa capacidade de vedação, e isso aumenta o consumo de energia, já que o ar frio da geladeira escapa e o ar exterior pode entrar.

Um possível teste é fechar a porta do refrigerador com uma folha sulfite em meio à porta e tentar tirá-la puxando; se ela sair facilmente, a borracha precisa ser trocada pois há possíveis brechas na vedação.

Também é importante manter a geladeira em um local fresco e longe do sol a fim de não superaquecer e precisar de mais energia para resfriar o interior.

Pelo mesmo motivo, é preciso uma distância de ao menos dez centímetros da parede. Refrigeradores liberam o calor pela parte de trás do aparelho e se estiverem próximos à parede, isso pode dificultar a circulação de ar.

Chuveiros elétricos

Enquanto o ar-condicionado é o vilão energético no verão, o chuveiro elétrico é considerado o do inverno.

Para utilizá-lo de maneira eficaz, certifique-se que a temperatura (inverno, verão, desligado ou outros) esteja na posição correta. Por exemplo: se estiver calor, não escolha abrir mais o registro para cair mais água e consequentemente a temperatura dela baixar, mude a seletor de temperatura para verão ou desligado.

Além disso, sempre feche o chuveiro enquanto estiver se ensaboando ou lavando a cabeça.

Uma alternativa é trocar o chuveiro por modelos mais recentes e com maior eficiência energética. Para isso, sempre observe a ENCE e a quantidade de energia de que o aparelho precisa para funcionar.

Chuveiros com maior variedade de temperatura também podem ser aliados na diminuição do consumo de energia, pois o número maior de opções facilita a obtenção de uma temperatura ideal para a estação, sem ser preciso aquecê-la mais que o necessário.

Porém essa variedade de escolha não necessariamente significa maior eficiência energética. O que ela garante é um uso mais racional e, consequentemente, economia de eletricidade.

Gomes também sugere como alternativa um chuveiro com aquecimento solar de água, que pode economizar entre 70% a 80% de energia, se bem dimensionado.

O especialista explica que essa tecnologia usa coletores solares de aquecimento para esquentar a água por meio da radiação, algo semelhante ao que ocorre com um interior de um carro exposto ao sol (um efeito estufa).

Essa mecânica é diferente do que ocorre com paineis solares fotovoltaicos, que transformam a luz solar em eletricidade.

Lâmpadas

Lâmpadas são usadas em todos os momentos e locais da casa, até mesmo em períodos diurnos —quando o cômodo é mais escuro ou é necessário de mais claridade para o ambiente.

Para economizar a quantidade de energia que elas consomem e aumentar a vida útil desses aparelhos, opte por usar ao máximo a luz solar para iluminar a casa e apague a lâmpada quando deixar um cômodo.

Em ambientes externos em que há necessidade de iluminação noturna, utilize um temporizador para desligar e ligar a lâmpada automaticamente. Ao fazer isso, é possível evitar que ela fique acesa mais tempo que o necessário. Sempre prefira lâmpadas com maior eficiência energética.

Atualmente, há três tecnologias mais conhecidas para o uso doméstico: LED, fluorescente e incandescente.

No Brasil, a venda de lâmpadas incandescentes é proibida, por sua baixa eficiência energética. Caso você ainda tenha uma dessas lâmpadas, opte por trocá-las.

Em comparação, se uma lâmpada incandescente usa 35W (watts) para funcionar, a fluorescente usa 10W para entregar a mesma iluminação e uma LED, 4,9W.

Celulares, computadores e outros eletrônicos

Diversos eletrônicos possuem a função stand by, um meio de o equipamento ficar ligado, porém adormecido, suspenso, consumindo menos energia e pronto para voltar a funcionar quando desejado.

"Individualmente consomem pouco, mas somados podem fazer uma diferença", diz Gomes, que complementa com outras dicas:

  • Desligue aparelhos como TV a cabo e microondas quando não os estiver usando e retire o plugue da tomada

  • Caso vá ficar um longo período sem usar o computador e seja possível, também desligue-o e tire o plugue da tomada. Se for deixá-lo em stand by, "hibernar gasta menos energia do que suspender".

  • Também retire os celulares da tomada após carregados. Mesmo que seja pouco, a depender da tecnologia, eles podem continuar carregando e além de continuarem a consumir energia, isso pode ser prejudicial para a bateria do dispositivo

Observe que há aparelhos que, mesmo desligados, continuam aquecendo quando estão na tomada ou suspensos. Isso é um sinal de perda de energia, dissipando-a em forma de calor. Para esses e outros eletrônicos, sempre siga as orientações da fabricante.

Para esses e outros aparelhos sempre siga as orientações da fabricante e mantenha-os em uma tomada única, evitando o uso de extensões, benjamins e os chamados "Ts".

Secadora de roupas e ferro de passar

Secadoras de roupas consomem muito menos energia quando funcionam em 220V, em vez de em 110V. Caso tenha essa opção, prefira o equipamento que pode ser ligado na voltagem maior.

Além disso, sempre que possível, opte pela secagem ao ar livre. Caso não tenha espaço para um varal de teto, existem varais de chão, que podem ser montados e desmontados sem prejudicar a circulação na residência.

No caso do ferro elétrico, haverá mais economia sempre que for possível acumular roupas para passar de uma só vez é uma boa opção também.

Alguns aparelhos também já possuem uma opção de "menos consumo energético". Se puder, opte por eles.

Os desdobramentos da eficiência energética doméstica nas usinas

O primeiro resultado aparente na troca de eletrodomésticos e outros aparelhos eletrônicos por opções com uma melhor eficiência energética é a queda no valor da conta de luz, consequência da diminuição do consumo.

Essa economia se estende à usina, pois se antes era necessário produzir 100 KWh para determinada família, agora esse valor será menor em decorrência da demanda também menor.

Rodolfo Gomes exemplifica o fenômeno com o seguinte caso: se uma lâmpada que consome em média de 5 KWh é substituída por outra que tem a mesma capacidade de iluminação e consome 3 KWh, há uma economia de 2 KWh pela ótica do consumidor.

Já pela ótica da usina, há uma economia de 2,5 KWh, pois antes a geradora precisava produzir 6,25 KWh de eletricidade para garantir que chegasse 5 KWh à casa; com a troca, a geradora passaria a produzir 3,75 KWh para esse caso.

Os cálculos foram feitos considerando que a usina precisa produzir 20% a mais de energia do que é demandado a fim de repor as perdas nas linhas de distribuição, que também são reduzidas. Na situação da primeira lâmpada, a evasão de eletricidade era de 1,25 KWh durante a transmissão; no caso da lâmpada com mais eficiência energética, o valor passaria a ser 0,75 KWh.

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