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Dólar cai e Bolsa renova máxima histórica com ata do Fed no radar

Mercado analisa sinalizações sobre os juros dos EUA, enquanto possibilidade de alta na Selic dita o tom na cena doméstica

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São Paulo

O dólar tinha queda nesta quarta-feira (21), com investidores repercutindo a ata da reunião de julho do Fed (Federal Reserve, o banco central dos EUA) e a revisão para baixo de dados de emprego no mercado norte-americano.

Às 16h01, a moeda norte-americana caía 0,17%, a R$ 5,475 na venda. Ela chegou a virar para alta após a divulgação dos dados de emprego, mas voltou a cair com a ata do Fed, no meio da tarde.

Já a Bolsa renovava o recorde histórico mais uma vez, com alta de 0,43% aos 136.678 pontos. Na máxima da sessão, o Ibovespa chegou a tocar os 137 mil pontos.

Homem conta notas de dólares
Na terça-feira (20), o dólar fechou em alta de 1,33%, a R$ 5,4854, e a Bolsa subiu 0,22%, a 136.087 pontos, renovando o recorde alcançado na véspera - Dado Ruvic/Reuters

Os investidores digeriam a ata do Fed em busca de sinais sobre a trajetória dos juros dos Estados Unidos.

A minuta, divulgada às 15h (horário de Brasília), indicou que a grande maioria dos diretores de Política Monetária está inclinada a um corte na taxa a partir da próxima reunião, marcada para setembro, "se os dados permanecerem dentro do esperado".

Vários deles inclusive se mostraram dispostos a um corte na própria reunião de julho, cuja resolução foi por manter a taxa inalterada na faixa de 5,25% e 5,50%.

O documento ainda trouxe que "muitos" diretores consideraram a taxa restritiva, com argumentos de que, em meio a um resfriamento contínuo das pressões inflacionárias, nenhuma mudança nos juros poderia acentuar a desaceleração da economia.

"O Federal Reserve tem um mandato duplo, isto é, ele olha para a inflação e para o mercado de trabalho. Muitos dirigentes notaram que os riscos para a inflação diminuíram, enquanto os de desemprego aumentaram", afirma Camila Abdelmalack, economista chefe da Veedha Investimentos.

"Na prática, esses comentários são argumentos para o início do ciclo de flexibilização monetária por lá."

O Fed trabalha com a meta de inflação em 2%, e, nas últimas leituras, os indicadores têm mostrado uma desaceleração na alta de preços. Somado a isso, temores em relação ao estado do mercado de trabalho têm criado uma ansiedade adicional sobre o início do ciclo de afrouxamento monetário americano.

Dois dias após a última reunião do Fed, dados do payroll (folha de pagamento, em inglês) mostraram uma forte desaceleração na criação de empregos em julho, com a taxa de desemprego subindo para uma máxima pós-pandemia de 4,3%.

Isso instalou a percepção de que a maior economia do mundo estaria a caminho de uma recessão, desencadeando uma volatilidade intensa nas Bolsas globais e levando o dólar a máximas ante diversas moedas, inclusive o real.

Dados divulgados na esteira do payroll ajudaram a colocar panos quentes sobre os temores do mercado, como os pedidos semanais de auxílio-desemprego menores do que o esperado e vendas no varejo dentro das expectativas.

Nesta quarta, a revisão dos dados do mercado de trabalho dos últimos 12 meses até março mostrou que os EUA criaram bem menos vagas do que o divulgado anteriormente.

A estimativa para o total de empregos criados no período de abril de 2023 a março de 2024 foi reduzida em 818.000. Com isso, as autoridades do Fed poderão considerar que o mercado de trabalho foi mais brando do que se pensava anteriormente ao avaliarem o ritmo das reduções de juros.

"O mercado de trabalho tem sido, nas últimas semanas, o principal vetor para os próximos passos do Fed na condução da política monetária", afirma André Galhardo, consultor econômico da Remessa Online, plataforma de transferências internacionais.

"A revisão mostra que a economia dos Estados Unidos caminha para uma desaceleração, o que aumenta a possibilidade de que o Fed adote uma postura mais contundente na próxima reunião, em setembro."

A agenda de hoje, no entanto, é apenas um prelúdio para o que ainda está por vir nos próximos dias. Entre quinta e sábado, ocorre o encontro de autoridades de bancos centrais em Jackson Hole, no estado de Wyoming, nos EUA.

O evento mais aguardado é o discurso de Jerome Powell na sexta-feira. Os mercados dão como certo que o início do ciclo de afrouxamento será no mês que vem. A magnitude do corte, porém, divide opiniões: 61,5% dos investidores esperam redução de 0,25 ponto percentual e 38,5%, de 0,5 ponto, segundo a ferramenta CME FedWatch.

A expectativa é que, com o discurso de Powell, as projeções de corte tomem um rumo único.

O dólar costuma se depreciar à medida que o Fed reduz os juros. Em tese, a moeda americana se torna comparativamente menos atrativa em relação a outras divisas quando os rendimentos dos títulos ligados ao Tesouro dos EUA, chamados de treasuries, caem.

A mesma lógica se aplica à Bolsa brasileira e a outros mercados acionários. Quando há queda nos treasuries, considerados os ativos mais seguros do mundo, os investidores se voltam aos de maior risco. Isso explica, em grande parte, a atual disparada do Ibovespa.

Na cena doméstica, o mercado se voltava ao BC (Banco Central). O presidente da autarquia, Roberto Campos Neto, afirmou em entrevista que a decisão do Copom (Comitê de Política Monetária) da próxima reunião está indefinida.

"Há opiniões divergentes no grupo sobre o balanço de riscos, se são simétricos ou não. A gente vai decidir no próximo Copom", disse.

Após a última reunião sinalizar a possibilidade de subir juros, o mercado passou a precificar uma alta de 0,5 ponto percentual na reunião de setembro. Com as falas de Campos Neto, essa possibilidade fica mais incerta, dizem especialistas.

"Há dois fatores principais por trás da alta do dólar. O primeiro é externo, ligado a commodities agrícolas e ao petróleo, que se desvalorizam e impactam as divisas de países exportadores dessas matérias-primas. O segundo é interno, com o discurso de Campos Neto", diz Nicolas Borsoi, economista-chefe da Nova Futura Investimentos.

"Campos Neto deu um sinal de que o BC não está tão confortável com essa visão do mercado de que ele vai subir juros. Nos últimos dias ele e o [Gabriel] Galípolo meio que deram uma tirada de pé", afirma Borsoi.

Galípolo, diretor de política monetária do BC, enfatizou na segunda-feira (19) que a ata do Copom sinaliza que o comitê aguarda novos dados macroeconômicos para definir o futuro da Selic.

Na cena corporativa, a Vale amparava o Ibovespa com alta firme de 1,80%, acompanhando os futuros de minério de ferro na China. Petrobras rondava a estabilidade.

Entre as maiores altas, CVC disparava 21%, com a queda do dólar voltando a estimular o setor de viagens. Petz vinha em seguida, com 6,86%, ainda no embalo da fusão com a Cobasi.

Nas quedas, Natura liderava com 3% e Lojas Renner perdia 2,71%, em movimento de realização de lucros.

Na terça-feira (20), o dólar fechou em alta de 1,33%, a R$ 5,4854, e a Bolsa subiu 0,22%, a 136.087 pontos, renovando o recorde alcançado na véspera.

Com Reuters

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