Descrição de chapéu Itaú juros copom

Ciclo de alta de juros deveria ser rápido e com elevação maior no início, diz Itaú

Economista-chefe do banco afirma que preocupação com as contas públicas não é implicância do mercado

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São Paulo

O economista-chefe do Itaú Unibanco e ex-diretor do Banco Central, Mário Mesquita, disse nesta quarta-feira (11) que vê chance razoável de uma elevação da taxa de juros em um futuro não tão distante pelo Copom (Comitê de Política Monetária).

Apesar de o presidente da autarquia, Roberto Campos Neto, ter indicado recentemente que, se houver alta de juros, ela será gradual, Mesquita acredita que o próximo ciclo deveria ser rápido, ou seja, com uma alta maior já logo no início do ciclo.

"Se eu estivesse lá e resolvesse fazer um ciclo de alta, eu faria mais rápido e mais curto. Quer dizer, mais rápido. Se vai ser mais curto ou não, você vai descobrindo ao longo do processo", disse durante encontro com jornalistas na sede do Itaú BBA em São Paulo.

Retrato de Mário Mesquita, economista-chefe do Itaú Unibanco, em São Paulo
Retrato de Mário Mesquita, economista-chefe do Itaú Unibanco, em São Paulo - Zanone Fraissat - 31.out.2019/Folhapress

O Itaú ainda tem projeção de Selic no atual patamar de 10,50% até o fim do ano. No entanto, o banco em breve deve revisar suas previsões. Questionado sobre se a expectativa da instituição financeira mudou em relação à taxa básica de juros, Mesquita disse que não pode comentar.

Na última terça-feira, o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) divulgou os dados do IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) de agosto, que apresentou queda (deflação) de 0,02%, enquanto o mercado financeiro projetava uma leve alta de 0,01%.

O economista-chefe do Itaú disse que o mercado não está preocupado com a inflação deste ano, mas sim com a decolagem das expectativas para os preços. Quando as projeções sobem, a própria inflação costuma subir também, diz Mesquita.

Além disso, ele citou a taxa de câmbio atual, com o dólar cotado em torno de R$ 5,65. O economista disse acreditar que um câmbio ao redor de R$ 5,40 poderia sustentar a Selic no patamar atual até o fim do ano. Mas no valor em que está, torna a vida mais difícil do Banco Central, que "perde um pouco a liberdade" de atuação, segundo o economista.

Esse cenário se soma, segundo ele, a uma atividade econômica aquecida no Brasil, com o PIB (Produto Interno Bruto) caminhando mais perto dos 3% no fim do ano.

"Eu não acho que a ideia do Banco Central é colocar a economia em ambiente recessivo, mas é dar uma freada, dar uma desacelerada para a inflação se acomodar e, inclusive, estender a expansão que a gente vem tendo na economia", afirmou Mesquita.

O economista-chefe do Itaú também fez coro às dúvidas dos agentes do mercado em relação às contas públicas do Brasil. Segundo ele, a surpresa para cima com o PIB veio em boa parte por conta de gastos do governo, o que, dentro da realidade fiscal do país, não se mostra perene ao longo do tempo.

"A preocupação com o fiscal brasileiro não é implicância. A gente está fora da curva em relação até aos [países] emergentes", disse Mesquita sobre a dívida pública do país.

Segundo ele, o desempenho das contas públicas do Brasil logo após a pandemia foi melhor do que o de seus pares, mas após do fim do teto de gastos, que, para Mesquita, "começou a ser demolido em 2022", o diferencial da dívida em relação a outros países voltou a aumentar.

Agora, ele diz que o ritmo elevado de crescimento das despesas obrigatórias traz desafios para o limite de gastos do Orçamento.

Mesquita chamou atenção para o fato de que, apesar de o dólar estar claramente em um momento forte, o real está descolado na comparação com outras moedas pares, com um desempenho pior em relação à média dos emergentes. O economista lembrou que a própria equipe econômica considera a situação complicada e está trabalhando para mudar esse quadro, o que ainda não aconteceu.

Também presente no encontro, o economista Pedro Schneider, que trabalha com foco em análise das contas públicas no banco, comentou que a estratégia atual do governo de priorizar o ajuste fiscal pelo lado da receita, com algum controle mínimo dos gastos, coloca o Brasil em uma situação de remar e não sair do lugar.

Ele argumenta que o grosso das medidas de incremento de arrecadação atuais, como os dividendos extraordinários da Petrobras e do BNDES e a taxação dos fundos exclusivos e offshores, tem caráter pontual, o que traz dúvidas para o próximo ano.

"Como muita coisa é extraordinária, no ano que vem volta tudo de novo [as dificuldades de se cumprir a meta fiscal]. Então, se todo ano você tem que fazer um esforço enorme para entregar um resultado [déficit] perto de zero, sendo que o que estabiliza a dívida [pública] é um superávit de 1,5%, 2% [do PIB], a percepção é de que a gente 'rema, rema, rema' e não consegue gerar uma percepção de melhora", disse Schneider.

Para 2024, o economista vê chance de o governo conseguir cumprir sua meta fiscal, que é de zerar o déficit, com tolerância de 0,25% do PIB.

Mesmo com as dúvidas em relação à aprovação de medidas, como a incorporação de valores esquecidos em contas bancárias pelos brasileiros para compensar a desoneração da folha de pagamento de 17 setores da economia, Schneider ainda assim está otimista.

Ele disse ver o governo brigando para conseguir aumentar a arrecadação por meio da aprovação de medidas de receitas extraordinárias. Além disso, o fato de a atividade econômica vir surpreendendo para cima também é positivo para as contas públicas, segundo o economista.

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