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Crise econômica levou Bolsa de SP a fechar as portas no final do século 19

Impacto da transição do Império para a República abalou os mercados da época

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São Paulo

Tendo se consolidado nos últimos anos como a principal plataforma de negociação de ações do Brasil, a Bolsa de Valores brasileira, a B3, que deve ganhar uma concorrente no Rio de Janeiro, não teve um começo fácil.

O primeiro projeto que viria a evoluir futuramente para a Bolsa como a conhecemos hoje surgiu no final do século 19, em 1890, quando Emílio Rangel Pestana reuniu negociadores autônomos de títulos para fundar a então Bolsa Livre de São Paulo.

Pouco mais de um ano depois, contudo, em 1891, a Bolsa teve de fechar as portas, na esteira de uma crise econômica que ficou conhecida como a Crise do Encilhamento. O termo foi emprestado das corridas de cavalos, em referência ao clima de balbúrdia em meio as apostas nos vencedores.

Primeira reunião da Bolsa de Fundos Públicos de São Paulo, em 1895
Primeira reunião da Bolsa de Fundos Públicos de São Paulo, em 1895 - Divulgação

Segundo Fábio Correa, pesquisador de história econômica, o Encilhamento foi resultado de um processo doloroso de transição entre a Monarquia e a República.

O historiador recorda que Rui Barbosa, primeiro ministro da Fazenda da República durante o governo provisório do Marechal Deodoro da Fonseca, adotou na época uma política de estímulo à industrialização da economia brasileira, que era baseada até então na agricultura.

Barbosa inverteu completamente a política econômica do Império, sancionando em 1890 a Lei das Sociedades Anônimas, que facilitou a criação de uma série de novas empresas.

"Rui Barbosa fez uma política econômica muito heterodoxa, quase como se fosse o equivalente a uma espécie de Plano Cruzado", diz Gustavo Franco, ex-presidente do BC (Banco Central) e sócio da Rio Bravo Investimentos.

Também foram adotadas medidas que buscavam aumentar o dinheiro em circulação no país para fazer frente à massa de assalariados que se avolumava na esteira do fim da escravidão e da chegada de imigrantes, concedendo aos bancos a prerrogativa de imprimir e colocar dinheiro em circulação no mercado.

"A revolução republicana, junto com a entrada de imigrantes e de capital estrangeiro, dava a sensação de um novo Brasil, de um Brasil modernizado", afirma.

Correa diz ainda que o estímulo econômico a qualquer custo proposto pelo governo criou as condições para que especuladores atuassem livremente no mercado, com uma série de companhias buscando a listagem na recém-criada Bolsa de São Paulo, sem que tivessem as mínimas condições para expandir as operações e remunerar os acionistas.

"Surgiram gatunos de toda espécie, com a listagem de empresas sabidamente fictícias somente para levantar os recursos dos investidores e que, logo depois, declaravam a falência", afirma o historiador.

Seguiu-se à inundação de empresas na Bolsa um processo inflacionário que acometeu o país como resultado da política de estímulos à emissão monetária, acompanhado de uma desvalorização cambial.

O cenário internacional, diz Franco, também contribuiu para a situação econômica adversa no país, com dificuldades financeiras do banco inglês Baring trazendo fortes impactos para a Argentina e contagiando os vizinhos da região, com uma consequente redução do fluxo de capital estrangeiro abundante nos anos anteriores.

"Em menos de três anos de vida, a República já tinha tido uma bolha especulativa que furou, uma crise bancária, uma maxidesvalorização, coisas muito contemporâneas", afirma o ex-BC. "A crise foi reflexo das dores das mudanças."

Alguns anos depois, em 1895, seria inaugurada a Bolsa de Fundos Públicos de São Paulo, em que os corretores eram nomeados pelo governo, que era o responsável por disciplinar as funções dos participantes de mercado, trazendo maior estabilidade às operações. Em 1935, ela passa a se chamar Bolsa Oficial de Valores de São Paulo, e, em 1966, recebe a denominação de Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa).

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